Sáude Mental

Saúde

Pobreza eleva em 3 vezes risco de surgimento de ansiedade e depressão

Insegurança financeira e jornadas exaustivas são alguns dos fatores

Um relatório das Nações Unidas aponta que pessoas em situação de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. É o que aponta o relatório “Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental”. Cerca de 11% da população mundial sofre com algum transtorno mental. 

De acordo com o relator especial da Organização das Nações Unidas e autor do relatório, Olivier De Schutter, esse cenário está relacionado à obsessão pelo crescimento da economia e busca de riqueza, levando as pessoas a se submeterem a jornadas exaustivas de trabalho e condições de trabalho precárias.

“Quanto mais desigual é uma sociedade, mais as pessoas da classe média temem cair na pobreza e com isso desenvolvem quadros de estresse, depressão e ansiedade”, afirmou o relator.

Jornada de 24 horas por dia 

Segundo o relator, o principal fator de risco é jornada de 24 horas por dia, 7 dias por semana, quando o trabalhador fica disponível sob demanda, e cita como exemplos os trabalhadores de aplicativos e plataformas digitais

De Schutter afirma que essa lógica “resulta em horários muito variáveis de trabalho, o que torna muito difícil manter um equilíbrio adequado entre a vida familiar e a vida profissional”. A incerteza quanto ao horário de trabalho e quantidade de horas a trabalhar tornam-se grandes motivadores de depressão e ansiedade.

Outro fator gerador de transtornos é a ansiedade climática. Estudos apontam que inundações, secas extremas, temporais destroem as fontes de renda da população, provocando insegurança financeira e ansiedade.

Ações 

O estudo propõe que os governos adotem medidas que reduzam as desigualdades e inseguranças, como políticas de renda básica universal (valor mínimo a que todos teriam direito para afastar a ameaça da pobreza), apoio a economia social e solidária e alterações do mundo do trabalho.

O relator informou que organizações não governamentais, sindicatos, movimentos sociais e acadêmicos trabalham na apresentação de alternativas ao crescimento econômico em consonância com a erradicação da pobreza, previstas para serem apresentadas em 2025.

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Saúde

Excesso de telas também afeta saúde mental de adultos; veja sinais de alerta

Evidências sugerem aumento do risco de sintomas depressivos e ansiosos; estudo compara o uso das redes sociais aos prejuízos causados pelo tabaco e o álcool

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Não faltam estudos sobre o impacto do excesso de telas nas crianças e nos adolescentes, mas isso não significa que os adultos estejam livres de danos. Embora as pesquisas ainda sejam escassas, há cada vez mais evidências dos prejuízos que esses dispositivos podem causar à saúde mental de pessoas de diversas faixas etárias.

Uma revisão publicada recentemente no periódico PLOS Global Public Health, por exemplo, coloca o uso de redes sociais ao lado do tabaco, do álcool e do hábito de jogar como fator de risco para sintomas depressivos, ideação suicida e autolesões. Termos como “brainrot”, que se refere a uma espécie de deterioração do cérebro por consumo de conteúdo inútil, ou “burnon” – uma exaustão por excesso de conectividade –, têm se tornado populares.

Isso porque o abuso de jogos, videogames, internet e, especialmente, das redes sociais, afeta as pessoas de várias formas. “Primeiro tem a questão do culto da beleza, da vida perfeita, então há um mecanismo comparativo em que parece que a vida do outro é melhor, que ele está melhor financeiramente, fisicamente, e isso gera uma pressão tanto interna quanto social em busca da perfeição”, analisa o psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo o especialista, isso tem impactos diretos na saúde. “Essa busca por aprovação constante, de alcançar mais likes e seguidores, pode provocar ansiedade e sintomas depressivos”. Pior ainda se a pessoa já estiver vivendo um momento de estresse, podendo causar também sintomas como irritabilidade e insônia.

Além disso, há uma exposição a um volume enorme de informação. “Essa hiperconectividade gera um excesso. Não conseguimos lidar com tanta informação ao mesmo tempo e prestar atenção em tudo. As pessoas consomem cada vez mais conteúdo em menos tempo, são coisas que não prendem tanto a atenção, vídeos curtos, pouco texto, bordões para aprender rápido”, diz o especialista. Não à toa, há uma explosão de queixas de falta de atenção e memória, observa o psiquiatra.

O fato de passar horas consumindo conteúdos repetitivos, que não exigem muita atenção nem trazem aprendizados ou grandes desafios para o cérebro, pode até impactar o desenvolvimento cognitivo. Isso porque o córtex pré-frontal, região responsável pelas funções cognitivas superiores — como controle de impulsos e regulação emocional, resolução de problemas, atenção e tomada de decisão — amadurece até por volta dos 25 anos, e para isso precisa de bons estímulos.

E quanto mais tempo no mundo digital, menor a dedicação a outras atividades, como praticar esportes, ter contato com a natureza, investir nos relacionamentos e no autocuidado. “A pessoa acredita que está convivendo com outros, mas está num quarto sozinho e isso é deletério para o convívio social no geral, impacta os afetos, a capacidade de empatia, de lidar com situações do cotidiano”, diz Okuda.

O uso em excesso de telas também tem potencial viciante, pois, às vezes, elas são usadas como uma válvula de escape da vida real. Pode até parecer prazeroso ficar desconectado da realidade, mas esse prazer instantâneo e ficar esperando a “próxima missão do jogo” provoca liberação de dopamina como um “mecanismo de recompensa”, o que pode fazer o cérebro ficar viciado nessa sensação.

Sintomas para ficar atento

Se a pessoa não consegue controlar a frequência e a intensidade desses usos, significa que algo não vai bem. “É um problema quando isso acaba tendo prioridade sobre a própria vida offline, prejudicando o trabalho, os estudos, relacionamentos, mas muitas vezes isso só é percebido em estágios avançados, quando já há prejuízos à saúde física e mental”, alerta Okuda.

Como não é possível viver num mundo sem telas, é preciso encontrar um equilíbrio. E a receita não é muito complicada: o tempo gasto com elas não pode ser muito grande comparado ao dedicado a outros aspectos da vida, incluindo momentos de autoconhecimento.

“A gente deve pensar em uma forma de balancear nossa vida. Podemos usar [esses dispositivos], mas de um jeito parcimonioso, sem nos preocupar tanto com o que estamos postando, se estamos sendo bem-vistos ou comparados”, orienta Okuda. “Quanto menos isso nos consumir ou gastar nossa atenção, mais tempo teremos para voltar nosso foco, afetos e vontade a outras atividades e vivências do mundo real.”

