JOGOS ON-LINE

Brasil e Mundo

Bloqueio do cartão do Bolsa Família em bets está sendo implementado

Erilene (27 anos), Mauro (05 anos) Elias (06 meses) – Família Beneficiária do Programa Bolsa Família – CRAS de Sobradinho 1 – Brasília (DF). Na foto eles seguram o cartão do programa Bolsa Família. Foto: Lyon Santos/ MDS

Segundo Wellington Dias, cartões terão limite zero para apostas

Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil

O bloqueio do uso dos cartões do Bolsa Família para o pagamento de apostas esportivas está sendo implementado, disse nesta quinta-feira, dia 17, o ministro do Desenvolvimento, Assistência Social e Combate à Fome, Wellington Dias. “Essa decisão já foi adotada e agora estamos na fase de implementação do ponto de vista técnico”, declarou Dias ao sair de reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O ministro esclareceu que o bloqueio dos cartões do programa social para o pagamento às bets (sites de apostas) ocorre paralelamente à antecipação da proibição geral de cartões de crédito para o pagamento de apostas eletrônicas.

“Nós estamos trabalhando na perspectiva de garantir o cumprimento da regra, que coloca para todos os cartões, de crédito e do Bolsa Família, a regra que limita, impedindo o uso para pagamento de apostas”, explicou. “A medida é geral, para não criar, inclusive, um preconceito contra cartão do Bolsa Família, a medida geral que vale para todos os cartões vale também para o cartão do Bolsa Família”, disse Dias.

No caso do Bolsa Família, informou o ministro, além da proibição geral para cartões de crédito, a Caixa Econômica Federal estabelecerá limite zero para o pagamento a casas de apostas. Dias assegurou que as bets legalizadas estão ajudando o governo no bloqueio em suas páginas.

“O cartão do Bolsa Família tem liberdade de uso para acessar necessidades da família, alimentação e outras. Certamente, jogos não são uma necessidade. Para não criar inclusive um preconceito contra cartão do Bolsa Família, a medida geral que vale para todos os cartões vale também para o cartão do Bolsa Família”, complementou o ministro.

Sobre uma data para o início do bloqueio, o ministro disse esperar que ele ocorra “o mais cedo possível”, reiterando que mantém o diálogo com as empresas de apostas eletrônicas.

Estigmatização

Sobre o estudo do Banco Central (BC), que apontou que cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em aposta somente em agosto, Wellington Dias disse ser necessário evitar a estigmatização do programa social.

“Quando a gente olha toda a população brasileira, são 52 milhões de pessoas que jogam. Quando a gente olha o público do Bolsa Família, são 3 milhões. Quando a gente faz a proporção, são 52% de toda a população e 17,5% dos beneficiários do Bolsa Família que jogam. Quem usou o cartão [do programa] foi apenas 1,4%”, destacou Dias. “Toda minha preocupação é em não demonizar o público do Bolsa Família e dos demais programas sociais.”

Lista

Segundo a atualização mais recente da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, há 98 empresas, com 215 bets autorizadas a explorar as apostas de quota fixa em todo o território nacional. Outras 26 empresas estão autorizadas a operar apenas em alguns estados: cinco no Paraná, quatro no Maranhão, uma em Minas Gerais, oito no Rio de Janeiro e oito na Paraíba.

Em relação às cerca de 2.030 empresas e sites irregulares, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) começou a desativar as páginas na última sexta-feira (11). A agência reguladora notificou cerca de 21 mil empresas de telecomunicações em todo o país para suspender o acesso aos sites da lista negativa.

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Brasil e Mundo

Governo deve exigir que bets tenham registro dos apostadores

Site de apostas esportivas.  Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Na sexta, dois mil sites irregulares podem ser retirados do ar

Agência Brasil

O governo federal está avançando no estudo de novas regras para o mercado de apostas on line. Em entrevista à TV Brasil, o secretário de Prêmios e Apostas, Régis Dudena, adiantou que a regulamentação do funcionamento das bets exigirá das operadoras o registro do CPF dos jogadores. O objetivo da medida é possibilitar o acompanhamento do histórico dos aposentadores para assegurar sua saúde mental e financeira.

Dudena também confirmou que na próxima sexta-feira (11) cerca de 2 mil sites irregulares devem ser retirados do ar, em uma ação conjunto do Ministério da Fazenda e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). De acordo com o secretário, são sites envolvidos com fraude e golpes.

