ENVELHECIMENTO

Saúde

Manter o equilíbrio em uma perna ajuda a avaliar a saúde ao envelhecer

Estudo sugere que, com a idade, o chamado equilíbrio unipodal diminui de forma mais acentuada do que a força muscular. Saiba como minimizar essa perda durante a vida

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A capacidade de manter o equilíbrio em uma perna só pode ser uma forma de avaliar a saúde ao envelhecer, sugere um estudo publicado em outubro no periódico Plos One. Essa habilidade pode ser um reflexo do estado geral de uma pessoa, já que exige a integração de vários sistemas (visual, vestibular, entre outros), além de um bom controle neuromuscular, fatores que tendem a declinar com a idade.

Com o envelhecimento, há uma perda em alguns parâmetros, como a força de preensão manual, mudanças na marcha (ao caminhar) e no equilíbrio. E na pesquisa recente, cientistas dos Estados Unidos queriam saber qual desses parâmetros se deteriora mais rápido.

Para isso, avaliaram 40 pessoas saudáveis, divididas em dois grupos – um com mais e outro com menos de 65 anos de idade. Os participantes passaram por vários exames para analisar essas capacidades, incluindo quatro testes de equilíbrio em cima de uma plataforma: manter-se de pé com os olhos abertos, manter-se de pé com os olhos, equilibrar-se apenas com a perna direita e equilibrar-se apenas com a perna esquerda.

Os resultados sugerem que o chamado equilíbrio unipodal (em uma perna só) diminuiu de forma mais acentuada com a idade do que a força muscular, especialmente no caso da perna não dominante. Por exemplo, enquanto os mais jovens conseguiam ficar por cerca de 10 segundos nessa posição, alguns mais velhos não chegavam a dois segundos.

Vale destacar, contudo, que se trata de um estudo transversal, ou seja, que avaliou pessoas com idades diferentes – portanto, não verificou de que forma o mesmo indivíduo envelhece.

“O declínio de desempenho no equilíbrio pode ser um marcador inicial de declínio funcional e do aumento do risco de quedas, mas há diferentes testes de funcionalidade e é difícil falar que um é melhor do que o outro. Na verdade, são complementares”, diz Everton Crivoi do Carmo, doutor em Ciências do Esporte e responsável pela preparação física no Espaço Einstein Esporte e Reabilitação.

Segundo o especialista, há um conjunto de indicadores dentro desses testes que avaliam força, deslocamento, equilíbrio e, consequentemente, a capacidade funcional do indivíduo.

Mais risco de quedas e fraturas

A perda da capacidade de se equilibrar está associada ao aumento do risco de quedas e fraturas, especialmente em idosos, já que os ossos tendem a estar mais frágeis devido à osteoporose.

Esse declínio ocorre por conta da redução da força muscular, da menor velocidade de resposta e da perda de coordenação, associadas a prejuízos neuromusculares. “Ela [a perda de equilíbrio] pode afetar a mobilidade geral, o que acaba comprometendo a independência do idoso, limitando sua participação em atividades diárias e sociais e, consequentemente, afetando sua qualidade de vida e saúde mental”, explica Carmo.

A boa notícia é que isso pode ser evitado, ou ao menos minimizado, por meio de programas regulares de exercício físico, que devem incluir treinamento de força, equilíbrio e coordenação. “Outros exercícios que exigem do controle motor, como o tai chi chuan, o pilates, treinamento de propriocepção e estabilidade, também são eficazes para melhorar o equilíbrio”, orienta o especialista.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Morar perto de áreas verdes reduz declínio cognitivo na velhice

Estudo mostra que contato com a natureza está associado a menor exposição à poluição e mais oportunidades de atividade física e conexões sociais

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Viver próximo da natureza na vida adulta pode reduzir a velocidade da perda cognitiva mais tarde, revela um estudo publicado em julho no periódico Environmental Health Perspectives. O resultado foi ainda mais expressivo em locais de baixo índice socioeconômico, reforçando a importância das áreas verdes como um fator ambiental capaz de ajudar a prevenir o declínio mental.

Segundo os autores, já se sabe que o contato com a natureza está associado a menores taxas de depressão, que é um fator de risco para demência. Além disso, áreas verdes promovem mais oportunidades de atividade física e conexões sociais e ajudam a reduzir o estresse. No entanto, há poucos estudos prospectivos sobre o tema.

Para avaliar essa relação, os autores do estudo — vinculados a diferentes centros de pesquisa nos Estados Unidos — selecionaram quase 17 mil idosas participantes do Nurses’ Health Study. Esse é um levantamento que acompanha mais de 120 mil enfermeiras desde 1976, moradoras de 11 estados dos EUA. Elas foram submetidas a testes cognitivos repetidos pelo menos quatro vezes entre 1995 e 2001. Depois, foram monitoradas até 2008.

Imagens de satélite revelaram a dimensão das áreas verdes nos locais em que elas viviam cerca de nove anos antes do início dos testes cognitivos. Todos os resultados foram cruzados levando em conta fatores como idade, nível socioeconômico e diagnóstico de depressão.