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Governo Federal aumenta custeio anual da Rede de Atenção Psicossocial em R$ 383 milhões

Ministério da Saúde também vai habilitar 137 novos serviços de saúde mental. Além disso, com foco no público infanto-juvenil, hoje (10) e amanhã (11), a pasta promove evento internacional com em parceria com a OPAS

Nesta quinta-feira (10/10), Dia da Saúde Mental, o Ministério da Saúde anunciou novas medidas para expansão dos serviços: aumento R$ 383 milhões do orçamento para custeio anual dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Residências Terapêuticas, além da habilitação de 137 novos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) – apenas para o custeio dos novos serviços, serão repassados mais R$ 71 milhões em parcela única.

Além disso, com foco nos desafios enfrentados pelo público infanto-juvenil, o Ministério da Saúde promove hoje e amanhã o “Seminário Internacional: Saúde Mental, Redes e Desafios Atuais – Crianças, Adolescentes e Jovens”, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Expansão do acesso: mais serviços e mais orçamento para a saúde mental no SUS

O Governo Federal tem atuado para expandir o acesso da população a serviços de apoio psicossocial, com políticas pautadas nos direitos humanos e cuidado em liberdade. No ano passado, o Ministério da Saúde retomou a expansão da RAPS, que recebeu o primeiro reajuste desde 2016, com aumento de 26%.

Hoje, essa recomposição continua, com acréscimo de 383 milhões ao ano no orçamento, que serão direcionados para custeio dos CAPS e Residências Terapêuticas, cuja portaria está prevista para publicação na próxima semana. O anúncio foi realizado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, nas páginas oficiais da pasta nas redes sociais. “É uma importante medida para garantir a o cuidado de qualidade na rede pública do nosso Sistema Único de Saúde ”, reforçou a ministra.

Desde 2023, 426 novos pontos de atenção já haviam sido habilitados, o que representou um acréscimo de R$ 500 milhões anuais incorporados ao teto da média e alta complexidade somente para a saúde mental . Além desse aumento, em portaria programada para a próxima semana, serão habilitados 63 novos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), 25 leitos de saúde mental, 52 Residências Terapêuticas (SRT), 4 Unidades de Acolhimento para adultos e para o público Infanto-Juvenil. Para esses novos pontos de cuidado, está previsto um valor anual de R$ 69,4 milhões.

Evento internacional reúne especialistas para discussão sobre saúde mental infanto-juvenil

Para ampliar a discussão cuidado e promoção da saúde mental infanto-juvenil, o Departamento de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas reuniu especialistas, gestores e profissionais de saúde para discutir experiências e práticas intersetoriais voltadas ao cuidado e apoio psicossocial voltado a crianças, adolescentes e jovens. Com palestras de especialistas de diversos países da América Latina, o evento vai até esta sexta-feira (11), com realização na sede da Opas em Brasília. Conta com transmissão virtual em espanhol português .

Durante a abertura, a diretora do Departamento de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas (Desmad) do Ministério da Saúde, Sônia Barros, reforçou que uma das plataformas em que se apoia esse seminário é a garantia de direitos, especialmente a não discriminação, valorização do melhor interesse da criança, direito à vida e ao desenvolvimento, e direito de ser ouvida. Esses são os quatro princípios que compõem a Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificado por 196 países, incluindo o Brasil.

Segundo a diretora, a Convenção “deve orientar nossas práticas profissionais, onde quer que nós estejamos, seja nas práticas intersetoriais, no sistema de justiça, na escola, na comunidade, nos processos de desinstitucionalização, na defesa dos seus direitos humanos, no apoio ao seu protagonismo, em cenários de violência, em contexto de uso de drogas, frente as barreiras encontradas por aqueles com espectro autista e, em outras situações que são mais ou menos adversas”, reforçou. Adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança é considerada, pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), como o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal.

Saiba mais sobre os avanços para promover o cuidado psicossocial entre crianças, adolescentes e jovens

Para 2024, projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam uma população de aproximadamente 59 milhões de pessoas na faixa etária entre 0 e 19 anos. Em 2002, o Ministério da Saúde instituiu, no Sistema Único de Saúde (SUS) Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) voltados para a infância, o que é considerada a inauguração do campo assistencial público para crianças e adolescentes com agravos severos na saúde mental.

Atualmente, existem 314 Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi), com atendimento em todas as regiões e prioridade para crianças e jovens que apresentam transtornos mentais graves e persistentes presentes. Vinculadas a esses estabelecimentos, existem 27 Unidades de Acolhimento voltadas para o público infanto-juvenil, que promovem cuidado, apoio e abrigo. Em 2023, essa rede foi expandida, com habilitação de 28 novas unidades e previsão de 72 duas novas unidades. Com o Programa de Aceleração do Crescimento, o Novo PAC , 55 outras unidades estão previstas para construção.

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Saúde

USP: Setembro Amarelo busca abrir espaço para o diálogo sobre o sofrimento mental

Sofrimento normalmente fica escondido com o paciente e é percebido pelo especialista indiretamente, através de relatos sobre outras questões pessoais / Foto: USP

Ideia do movimento é fazer com que as pessoas se sintam à vontade para se comunicar sobre suas questões e receber ajuda, ressalta especialista

Agência SP

“Se precisar, peça ajuda!”, este é o tema da campanha Setembro Amarelo de 2024. A iniciativa busca, mais uma vez, mobilizar a sociedade na luta contra o suicídio, que continua a ser uma das principais causas de morte evitáveis no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é uma questão de saúde pública global, com mais de 700 mil mortes por ano, número que pode ultrapassar 1 milhão, segundo estimativas, levando em consideração as subnotificações. O mês é escolhido para a campanha anual porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Alan Campos Luciano, psiquiatra e pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, esclarece o tema.

O Setembro Amarelo tem a função de desestigmatizar as questões em torno do tema da saúde mental.

“A pessoa que está sofrendo tem muita dificuldade de expor esse sofrimento ainda nos dias de hoje por esse estigma, por crenças pessoais, de que não deveria estar sentindo isso. A ideia do movimento em setembro é fazer com que as pessoas sintam confiança na sociedade e se sintam à vontade para se comunicar sobre suas questões e daí conseguir ter a chance de receber ajuda”, afirma.