Em entrevista à Agência Brasil, Dudena já havia destacado a importância de acelerar a regulamentação do setor. Norma votada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula em dezembro de 2023 estabeleceu que cabe ao Ministério da Fazenda autorizar a exploração de apostas e fixar condições e prazos para adequação das empresas do ramo.

Nesta quarta-feira, federações de futebol receberam da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) orientação para retirar propagandas de bets irregulares de camisetas e outros materiais esportivos.

Saúde pública

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a alertar a população sobre o perigo do vício em jogos. Em reunião ministerial, ele discutiu medidas de redução dos impactos das apostas esportivas e dos jogos on-line, conhecidos como bets, em casos de dependência e endividamento.

“Tem muita gente se endividando, tem muita gente gastando o que não tem. E nós achamos que isso tem que ser tratado como uma questão de dependência. Ou seja, as pessoas são dependentes, as pessoas estão viciadas”, ressaltou Lula, de acordo com nota divulgada pela Presidência após a reunião.

Outra preocupação do governo federal é com os usuários do bolsa família. Estudos apontam para utilização do benefício para as apostas. Medidas para a restrição do bolsa família para esse fim também estão em análise.

A Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda divulgou no último dia 2 de outubro versões atualizadas das listas de empresas de apostas de quota fixa, bets (marcas) e respectivos sites que podem continuar funcionando até o fim deste ano em âmbito nacional e estadual. Na lista nacional, há 93 empresas com respectivamente 205 bets. Já as listas dos estados têm 18 empresas.

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Brasil e Mundo

Google é notificado sobre publicidade de apostas voltada a público infantojuvenil

Pedido de informação da AGU se soma aos feitos às plataformas digitais e será usado em processo sobre impacto dos jogos online na saúde mental da população

Agência Gov | Via AGU

A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou notificação extrajudicial à empresa Google do Brasil pedindo esclarecimentos sobre eventuais medidas preventivas adotadas pela companhia para evitar a divulgação de publicidade de casas de apostas e de jogos de azar voltada ao público infantojuvenil.  A iniciativa se soma às notificações com objetivo semelhante enviado às plataformas YouTube Brasil, TikTok, Kwai e Meta (Instagram e Facebook), nesta terça-feira (8/10).

No caso específico do Google, a AGU pede também que a empresa informe se adota medidas para evitar que a publicidade de apostas e jogos de azar alcance o público infantojuvenil quando este usuário está “logado”, isto é, quando a busca no sistema do Google é feita após a identificação do usuário em sua conta na plataforma.

“Muito embora a empresa Google, enquanto sítio de busca, não tenha a priori como antever a idade da pessoa que realiza a busca (quando não logada), em algumas situações essa mesma busca se dá com o usuário logado em sua conta Google – de modo que, para este perfil, caso se trate de adolescente (13 a 18 anos – idade em que se permite a criação de conta Google sem administração parental), devem ser adotadas medidas tendentes a evitar que a publicidade de jogos a alcance”, afirma trecho do documento.

A AGU também solicita informações sobre as medidas que vêm sendo adotadas a respeito da publicidade de apostas e jogos de azar, eventualmente impulsionada pelo Google, voltada para o público “logado” adolescente; quais os mecanismos de controle o Google tem adotado para impedir que o público em questão tenha acesso a links que levem a jogos de apostas e se os termos de uso da plataforma preveem regras específicas para a proteção do público infantojuvenil.

A AGU pede ainda que o Google informe se existe algum canal específico por meio do qual se possa apresentar denúncia de publicidade irregular sobre o tema.

No documento, a AGU reforça que é proibido por lei que a publicidade desse tipo de atividade tenha como público-alvo crianças e adolescentes, assim como é vedado que menores de 18 anos participem de jogos e apostas.

A notificação relata a iniciativa do governo federal para mitigar os danos à saúde mental e à economia da população causados pela exploração desses jogos, assim como seu impacto sobre as respectivas políticas públicas federais.

As respostas à notificação serão utilizadas para subsidiar processo administrativo em trâmite na Advocacia-Geral da União, originado a partir de requerimento do Ministério da Saúde, sobre a temática das casas de apostas/jogos de azar e seus impactos para as políticas públicas federais, especialmente as relacionadas à saúde mental da população.