Os cientistas constataram que aquelas que já tinham um contato maior com a natureza no começo do estudo demonstraram níveis mais altos de função cognitiva nos primeiros testes e, ao longo da investigação, uma taxa mais lenta de declínio mental.

O estudo também correlacionou os achados com a presença do gene APOE-ɛ4, um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de Alzheimer, revelando que as portadoras desse gene que moravam em áreas verdes também tiveram uma desaceleração no declínio cognitivo.

“Quem está perto da natureza se exercita mais, que é um fator protetor, e há também maior exposição à luz solar, que beneficia o ciclo circadiano, a qualidade do sono e a produção de vitamina D”, diz a geriatra Thais Ioshimoto, do Hospital Israelita Albert Einstein. Ela lembra que dormir bem é muito importante para preservação da memória. “Sem contar que o contato dos pés diretamente com o solo, técnica chamada pelos americanos de grounding, em português ‘aterramento’, também vem sendo estudada como benéfica para a nossa saúde.”

Além disso, cada vez mais estudos mostram o impacto da poluição do ar na deterioração mental, não só a das grandes cidades, mas aquela provocada pela combustão de madeira e outros materiais fósseis que libera o carbono negro, um material nocivo. “Hoje sabemos que 45% dos fatores de risco para demência podem ser prevenidos”, diz a geriatra do Einstein.

Ela explica que a prevenção começa com uma boa educação ao longo da vida — e que outros fatores conhecidos para prevenção de doenças cardiovasculares também servem para a preservação da memória, como prática de atividade física, não fumar, ter uma dieta saudável e rica em antioxidantes, controle adequado do colesterol e diabetes.

“Esses fatores servem para toda a população, desde os mais jovens. Nos indivíduos de meia-idade e idosos, a prevenção da perda auditiva e perda visual são muito importantes. Nos mais idosos, evitar o isolamento social é imprescindível”, resume a médica.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Prática de tai chi chuan ajuda no tratamento de idosos com comprometimento cognitivo leve 

Revisão de estudos revela que a atividade melhorou o processamento das informações, a memória, a orientação espacial, a concentração e a cognição. Segundo especialistas, outras modalidades que trabalham o corpo e a mente têm efeitos similares 

 

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

Idosos que praticam com frequência tai chi chuan apresentam melhora na função cerebral. É o que mostra um conjunto de 11 trabalhos, que foram analisados por cientistas da Universidade de Houston-Downtown, nos Estados Unidos, da Universidade Médica da China e da Universidade Médica de Nanjing, ambas na China. Em artigo publicado na revista científica Aging & Mental Health, os pesquisadores avaliaram os efeitos da arte marcial em 905 adultos, acima dos 60 anos, que estavam começando a apresentar déficit cognitivo.

Os resultados não deixaram dúvidas de que a prática é benéfica para pessoas com esse perfil. Os voluntários que praticavam tai chi chuan com frequência apresentaram melhora na função executiva – um conjunto de habilidades que envolve planejamento, organização, tomada de decisões, memória operacional, flexibilidade cognitiva e monitoramento do comportamento.

O estudo detectou também a melhora na memória episódica, ligada a eventos específicos, função visuoespacial (que consiste na identificação de um estímulo e sua localização) e cognição global. Um dos artigos analisados apontou ainda que a modalidade também pode aprimorar a fluência verbal.

De acordo com os especialistas ouvidos pela Agência Einstein, a frequência é muito importante para que se possa contar com todas as vantagens da atividade. Três sessões semanais, com duração de 45 a 60 minutos, cada uma, já são o suficiente para oferecer os benefícios relatados nos estudos.

Mente e corpo saudáveis 

Segundo a neurologista Polyana Piza, coordenadora do Programa de Especialidades Clínicas do Hospital Israelita Albert Einstein, os movimentos suaves do tai chi exigem que a respiração seja controlada e o praticante mantenha o foco e a atenção na atividade. Isso, explica a médica, ajuda a estimular a cognição de forma suave e segura, além de trabalhar a coordenação motora, a motricidade fina, o equilíbrio e a propriocepção, que é a consciência corporal.

“O tai chi chuan combina exercícios aeróbicos moderados com foco na agilidade e mobilidade, trabalhando o corpo e a mente simultaneamente e estimulando componentes físicos, cognitivos e meditativos na mesma atividade”, diz o médico Pedro Schestatsky, neurologista funcional integrativo e presidente da Academia Brasileira de Medicina Funcional Integrativa, com pós-doutorado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Segundo o especialista, a modalidade é conhecida por influenciar positivamente a função cognitiva por meio de mudanças neurofisiológicas específicas, como o aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), responsável por regular a sobrevivência neuronal e a plasticidade do sistema nervoso periférico e central. “Isso melhora a circulação cerebral e promove o crescimento do hipocampo, área muito importante para a memória e o aprendizado, entre outros benefícios”, ressalta o neurologista.