Canal de comunicação

O pesquisador explica que o sofrimento normalmente fica escondido com o paciente e é percebido pelo especialista indiretamente, através de relatos sobre outras questões pessoais.

“Normalmente é mais comum isso ficar velado, o pedido de ajuda vem para quadros de depressão, de tristeza, de angústia, perda de sentido, de vontade de viver, e por isso é importante inclusive para os profissionais de saúde sempre estarem atentos aos sinais. É importante construir um canal de comunicação para abrir o tema, conseguir falar sobre isso, investigar e a partir daí ajudar o paciente. Vale lembrar também que, em algumas situações, principalmente nos mais jovens, às vezes é menos explícito ainda, ou seja, vale a pena a gente ficar atento para alterações de comportamento, para isolamento, retraimento social, diminuição de atividades, tudo isso pode ser sinal de alerta para algum tipo de sofrimento que pode ser associado a uma ideia de suicídio”, alerta.

Um dos mitos sociais difundidos no cenário brasileiro é o de que “quem fala não faz”, uma crença que supõe que as pessoas que denunciam seu sofrimento e expõem sua não vontade de viver querem apenas chamar atenção e não representam nenhum perigo real contra a própria vida. O professor contesta esse pensamento.

“Infelizmente, é muito comum a recidiva, ou seja, as tentativas de suicídio após a primeira vez. E, mais do que isso, o maior preditor de suicídio é a tentativa prévia. Existe um mito na nossa sociedade de que “quem fala não faz” ou não vai fazer de novo. Temos que desmistificar essa crença e ficar muito atentos, porque infelizmente o que acontece é que o risco vai aumentando conforme as novas tentativas acontecem, infelizmente, ainda mais se mal conduzido e se não há um suporte adequado”, comenta.

O professor aponta que é necessário enfatizar os cuidados voltados para os jovens que, atualmente, são o grupo mais afetado pelo sofrimento mental. Segundo dados da Fiocruz, a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% por ano no Brasil entre 2011 a 2022, enquanto as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período.

“Os jovens fazem parte de uma situação muito específica, inclusive porque o suicídio nessa população acaba sendo a terceira causa de morte mais recorrente. Vivemos um momento em que algumas questões sociais são muito potencializadas pela tecnologia. Além disso, o jovem tem menos recursos emocionais, tem menos recursos de comunicação, por isso é importante que os parentes fiquem atentos e sempre tentem estimular uma conduta aberta de comunicação, de falar sobre o que pode estar incomodando, e no sinal de qualquer alteração comportamental, de qualquer evidência de sofrimento, novamente procurar ajuda profissional”, conclui.

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Saúde

Como um tratamento individualizado pode ajudar contra a depressão?

Estudo nos EUA analisou circuitos cerebrais de 800 pessoas e identificou seis subtipos diferentes da doença com respostas distintas ao tratamento

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Fazer o diagnóstico correto de depressão é essencial para a condução adequada do tratamento. Embora o mais comum seja o transtorno depressivo maior, há outros tipos de depressão, cada um com sua especificidade. Um estudo publicado em junho na revista científica Nature Medicine elencou seis subtipos de depressão e ansiedade, baseados em imagens de ressonância magnética e inteligência artificial. Segundo os autores, o achado poderá ser útil para auxiliar no diagnóstico e prever o melhor tratamento para cada subtipo da doença.

Participaram da pesquisa 801 pessoas diagnosticadas com depressão ou ansiedade. Elas foram submetidas a uma ressonância magnética funcional – um exame bem específico para análise da ativação de áreas das estruturas cerebrais, que não é usado na rotina da psiquiatria. Os voluntários tiveram sua atividade cerebral avaliada em repouso e durante exercícios para análises cognitivas e funcionais. Eles foram comparados com 137 pessoas saudáveis (grupo controle).

Os autores se concentraram em avaliar imagens de regiões específicas do cérebro, conhecidas por desempenhar algum papel na depressão. Com ajuda de inteligência artificial, eles conseguiram mapear seis padrões distintos de atividades cerebrais nessas áreas.

Em seguida, 250 participantes aleatórios receberam um dos três antidepressivos mais comuns no tratamento da doença: escitalopram, sertralina e venlafaxina, ou foram encaminhados para a terapia cognitivo comportamental (TCC), psicoterapia que leva em consideração diversos aspectos do paciente e como ele reage a determinadas situações. Os autores queriam verificar se havia mudança na resposta ao tratamento de acordo com o subtipo da depressão baseado nas atividades cerebrais.

Eles não só constataram que sim, mas também que as diferenças dos subtipos se correlacionavam com os diversos sintomas relatados pelos voluntários. “Esse estudo pretende trazer uma diferenciação um pouco mais específica, mais minuciosa, para auxiliar no diagnóstico da depressão. Ele tenta trazer mais especificidades para o transtorno depressivo que hoje chamamos de ‘maior’”, analisa o psiquiatra Daniel Oliva, da Gerência de Bem-Estar e Saúde Mental do Hospital Israelita Albert Einstein. “A partir do momento que temos essas especificações baseada nas características, conseguimos oferecer um tratamento mais certeiro para os pacientes.”

Como é feito o diagnóstico?

A depressão é um problema que afeta cerca de 320 milhões de pessoas no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), e seu diagnóstico é essencialmente clínico. O DSM-5 (Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais), principal guia de diagnósticos psiquiátricos, classifica os transtornos depressivos em seis tipos: transtorno depressivo maior, que tem outras especificidades de acordo com a apresentação; persistente ou distimia; disruptivo de desregulação do humor; disfórico pré-menstrual; induzido por substância/medicação ou transtorno devido a outra condição médica.

 “Hoje em dia, para diagnosticarmos o transtorno depressivo, fazemos uma análise da biografia do indivíduo, dos sintomas relatados, das características psicológicas, do histórico familiar e do perfil genético. Vários fatores são avaliados para entendermos qual o transtorno psiquiátrico em si. A apresentação e a combinação de cada um desses itens vão guiar nosso diagnóstico para indicarmos o melhor tratamento”, explica Oliva.

Cerca de 30% dos pacientes são resistentes ao tratamento, ou seja, não conseguem melhorar os sintomas mesmo depois de ao menos duas tentativas de trocas de medicamentos. E, para até dois terços das pessoas com depressão, o tratamento não consegue reverter totalmente os sintomas para os níveis considerados saudáveis.