 

 

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Brasil e Mundo

Lobby das bets: Saúde e Assistência Social ficaram de fora do debate sobre regulamentação das apostas no país

Ministério da Saúde participou de apenas duas das 209 reuniões entre autoridades do governo e agentes privados sobre a regulamentação das bets

Fiquem Sabendo*

O governo federal parece ter sido surpreendido pelas consequências para a saúde da população e para a economia resultantes da liberação dos sites de apostas online no país, apesar do ritmo intenso de reuniões com representantes de bets ao longo deste ano.

Dados da Agenda Transparente, uma ferramenta desenvolvida pela Fiquem Sabendo (FS) para rastrear agendas oficiais, revelam que ocorreram pelo menos 209 encontros entre autoridades do Executivo Federal e agentes privados de março a setembro deste ano, uma média de uma reunião por dia útil.

No entanto, mesmo com essa movimentação em Brasília, ministérios cruciais para a discussão ficaram à margem do debate, como a pasta da Saúde, que participou de apenas duas reuniões relacionadas às apostas.

O levantamento foi realizado por meio de buscas utilizando palavras-chave frequentemente associadas ao universo das apostas, como “jogo”, “aposta” e “quota fixa”, além de nomes de empresas de apostas mais conhecidas e instituições privadas vinculadas à discussão, como as citadas na edição 120 desta newsletter – que revelou como o lobby das bets já havia mobilizado 78 reuniões no governo até o início do ano.

Considerando que alguns encontros apresentam descrições e pautas vagas, é possível que um número maior de reuniões tenha ocorrido. Para mitigar esse problema, optamos também por incluir na lista de reuniões encontros sem descrição precisa, mas que envolvem agentes privados que participam ativamente das discussões sobre o tema com as autoridades.

Foram analisadas 68,2 mil agendas registradas entre março e setembro deste ano pelos ministérios da Fazenda, Saúde, Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Justiça e Segurança Pública, Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Comunicações, Planejamento e Orçamento, Economia, Turismo e Esporte, além da Advocacia-Geral da União (AGU), do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Casa Civil, Secretaria da Presidência da República e Presidência da República.

Fazenda conduziu maioria das reuniões

Ao observar os participantes das reuniões, nota-se a ausência de um grupo de trabalho interministerial com uma abordagem transdisciplinar.

O debate foi conduzido exclusivamente pelo Ministério da Fazenda e seus servidores. Das 351 agendas de autoridades relacionadas aos 209 encontros — considerando que um mesmo evento pode constar na agenda de mais de uma autoridade —, 289 eram de servidores da pasta de Fernando Haddad.

Em contrapartida, os ministérios da Justiça e Segurança Pública e do Esporte registraram oito e cinco agendas de autoridades, respectivamente. A lista completa pode ser acessada nesta planilha.

A análise da participação de autoridades nas reuniões revela ainda que os seis primeiros nomes estão vinculados ao Ministério da Fazenda, os únicos com mais de dez reuniões. No topo da lista está Regis Anderson Dudena, secretário de Prêmios e Apostas, com 122 reuniões, seguido por Fabio Augusto Macorin, subsecretário de Monitoramento e Fiscalização, com 56, e Daniela Olimpio de Oliveira, subsecretária de Autorização, com 51.

Saúde de fora

Apesar dos riscos evidentes relacionados à compulsão por jogos, o Ministério da Saúde parece ter sido praticamente excluído das discussões. Foram apenas dois encontros com a participação de integrantes da pasta.

O primeiro em abril contou com a presença de um assessor do ministério e discutiu o projeto de lei 2234/2022, que trata da exploração de jogos e apostas no Brasil. Somente em junho, Sonia Barros, diretora do Departamento de Saúde Mental, participou de uma reunião intitulada “Jogo Responsável”.

A Saúde não foi a única pasta escanteada. Embora uma análise preliminar do Banco Central tenha apontado o uso de CPFs cadastrados no Bolsa Família para a realização de apostas, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, responsável pelo programa, não participou de nenhum dos encontros relacionados à regulamentação das apostas identificados pela Fiquem Sabendo. Não foram localizadas agendas de autoridades da pasta nem em setembro, quando o problema se tornou público a partir de dados do BC.