O método de escolha terapêutica hoje em dia é baseado em tentativa e erro, o que pode levar meses até chegar num medicamento eficaz – daí a importância do diagnóstico correto e individualizado. Mas, segundo Oliva, já existem alguns testes farmacogenéticos que avaliam como o metabolismo do paciente se relaciona com as medicações, auxiliando os médicos na prática clínica sobre quais medicações seguir com determinado indivíduo.

“Ainda é o método de tentativa e erro, mas não é uma batalha naval baseada na sorte, onde escolhemos qualquer medicação. Além do que temos de evidência científica para cada tipo de transtorno e da experiência clínica dos profissionais, existem diferentes testes, com diferentes graus de confiabilidade, que já nos orientam para um determinado caminho. A proposta desse estudo é oferecer uma sofisticação ainda maior para isso, identificando subtipos de depressão com base nos circuitos cerebrais ativados”, afirma o psiquiatra.

Na avaliação dele, é fundamental que a medicina consiga apontar qual o circuito cerebral afetado na doença para entender melhor o diagnóstico, o tratamento e até o prognóstico da depressão – ou seja, o que esperar de cada subtipo. “É uma visão que vai se aperfeiçoando para entendermos e conduzirmos melhor o paciente. Lembrando que isso ainda é um estudo, não é uma designação, mas cada vez mais vamos fechando o círculo em torno dos melhores agentes terapêuticos que podem ajudar no tratamento da depressão”, finaliza Oliva.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Solidão aumenta o risco de a pessoa adoecer e morrer 

As taxas de mortalidade e de doenças cardiovasculares, entre outras, são mais altas em quem tem menos contatos sociais; a OMS destaca o tema como uma prioridade global 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A solidão vem deixando de ser vista como um problema pessoal para se tornar uma questão de saúde pública. Cada vez mais pesquisas mostram que a falta de conexões sociais está associada a diversas doenças e vem sendo considerada um fator de risco comparável aos danos do fumo e da obesidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o isolamento social está se tornando uma verdadeira epidemia, afetando um em cada quatro adultos e algo entre 5 e 15% dos jovens em todos os países.

Ainda segundo a OMS, a solidão é capaz de aumentar em 25% o risco de morte, em 50% o de demência e 30% o de doença cardiovascular. Não à toa, a OMS acaba de criar uma Comissão de Conexões Sociais com o objetivo de reconhecer o tema como uma prioridade global e propor soluções.

Vários estudos já sugerem o impacto da solidão na saúde, mas o assunto ganhou mais visibilidade após a publicação de um artigo mostrando pela primeira vez que o fenômeno atinge jovens e idosos em todo o planeta, dos países ricos aos mais pobres, em zonas rurais e urbanas. A falta de contato com familiares ou de participação em atividades em grupo, entre outros fatores, foi associada ao aumento da mortalidade, de doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e pneumonias.

No ano passado, uma megarrevisão de estudos, envolvendo mais de 1 milhão de pessoas e publicada no PLOS One, revelou o aumento de 33% de mortalidade por todas as causas em pessoas solitárias, dado reforçado por outro estudo, Journal of Aging and Health, com quase 8 mil idosos.

A solidão está associada a hábitos ruins 

Essas pesquisas sugerem que pessoas com pouco contato social apresentam mais comportamentos não saudáveis – por exemplo, fazem menos atividade física, se alimentam pior, consomem álcool e cigarro em excesso, acabam não tomando os medicamentos corretamente ou fazendo consultas de rotina. Além disso, há impacto na autoestima e maior risco de problemas mentais, como depressão e ansiedade.

“Esses estudos se basearam nas chamadas ‘blue zones’ (regiões no planeta em que há maior número de idosos centenários), já que nesses locais a interação social é muito relevante e contribui para longevidade dos idosos”, conta a geriatra Maysa Seabra Cendoroglo, do Hospital Israelita Albert Einstein e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Esses idosos, por exemplo, tinham grupos com responsabilidades sobre amigos e colegas, formando uma rede. 

Nesse sentido, os países ricos estão conseguindo criar mais políticas públicas para enfrentar o problema. É o caso de iniciativas como a campanha pelo fim da solidão lançada na Inglaterra, que também tem um ministério dedicado ao tema, e a cidade de Barcelona, que tem um plano com estratégias bem definidas para os próximos anos.

“O Brasil envelheceu e só agora estamos nos dando conta disso. Infelizmente ainda há restrições à participação do idoso na sociedade e o país não pode mais se esconder na sua fama de acolhedor, já que os estudos mostram que a solidão é um problema por aqui também”, diz a especialista. “Esse cenário só vai mudar quando os mais velhos puderem se inserir mais e participar em diversos trabalhos e atividades.”

Solidão x isolamento social 

Embora sejam parecidos, eles não são a mesma coisa. A pessoa pode se sentir sozinha mesmo estando rodeada de gente – os cientistas atestam que tanto o sentimento de solidão quanto o próprio isolamento social adoecem.

“A solidão é inerente ao ser humano, mas ela se acentua quando a pessoa não encontra no seu contexto nada significativo ou pessoas que reflitam seus valores”, diz a geriatra do Einstein. “Quanto mais interações sociais, menos solidão. Quanto mais a pessoa se arrisca, maior a chance de encontrar afinidades e de se sentir acolhido. Isso deve ser um estímulo para novas oportunidades.” 

Nem sempre se pode contar com a família por perto, mas sempre é possível fazer novos contatos e amizades. Por isso, recomenda-se participar de programas de comunidades religiosas, centros esportivos, associações de bairro e de unidades que ofereçam atividades para esse público – e até trabalhos voluntários, por exemplo.

Também é preciso zelar pela qualidade das relações. Nesse sentido, as redes sociais, segundo a médica, podem tanto ajudar quanto atrapalhar. “Ao mesmo tempo que facilitam as conexões, é preciso atenção para não perder tempo interagindo ou se deixando afetar por opiniões de pessoas que não agregam nada à sua vida.”

Fonte: Agência Einstein  

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Saúde

Borderline: conheça o transtorno de personalidade com difícil diagnóstico que interfere nos relacionamentos

 

A condição nem sempre é facilmente diagnosticada, segundo especialistas; tratamento precisa ser personalizado, requer psicoterapia e uso de medicamentos.

 

Por Úrsula Neves, da Agência Einstein 

Mudanças frequentes de humor, impulsividade e instabilidade nas emoções e nos relacionamentos estão entre as características do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). A pessoa com esse diagnóstico geralmente apresenta uma hipersensibilidade em suas relações e um medo intenso de abandono.

“É um padrão de personalidade que se mostra diferente da maioria das pessoas de um modo geral. Esses indivíduos vivem relacionamentos intensos e instáveis com características impulsivas, rompantes ou oscilações de humor muito bruscas e intensas”, explica Ricardo Jonathan Feldman, que atua como psiquiatra e professor de pós-graduação e residência no Hospital Israelita Albert Einstein, além de ser fundador do Centro Feldman de Saúde.

“Com isso, surgem problemas de relacionamento interpessoais e de autoimagem. Basicamente, é uma alteração de como a pessoa lida com as adversidades, com o estresse, com ela mesma e com os outros”, complementa o psiquiatra.

Apesar de não existirem dados sobre a prevalência no Brasil, estima-se que entre 1,5% e 3% da população mundial sofra desse transtorno de personalidade, que afeta tanto homens quanto mulheres. Especialistas, no entanto, apontam que esse número pode estar subestimado, uma vez que muitos casos permanecem sem o diagnóstico correto.

Como é realizado o diagnóstico? 

O psiquiatra é o profissional médico que deve analisar o histórico e o padrão de funcionamento que acompanha a pessoa desde a adolescência até o momento atual, incluindo as suas vivências.

“Para conseguir o diagnóstico correto, é necessário que o psiquiatra crie um vínculo de confiança com o paciente para entender melhor todo o processo, suas emoções, medos e angústias. A entrevista com familiares e amigos próximos também pode ser incluída no processo, auxiliando na busca pelas informações necessárias para o diagnóstico”, diz Feldman.

É importante saber diferenciar os sintomas de Transtorno de Personalidade Borderline de sinais em decorrência dos efeitos de drogas ou mesmo problemas de identidade, comuns na infância ou adolescência.

“Para realizar o diagnóstico correto de Borderline, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais indica que o paciente deve apresentar, pelo menos, cinco de nove características apontadas. Isso é muito interessante porque se temos cinco itens a serem preenchidos, imagine só quantas combinações são possíveis. São 256 combinações possíveis, 256 tipos de pacientes diferentes com variações diferentes”, afirma o psiquiatra e psicoterapeuta Erlei Sassi Júnior, coordenador do Programa Transtornos de Personalidade e do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

“Temos uma quantidade enorme de pacientes que podem compartilhar o mesmo diagnóstico, mas também podem apresentar características potencialmente diferentes. Portanto, é muito importante que o profissional consiga enxergar cada pessoa e não apenas a doença”, diz Sassi Júnior.

Então, pacientes com TPB devem apresentar, no mínimo, cinco das nove características a seguir, conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais:

  1. Esforços desesperados para evitar algum episódio de abandono real ou imaginário;
  2. Padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos com alternância entre extremos de idealização e desvalorização da pessoa dentro do relacionamento;
  3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si;
  4. Impulsividade em, no mínimo, duas áreas potencialmente autodestrutivas, como gastos excessivos, sexo desprotegido, abuso de substâncias ilícitas, direção irresponsável no trânsito ou compulsão alimentar;
  5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou automutilantes;
  6. Instabilidade afetiva em decorrência a uma acentuada reatividade de humor;
  7. Sentimentos duradouros de vazio;
  8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la;
  9. Pensamentos paranoicos transitórios associados a episódios de estresse ou sintomas dissociativos intensos, como problemas de memória, identidade, emoção, percepção, comportamento e senso de si.

“Quanto mais cedo começar o tratamento, melhor para o paciente. A partir dos 14 anos já dá para identificar melhor os sintomas e investigar os possíveis fatores ambientais (relações, traumas, hábitos de vida, etc.) que possam estar contribuindo para o desequilíbrio das emoções”, complementa o psiquiatra e psicoterapeuta.

Principais características e sintomas

Um dos sintomas mais significativos do TPB é o medo intenso do abandono, abrindo espaço para sentimentos de pânico ou raiva que podem ser desencadeados por situações cotidianas normais, como um atraso na resposta de um amigo a uma mensagem, por exemplo. Ao se sentirem rejeitadas, essas pessoas reagem de forma intensa e, por vezes, agressiva.

A recorrência de comportamentos, gestos e ameaças suicidas ou automutilantes é também parte dos sintomas apresentados por pessoas com TPB. Outra característica é a forma dos relacionamentos, que tendem a ser instáveis e intensos, oscilando entre extremos de idealização e desvalorização. Em outras palavras, essas pessoas mudam rapidamente de opinião em relação aos outros.

“Mais um traço marcante é a mudança brusca da percepção de si mesmo e da própria identidade, o que leva a mudanças frequentes de objetivos, valores, opiniões, carreiras e até grupos de amigos. Muitas vezes, essas pessoas têm a sensação de estranhamento sobre si mesmos. Com muita frequência, relatam sentir um ‘vazio crônico’. Apresentam humor instável, oscilando entre irritabilidade, ansiedade, tristeza e alegria, com alterações que podem durar poucas horas ou até mesmo alguns dias”, afirma Feldman, do Einstein. Segundo ele, outra característica é a dificuldade em lidar com o próprio êxito, muitas vezes se autossabotando quando estão prestes a alcançar um objetivo.

Os especialistas pontuam que é difícil definir o início do transtorno, uma vez que o processo vai surgindo no decorrer do desenvolvimento da personalidade da pessoa.

“Em geral, os sintomas ficam mais visíveis na adolescência e no início da idade adulta, podendo até mesmo regredir nos indivíduos com mais idade, sempre contando com o valioso e indispensável recurso da psicoterapia”, diz Sassi Júnior.

Causas e fatores envolvidos 

As causas ou fatores envolvidos no surgimento do Borderline são variados, desde a predisposição genética a episódios estressantes na infância. “São muito recorrentes no histórico desses pacientes situações traumáticas, como abusos físicos, verbais e sexuais, com negligência por parte de pais e/ou cuidadores”, explica Feldman.

Episódios como a separação ou a morte de um dos pais, especialmente durante os primeiros anos de vida, ou o nascimento de um irmão ou irmã, podem servir como gatilhos emocionais. Embora, à primeira vista, essas separações e mudanças possam parecer insignificantes, elas têm efeitos profundos em indivíduos que já possuem alguma predisposição genética para o transtorno.