Polícia Federal e Anatel, dois órgãos importantes para discutir relações entre jogos e mercados ilícitos, só participaram de um evento cada.

Bancos, escritórios de advocacia, bets: quem acessa o governo

De instituições financeiras, como Bradesco e BTG Pactual, passando por empresas de análise de crédito, como o Serasa, até entidades defensoras do direito às apostas, como o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) – campeão em reuniões, boa parte das agendas com autoridades foi com instituições privadas.

A série de encontros ao longo dos últimos meses também incluiu, com frequência, representantes de diversas casas de apostas, entre elas Betano, Betsson, Betway, Galera Bet, Hiperbet, Novibet, Openbet e Rei do Pitaco, além do grupo Entain, que detém a marca BetMGM.

Além de empresas de consultoria especializadas em comunicação e relações governamentais, como a Arko Advice, identificamos, ao menos, dezoito escritórios de advocacia, na maioria das vezes representando casas de apostas ou instituições vinculadas à exploração de jogos.

Os escritórios de advocacia que participaram das reuniões incluem GDM&V Advogadas, Souto Correa Advogados, VGBG Advogados, W Faria Advogados, Veirano Advogados, FAS Advogados, Pinheiro Neto Advogados, MYLaw Advogados, Maia Yoshiyasu Advogados, Beck Advogados Associados, Dessimoni & Bla, Hendrich Advogados, XVV Advogados, Franco Advogados, Brasil Fernandes Advogados, Figueiredo & Velloso Advogados, CSMV Advogados e DPJ Law.

A discussão sobre a regulamentação das apostas esportivas e da publicidade relacionada a elas pautou encontros com representantes de big techs, como Google e Kwai, que estiveram entre as mais presentes nas reuniões com as autoridades federais.

As questões jurídicas de enquadramento e a preocupação com as fraudes também incluiu representantes de instituições não associadas diretamente às apostas, como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Procon e a Junta Comercial de São Paulo.

Disponibilizamos em formato de planilha a lista de reuniões, contendo os seguintes campos: id_compromisso, que identifica numericamente cada reunião; data e hora, que registram o momento dos encontros; autoridade e cargo, que descrevem os participantes; órgão, ao qual a autoridade está vinculada — mas é importante observar que a descrição do cargo no campo participantes pode diferir; local, que indica onde a reunião ocorreu; descrição, que resume o conteúdo do encontro; e pauta, que lista os assuntos discutidos.

Essa estrutura de dados fornecida pela União requer atenção especial na análise, pois uma mesma autoridade pode ser associada a diferentes órgãos e cargos nas diversas reuniões ao longo do tempo. É o caso de Carolina Yumi de Souza, que participou de 32 reuniões e aparece como advogada da União, vinculada ao Ministério do Turismo no campo órgão. Ao longo dos últimos sete meses, ela foi associada, no campo participantes, aos cargos de secretária adjunta da Secretaria de Prêmios e Apostas e diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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Brasil e Mundo

TCU vai acompanhar impacto do mercado de bets na saúde e economia

Site de apostas esportivas.  Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Setor deve movimentar entre R$ 90 bilhões e R$ 130 bilhões neste ano

André Richter – Repórter da Agência Brasil

O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu nesta quarta-feira, dia 2, que vai acompanhar os impactos do mercado apostas online no Brasil. Os jogos são promovidos por empresas nacionais e internacionais conhecidas como bets – nome em inglês que significa aposta.

De acordo com decisão do plenário do TCU, a medida é necessária para verificar o impacto das apostas na saúde pública, no poder de compra das famílias e no andamento das ações propostas pelo governo federal para prevenir a lavagem de dinheiro, o roubo de dados dos apostadores e o envolvimento de menores de idade nas apostas.

A proposta de acompanhamento foi feita pelo presidente do TCU, ministro Bruno Dantas, e aprovada por unanimidade. O ministro citou dados da XP Investimentos que mostram que o setor de bets deve movimentar entre R$ 90 bilhões e R$ 130 bilhões neste ano. Também foram citados dados do Itaú para demonstrar que os apostadores gastaram R$ 68,2 bilhões nos últimos 12 anos.