Tratamento, remissão e manejo dos sintomas 

Jerold J. Kreisman, psiquiatra e pesquisador, e Hal Straus, escritor e pesquisador, afirmam que, apesar do estigma e do desconhecimento geral, os avanços nas pesquisas, terapias e medicamentos indicam grandes chances de sucesso, seja na remissão dos sintomas ou no seu gerenciamento.

“Assim como não se reconhece um remédio único como melhor que os outros para tratar todos os pacientes de TPB, ainda não ficou demonstrado que alguma abordagem terapêutica seja a melhor para todos”, eles escrevem no livro “Eu te odeio, não me deixe: Como entender as pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline e aprender a se relacionar com elas”, em que são autores juntos.

“Embora a psicoterapia seja o principal tratamento reconhecido para o paciente borderline, a maioria dos métodos traçados contempla o uso de medicamentos. Apesar de ainda não existir um único remédio que trate todos os aspectos do TPB, a medicação é útil para amenizar os sintomas associados (como antidepressivos para depressão) e domar características voltadas contra si mesmo, como a impulsividade”, afirmam em um outro trecho.

Os especialistas afirmam que, atualmente, o prognóstico é mais positivo do que se pensava algumas décadas atrás, mas ainda não existe uma cura definitiva para todos os indivíduos com transtorno borderline. No entanto, eles agora reconhecem que, apesar de toda a instabilidade e sofrimento que essas pessoas causam a si mesmas e aos seus conhecidos, o curso do transtorno não é tão negativo como se pensava anteriormente.

“Eu diria que é totalmente possível conseguir ‘pequenas curas’ com a remissão dos sintomas. Já vi isso acontecer com alguns pacientes. Através do acompanhamento psicoterapêutico, o indivíduo com borderline aprende novas maneiras de lidar com suas emoções e situações, que antes eram sentidas como fim da vida”, conclui Sassi Júnior.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Ao menos 73% dos custos com demência estão com famílias, revela estudo

© Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Relatório mostra ainda que cuidadores estão sobrecarregados

Por Luiz Cláudio Ferreira – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Pelo menos 73% dos custos que envolvem o cuidado de pessoas com demência no Brasil ficam para as famílias dos pacientes. O número foi divulgado pelo Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (Renade), do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a partir da iniciativa do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). O estudo revelou que, além dos custos, as pessoas responsáveis pelos cuidados estão sobrecarregadas e que, na maior parte das vezes, são mulheres. 

O relatório mostra que esses custos podem chegar a 81,3% por parte do familiar a depender do estágio da demência.

“Isso envolve horas de dedicação para o cuidado. A pessoa, por exemplo, pode ter que parar de trabalhar para cuidar. Isso tudo envolve o que a gente chama de custo informal. É importante que se ofereça um apoio para a família”, afirmou a psiquiatra e epidemiologista Cleusa Ferri, pesquisadora e coordenadora do Projeto Renade no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em entrevista à Agência Brasil.

O relatório enumera custos diretos em saúde, como internações, consultas e medicamentos, e também os recursos indiretos, como a perda de produtividade da pessoa que é cuidadora.

“As atividades relacionadas ao cuidado e supervisão da pessoa com demência consomem uma média diária de 10 horas e 12 minutos”, aponta o relatório.

Olhar para o cuidador

A médica Cleusa Ferri avalia que é necessário aumentar o número de serviços de qualidade que atendam às necessidades da pessoa com demência e também dos parentes. “O familiar pode até ser um parceiro do cuidado. Mas precisamos também pensar nesse cuidador”.

Brasília (DF) 24/12/2023 – A psiquiatra e epidemiologista Cleusa Ferri, pesquisadora e coordenadora do Projeto Renade no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em entrevista à Agência Brasil. Foto: Cleusa Ferri/Arquivo Pessoal
Brasília (DF) 24/12/2023 – A psiquiatra e epidemiologista Cleusa Ferri, pesquisadora e coordenadora do Projeto Renade no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em entrevista à Agência Brasil. Foto: Cleusa Ferri/Arquivo Pessoal 

Para elaboração do estudo, os pesquisadores entrevistaram 140 pessoas com demência e cuidadores de todas as regiões do país, com média de idade de 81,3 anos sendo 69,3% mulheres. Os dados foram coletados com pessoas em diferentes fases da demência.

O relatório mostra, por exemplo, que entre os 140 cuidadores, pelo menos 45% das pessoas apresentavam sintomas psiquiátricos de ansiedade e depressão, 71,4% apresentavam sinais de sobrecarga relativa ao cuidado, 83,6% exerciam o cuidado de maneira informal e sem remuneração.

O estudo chama a atenção para que, dentro dessa amostra, 51,4% dos pacientes utilizaram, em algum momento, o serviço privado de saúde, 42% não utilizavam nenhum tipo de medicamento para demência. “Somente 15% retiravam a medicação gratuitamente no SUS”, disse a epidemiologista Cleusa Ferri.

O estudo aponta que a maioria das pessoas cuidadoras de familiares com algum tipo de demência são mulheres.

“Nessa amostra, temos 86% das cuidadoras sendo mulheres. Isso é um fato. Há uma cultura da mulher cuidar para o resto da vida. Entendo que é uma questão cultural.

Subdiagnósticos

De acordo com a pesquisadora, o Brasil contabiliza cerca de 2 milhões de pessoas com demência e 80% delas não estão diagnosticadas. “A taxa de subdiagnóstico é grande. Temos muitas pessoas sem diagnóstico e, portanto, sem cuidado específico para as necessidades que envolvem a doença. Então, esse é um desafio muito importante”, afirma a especialista. Ela cita que esse cenário não é exclusivo do Brasil.

Na Europa, o subdiagnóstico chega a ser de mais de 50% e na América do Norte, mais de 60%.

“No Brasil, temos 1,85 milhão de pessoas com a doença. E a projeção é que esse número triplique até 2050”.

A pesquisadora acrescenta que a invisibilidade da doença é outro desafio. “Temos muito para aumentar o conhecimento, deixar mais visível. A falta de conhecimento da população sobre essa condição precisa ser enfrentada”. Nesse contexto, a invisibilidade também ocorre diante das desigualdades sociais.

Em um cenário de 80% de pessoas sem diagnóstico, isso significa a necessidade de melhorar as políticas públicas para aumentar o conhecimento da população sobre a demência. “Há uma questão de estigma também. As pessoas evitam falar do tema e procurar ajuda”.

Essa situação, na avaliação da pesquisadora, também contribui para dificuldades para conscientização, treinamento de cuidadores e busca por apoio.

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Saúde

Síndrome de fim de ano? Saiba por que nos sentimos mais melancólicos em dezembro

O período de festas e de encerramento de mais um ciclo pode disparar sentimentos de ansiedade, exaustão, tristeza; estabelecer metas realistas para o próximo ano é importante

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Dezembro chegou. É neste período que muitas pessoas fazem uma espécie de “balanço geral” dos últimos 12 meses e percebem que praticamente metade dos planos e objetivos traçados não foram cumpridos. O fim de mais um ciclo, ao lado das tradicionais festas de fim de ano, pode desencadear sentimentos de ansiedade, melancolia e até quadros de depressão e insônia em pessoas mais sensíveis. Isso tem até um nome: síndrome de fim de ano.

“A síndrome de fim de ano, ou a dezembrite, é um diagnóstico popular que não é formalmente codificado pela psiquiatria nem pela psicologia, mas é uma forma simples de nomearmos um sofrimento recorrente, que afeta várias famílias nesse período do ano”, explica o psicanalista Christian Dunker, que também é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo a psicóloga Julia Rigueiro Silva, do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, a síndrome de fim de ano pode afetar qualquer pessoa e é uma forma de nomear um estado emocional, seja por fazer um balanço do ano que passou, seja por trazer lembranças, frustrações e lutos não elaborados.

Os sentimentos associados à síndrome de fim de ano são muito semelhantes aos de pessoas que vivem no hemisfério norte e relatam ter a “depressão de inverno”. Nesse caso, esse sentimento é chamado de transtorno afetivo sazonal, pois está relacionado à mudança de estação. “Quando o inverno começa a se aproximar, muitas pessoas ficam mais inquietas, com medo do que vai acontecer, temendo o estado de isolamento e as dificuldades que vêm com o frio. A síndrome de final de ano é uma reação parecida. Os sentimentos de ansiedade, de tristeza e melancolia podem aparecer”, diz Dunker.

 

O que desencadeia o problema?

Há várias razões que ajudam a explicar por que as pessoas ficam mais melancólicas nesse período. Primeiro, é um momento de transição, marcando o encerramento de um ciclo, o que provoca angústia e um estado genérico de temor pelas mudanças que virão com o início do novo ano. “Esta é uma data em que muitas pessoas tomam decisões. Pode envolver mudança de emprego, separação de casal, mudança de casa, de cidade. É um conjunto de circunstâncias”, explica o psicanalista.

O segundo ponto é que, especialmente no Natal, as pessoas geralmente participam de celebrações que envolvem reuniões familiares, com amigos e colegas de trabalho. Este período é compreendido por muitos como um momento de renovação, reencontro e festividades, mas pode trazer à tona possíveis conflitos dentro da própria família que podem não estar bem resolvidos.

“Frente à pressão social para que essa seja uma época de comemorações, de alegrias e de encontros, às vezes as pessoas precisam lidar com situações frustrantes e mal resolvidas, gerando maior sentimento de angústia”, diz a psicóloga do Einstein. Além disso, o luto também é um fator que pode se tornar um gatilho: “neste período, os sentimentos e as recordações ficam mais aflorados. As reuniões em família podem ativar o sentimento relacionado à perda e à memória afetiva de pessoas que já se foram. Acaba despertando a sensação de melancolia e de sofrimento”, explica.

Um terceiro motivo para desencadear a síndrome de fim de ano é que, após o Natal, caracterizado pela reunião familiar, segue-se a celebração do Ano Novo, que é a festa dos desejos e do futuro do indivíduo: “em geral, as pessoas fazem balanços muito curtos, muito rápidos, que não são verdadeiras meditações pessoais. Olham para o ano que passou como se fossem uma empresa”, explica Dunker.

“São esses balanços que frequentemente levam à sensação de decepção, de frustração. Isso acaba tornando a experiência um encontro com o vazio, com a perda, com a falta, com o que a pessoa ainda não alcançou. Essa é uma fonte importante de sofrimento”, detalha o psicanalista.

Outros fatores que influenciam no desenvolvimento da síndrome incluem problemas financeiros, acúmulo de tarefas, sensação de vazio, sentimento de fracasso, saudade das pessoas que já partiram, isolamento social, alta demanda no trabalho, entre outros. Isso também engloba a pressão em torno das expectativas criadas para o ano que passou e para o novo ano que está prestes a começar.

 

Corrida aos consultórios

Diante de tantos sentimentos misturados, a procura por ajuda profissional costuma aumentar consideravelmente nessa época do ano, especialmente na semana que antecede o Natal. “Isso é certo e garantido”, brinca Dunker, ao destacar que muitas pessoas procuram ajuda por estarem com um problema agudo, como se pudessem resolver em um único atendimento.

“Pacientes antigos reaparecem dizendo que precisam de um horário urgente. Pacientes novos, que nunca fizeram análise, também pedem atendimento nesta semana”, conta. Segundo o psicanalista, apesar de tantos sentimentos bagunçados, a maioria dos casos é pontual e nem todos seguem fazendo terapia no início do ano:

“Nós atendemos muitos casos de pessoas em sofrimento agudo, mas quando entra o ano novo, tudo passa. Alguns pacientes colocam a psicoterapia entre os objetivos para o ano novo, mas nem todos seguem um tratamento”.

Apesar de normalmente ser algo passageiro, é importante ficar atento a alguns sinais de alerta que podem indicar que a síndrome de fim de ano foi apenas um gatilho para o desenvolvimento de algum outro transtorno, entre eles, a depressão ou a ansiedade. Segundo a psicóloga do Einstein, os sentimentos de melancolia costumam desaparecer após os períodos de festas. Se isso não acontecer, é recomendado que a pessoa procure ajuda profissional.

“A mistura de sentimentos faz parte, é natural do final do ano. Ninguém é linear, mas quando os episódios passam a se tornar recorrentes é preciso buscar ajuda. Entre os sinais, estão insônia ou sono em excesso, falta de apetite, desânimo, fadiga, dificuldade de concentração, uso abusivo de substâncias como álcool e drogas. Se for um episódio isolado, tudo bem. Mas quando a pessoa se isola, fica mais introspectiva e perde a motivação, é preciso um olhar profissional”, alerta Silva.

 

Tem como evitar a síndrome de fim de ano?