“Estima-se que o mercado de apostas também pode repercutir no orçamento da saúde, uma vez que, com a inclusão de ações voltadas à população com vicio nas bets, haverá possibilidade de um aumento significativo nos atendimentos em saúde mental realizados na Atenção Primária à Saúde e nos Centros de Atenção Psicossocial”, argumentou o ministro.

Ontem (1°),  o Ministério da Fazenda divulgou a lista das casas de apostas virtuais que pediram autorização até 30 de setembro e cumpriram os requisitos legais para se manter em funcionamento.

A partir do dia 11 deste mês, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) bloqueará as páginas ilegais. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até 600 páginas terão o acesso derrubado.

 

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Economia

Febraban pretende propor força-tarefa para avaliar impactos das bets

Site de apostas esportivas.  Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Presidente da entidade reforçou pedido de proibir Pix como pagamento

Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estuda propor ao governo a criação de uma força-tarefa para avaliar o impacto das apostas virtuais sobre a renda das famílias. O grupo teria a participação de representantes do governo, do setor produtivo e das instituições financeiras.

“Estamos cogitando propor ao governo a criação de uma força-tarefa multigovernamental, multissetorial para aprofundar os impactos da atividade das bets no Brasil. É importante que se tenha um diagnóstico preciso. Essa força-tarefa poderia, para além do Ministério da Fazenda, contemplar outros órgãos governamentais que cuidam da defesa do consumidor, da prevenção à lavagem de dinheiro e de benefícios sociais, como Bolsa Família”, disse o presidente da Febraban, Isaac Sidney, que se reuniu nesta quarta-feira (2) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Destinado a discutir o impacto do endividamento provocado por apostas eletrônicas e jogos de azar on-line, o encontro terminou em indefinição. Segundo o presidente da Febraban, nenhuma decisão foi tomada na reunião, e a entidade não tem como papel propor políticas públicas.

“A reunião hoje não foi para tomada de decisões. Nossa preocupação é com as medidas de prevenção para o superendividamento, com a saúde financeira e com o bem-estar das famílias”, disse Sidney na saída do encontro.

Pix

Sidney repetiu declarações recentes em que defende a suspensão do Pix como meio de pagamento das apostas ou a imposição de limites nos repasses dos apostadores para as bets. Segundo o presidente da Febraban, a proibição seria temporária, até que a regulamentação definitiva das apostas virtuais entre em vigor, em janeiro.

“Enquanto não há uma regulamentação que autorize todas as empresas de apostas online, que haja um freio. Esse freio passa por algumas medidas emergenciais. Temos defendido que os meios instantâneos de pagamento, como o Pix, possam ser temporariamente suspensos para a realização de apostas”, disse.

Embora oficialmente a Febraban afirme que a proposta de proibir as transferências Pix para as bets seja uma opinião pessoal do presidente da entidade, Sidney afirmou que a proposta foi discutida pelo menos três vezes entre os bancos.

“Isso [a restrição para o Pix] já acontece hoje. No período noturno, por exemplo, das 20h às 6h. Mas o foco aqui não é um instrumento específico de pagamento, mas encontrar caminhos para evitar a deterioração do nível de endividamento das famílias”, justificou o presidente da Febraban.

Cartões de crédito

Nesta quarta, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) antecipou a proibição do cartão de crédito para pagar apostas virtuais. Inicialmente prevista para 1º de janeiro, a medida passa a valer instantaneamente, sendo implementada pelas bandeiras de cartões.

Os cartões de crédito, no entanto, correspondem apenas a uma pequena parte das transferências para as bets. Quase todos os pagamentos são feitos por Pix. As estimativas variam. A Abecs calcula em 99% a predominância do Pix nas apostas virtuais. Na semana passada, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, estimou em 85% a 90%.

Em entrevista recente à Agência Brasil, o secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Dudena, projeta em 95% o uso do Pix nos repasses de apostadores às bets.

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Brasil e Mundo

Estudo da CNC aponta que bets causam prejuízo bilionário ao comércio

Polícia investiga esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro em jogos de azar – Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Público feminino também atraído pelos cassinos online

Agência Brasil

Um levantamento produzido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indica que as bets, como ficaram conhecidas as plataformas virtuais de apostas esportivas, podem gerar um prejuízo anual de R$ 117 bilhões aos estabelecimentos comerciais do país.

Os resultados do estudo, divulgados na última semana, mostram ainda que, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets. O montante representa 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e 0,95% do consumo total no período.

“Cada venda que se perde no varejo, custa mais que a própria venda. Porque existem custos fixos que não mudam. Se você estava acostumado a faturar R$ 1.000 por semana e, de repente, começa a faturar R$ 500 por semana, o impacto é maior que R$ 500. O seu quadro de funcionário, o seu estoque, todo o seu custo de capital de giro está programado para um volume de vendas. O que nós calculamos é que há uma perda potencial de R$ 117 bilhões ao ano se continuar com essa escalada de gastos com apostas”, explicou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em entrevista à Agência Brasil na terça-feira (24).

O estudo tomou por base o Balanço de Pagamentos, por meio do qual o Banco Central registra operações realizadas no país. “Na série de dados oficial, você consegue achar essa parte do gasto das famílias com essas bets”, acrescenta Felipe.

O levantamento também alerta para o fato de os gastos com as plataformas colocam as famílias em situação de inadimplência, afetando o consumo no varejo. A atuação das bets no Brasil foi autorizada pela Lei Federal 13.756, aprovada em 2018. Desde então, elas cresceram no país e vem investindo alto em publicidade, inclusive patrocinando clubes de futebol. De acordo com Felipe, a maior preocupação envolve as modalidades de cassino online, como por exemplo o Jogo do Tigrinho.

“As plataformas de apostas esportivas passaram a abrigar muitas modalidades de casino online. E uma dificuldade é que a gente consegue levantar o valor das apostas em geral, mas não consegue segregar o que é aposta esportiva e o que é cassino online. Mas olhando para o histórico, antes do Jogo do Tigrinho aquecer, os gastos giravam em torno de R$ 2 bilhões. E com a explosão do casino online, foi para R$ 68 bilhões. Dá pra fazer uma estimativa grosseira de que pelo menos 80% dos gastos com as bets são gastos com alguma modalidade de casino online”, afirma.

Público feminino

Dados levantados pela CNC com o auxílio da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) também trazem um perfil dos apostadores. Chama atenção que os cassinos online mobilizam um público majoritariamente feminino. Já nas apostas com futebol, principal da modalidade esportiva, são os homens que mais gastam.

De acordo com a CNC, a popularidade do Jogo do Tigrinho com o público feminino é preocupante, porque pode indicar a possibilidade de impactos significativos do ponto de vista social, uma vez que benefícios sociais são pagos preferencialmente para as mulheres. Na última terça-feira (24), o Banco Central divulgou uma nota técnica apontando que beneficiários do Bolsa Família gastaram, em agosto, R$ 3 bilhões em bets através de transferências na modalidade Pix. Desde então, o governo vem sinalizando que fará movimentações para aumentar o controle sobre as plataformas.

Cassinos reais

Com base nos dados do estudo, a CNC apresentou, nesta semana, uma ação indireta de inconstitucionalidade (link: https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2024-09/stf-marca-audiencia-publica-para-debater-mercado-de-apostas-online) ao Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a regulamentação do mercado de bets no Brasil. Além disso, reiterou seu posicionamento a favor de “cassinos reais”, isto é, aqueles em que as pessoas apostam presencialmente. Segundo a confederação, enquanto a modalidade online compromete a renda das famílias e impacta o varejo, os cassinos que possuem localização física geram emprego e renda nos países onde são regulamentados.

“É uma importante atividade para o desenvolvimento do turismo brasileiro. A gente estima que, com os cassinos físicos, poderíamos ter aproximadamente R$ 22 bilhões em arrecadação de impostos por ano. Ao passo que com os cassinos online só alcançamos R$ 12 bilhões em impostos segundo os cálculos da Receita Federal. Além disso, ele não geram empregos formais para o país. Já os cassinos físicos podem gerar até 1 milhão de empregos diretos e indiretos na atividade turística”, avalia Felipe.

Os cassinos físicos foram proibidos no Brasil em 1946, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. Na época, alegou-se que os jogos de azar eram contrários à tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro. A decisão foi tomada após campanhas do Instituto dos Advogados do Brasil e de setores da Igreja Católica contra os cassinos.

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) mantém sua posição contra a liberação destes estabelecimentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também é crítica de medidas nesse sentido e reconhece que o vício em jogos de azar pode se converter em um problema de saúde pública.

 

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