Dunker afirma que é difícil evitar ou prevenir a síndrome de fim de ano porque as circunstâncias são muito variadas de pessoa para pessoa. Não é possível prever, por exemplo, se alguém perderá o emprego ou se um casal decidirá se separar, pois são eventos pontuais e individuais que podem afetar as pessoas de formas distintas.

No entanto, existem recomendações para tornar esse período menos melancólico. A primeira delas é fazer um balanço do ano com calma e cuidado, escrevendo sobre as conquistas e o que ainda não foi alcançado em relação às metas estabelecidas: “leve a sério essa tarefa”, recomenda Dunker.

A segunda dica é não ter medo de fazer esse balanço, não ter medo de olhar para a própria vida, porque esse é o momento em que todos estão “convidados” a viver essa situação. “Converse com outras pessoas de sua confiança, mas conheça e respeite os próprios limites. Se a gente ultrapassa os nossos limites ficamos desgastados do ponto de vista emocional e psicológico”, orienta a psicóloga do Einstein.

O terceiro ponto é entender que as festividades significam um reencontro com o passado. Então, é preciso ter paciência e tolerância: “não espere demais, porque isso pode trazer certas decepções”, afirma o psicanalista.

Por fim, estipular objetivos realistas também é uma estratégia positiva. “Se viu que não alcançou as metas que foram estabelecidas no ano anterior está tudo bem, não precisa desanimar. Vamos estipular novos planos, mas sempre refletindo sobre o que você conseguiu entregar. Ter uma organização, mesmo que seja mental, é importante para todas as pessoas”, pontuou a psicóloga.

Dunker concorda e ressalta que criar perspectivas para o futuro é importante tanto do ponto de vista objetivo quanto subjetivo. “O problema é que frequentemente confundimos metas, objetivos e métricas com os nossos sonhos. Só precisamos ter o cuidado de não confundir os sonhos com as metas para não chegar ao fim de mais um ano infeliz”, finalizou.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Brasil tem os piores índices de depressão da América Latina

Há grande discrepância entre os números da doença nos países; pesquisas analisadas no Brasil focaram em uma população essencialmente urbana, onde a prevalência é maior.

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

O Brasil tem as mais altas taxas de depressão em toda a América Latina. Atualmente, é o país com o maior número de pessoas diagnosticadas com a doença na região, onde mais indivíduos receberam o diagnóstico no último ano e mais pessoas irão desenvolver ao longo de suas vidas. Esses dados são provenientes de uma revisão de estudos que mapeou a prevalência da doença no continente, conduzida por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Chile e publicada no The Lancet.

Em média, cerca de 12% das pessoas na América Latina apresentarão a doença ao longo da vida, enquanto no Brasil esse número chega a 17%. A taxa de diagnóstico nos últimos 30 dias é de 5,48% no Brasil e, no continente, de 3,12%. Nos últimos 12 meses, 8,11% dos brasileiros preencheram os critérios diagnósticos para a depressão, em comparação com 5,3% na América Latina. O número de brasileiros que atualmente sofrem com a doença está acima das estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que apontam para cerca de 5% dos adultos do mundo.

Segundo os autores, o cenário da depressão é bem conhecido em países desenvolvidos e de renda mais alta, mas faltam dados sobre a realidade dos países de renda média ou baixa. Para suprir essa lacuna, eles fizeram uma análise de todas as pesquisas realizadas no continente publicadas em diversas bases de dados nos últimos 30 anos.

Uma das explicações para a grande discrepância entre os países é a dificuldade de encontrar um padrão de qualidade e homogeneidade entre os estudos avaliados, pois nem todos seguem os mesmos requisitos para estabelecer o diagnóstico, nem a mesma metodologia. Tanto que os autores só conseguiram avaliar estudos de sete países, totalizando 40 pesquisas que englobam quase 80% da população da região.

“Embora tenhamos cuidado muito da metodologia, avaliando apenas estudos populacionais com mais de mil pacientes, baseados em diagnósticos clínicos de acordo com os sistemas de classificação e não em sintomas relatados, há muita diferença entre os estudos e entre os países”, ressalva Antonia Errázuriz, professora do departamento de Psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica do Chile e uma das líderes do trabalho, em entrevista à Agência Einstein.

No Brasil, segundo ela, a enorme maioria das pesquisas analisadas foi feita em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, com uma população essencialmente urbana, onde a prevalência da doença é geralmente maior. Já na Guatemala, por exemplo, há menos estudos, mas englobando também populações rurais, onde a incidência é menor. Na Argentina, foi avaliado apenas um trabalho, que levou em conta pacientes da Grande Buenos Aires. “Apesar disso, observamos que, no Brasil, especialmente nos grandes centros, há uma taxa mais elevada da doença do que no resto do continente”, diz a autora.

“É interessante esse olhar mais regional, mas, por outro lado, vemos a carência de dados e de bons estudos na região”, diz o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein. Isso ocorre por várias dificuldades, desde o acesso ao sistema de saúde pela população – o que impacta a coleta de dados – até o desenvolvimento das pesquisas. “Por isso, pode haver uma subnotificação muito grande”, avalia.

Além de estabelecer a prevalência na América Latina, os autores também correlacionaram o diagnóstico com fatores socioeconômicos como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desigualdade de renda e de gênero, além da taxa de criminalidade, mostrando uma associação entre esses indicadores e as taxas de depressão. “Esses fatores são estressores bem conhecidos associados às doenças mentais”, diz o psiquiatra do Einstein.

“Nosso achado sugere também que, na América Latina, melhorar o nível de desenvolvimento humano, reduzir as desigualdades, como de gênero e renda, e a violência são fatores que acompanham a redução da prevalência da depressão”, conclui Errázuriz.

Fique atento aos sintomas da depressão

Os especialistas explicam que depressão não é sinônimo de tristeza, nem das flutuações naturais de humor. Vale prestar atenção se os sintomas costumam durar a maior parte do dia, quase diariamente e por algumas semanas. A doença afeta todos os aspectos da vida e pode ser classificada como leve, moderada ou severa. Confira alguns dos sintomas, segundo a OMS:

  • Sentimento de tristeza, irritabilidade, falta de prazer ou interesse nas atividades;

  • Falta de concentração;

  • Sentimento de culpa, falta de esperança no futuro;

  • Pensamentos sobre morte e suicídio;

  • Mudanças de peso e apetite;

  • Falta de energia e cansaço;

  • Prejuízos no sono.

 

Fonte: Agência Einstein

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