Schestatsky explica ainda que o aspecto meditativo da prática de fato contribui para melhorar a atenção e as funções executivas e reduzir os efeitos negativos da ansiedade e da depressão sobre a cognição. Além disso, ele confirma que a aprendizagem de padrões de movimentos coreografados pode fortalecer habilidades como o processamento visuoespacial, a velocidade de processamento cerebral e a memória esporádica, conforme foi apresentado no estudo.

Atividade favorece a interação social 

Outro ponto destacado pelos especialistas é que, por ser uma atividade normalmente praticada em grupo, o tai chi chuan promove a interação social, o que é muito importante para prevenir e atenuar o declínio cognitivo associado à idade. “Tem ainda a questão da preocupação em relação ao próprio corpo e à própria imagem, que também acaba se beneficiando”, acrescenta Polyana Piza, do Einstein.

A modalidade oferece ganhos a todos os idosos, mas quem apresenta um declínio cognitivo leve conta com todos esses benefícios extras. Os que já têm um envelhecimento cognitivo muito acentuado terão menos capacidade de entendimento e execução dos movimentos, o que faz com que tirem menos proveito das aulas. Porém, elas ainda são válidas como uma terapia ocupacional, segundo os médicos.

O tai chi chuan não é a única boa opção para quem está começando a apresentar os efeitos deletérios do envelhecimento do cérebro. Segundo os especialistas ouvidos pela Agência Einstein, todas as atividades que trabalham paralelamente o corpo e a mente têm a mesma capacidade, entre elas, o pilates, a ioga e o qigong, uma prática chinesa que trabalha elementos de meditação, respiração e movimento simultaneamente.

Fonte: Agência Einstein

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Brasil e Mundo

População da cidade de São Paulo envelhece; já são mais de 2 milhões de idosos

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em dez anos, população com mais de 60 anos cresceu 51,1%

Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

A população da cidade de São Paulo vem envelhecendo em ritmo mais intenso e acelerado nos últimos dez anos. Hoje, a capital já conta com mais de 2 milhões de idosos.

O dado consta de um estudo elaborado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento de São Paulo, com base nos dados do Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em números absolutos, a cidade soma 2.023.060 idosos, o que equivale à população de Manaus (AM). Desse total, mais da metade (60%) são mulheres. Entre os anos de 2010 e 2022, houve um incremento de quase 700 mil pessoas com mais de 60 anos, o que equivale à população total de Cuiabá.

Nesse período, a população com idade acima de 60 anos cresceu 51,1% na cidade. Essa alta na taxa de crescimento na capital paulista acompanha a tendência de aumento que vem sendo observada tanto no estado (60,3%) quanto no país (56%).

Representação

Em 2022, a população idosa representava 17,7% da população paulistana e já superava o percentual de crianças, que corresponde a 17,1%, e de jovens entre 15 e 24 anos (13,7%), ficando atrás apenas da população entre 25 e 59 anos (51,6%).

Em 2010, os idosos eram o grupo menos representativo da cidade, correspondendo a 11,9%. O grupo de crianças correspondia, naquela época, a 20,8% do total da população da cidade e era o segundo grupo mais representativo, atrás da população entre 25 e 59 anos, com 51%.

Se entre 2000 e 2010 o aumento da representação dos idosos na Cidade de São Paulo foi de 2,6 pontos percentuais, em 2022 esse crescimento chegou a 5,8 pontos percentuais, mais que o dobro do último período.

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Saúde

Estudo de SP desvenda via molecular importante para o controle do envelhecimento

Quando o processo de transferência de RNA entre células de diferentes tecidos está desregulado, a longevidade do organismo é reduzida

Fonte: Portal do Governo de  SP
Uma das formas pelas quais células de diferentes tecidos se comunicam é por meio da troca de moléculas de RNA. Em experimentos com vermes da espécie Caenorhabditis elegans, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) observaram que, quando essa via de comunicação está desregulada, a longevidade do organismo é reduzida. O achado, divulgado na revista Gene, traz uma nova compreensão sobre o processo de envelhecimento e as doenças associadas.“Estudos anteriores já haviam demonstrado que alguns tipos de RNA podem ser transferidos de uma célula para outra, mediando uma comunicação intertecidual – assim como ocorre com proteínas e metabólitos, por exemplo. Isso é considerado um mecanismo de sinalização entre órgãos ou entre células vizinhas e participa de processos de várias doenças (fisiopatologia) e do funcionamento normal do organismo. O que não estava claro até agora e conseguimos provar foi que alterações no padrão dessa ‘conversa’ que ocorre por meio das moléculas de RNA podem afetar o envelhecimento”, afirma o professor do Instituto de Biologia da Unicamp Marcelo Mori, coautor do artigo.

O trabalho foi feito no âmbito do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fapesp sediado na Unicamp. A investigação também contou com financiamento por meio de um projeto coordenado por Mori.

“Esse mecanismo de comunicação precisa estar bem ajustado para conferir ao organismo um tempo de vida adequado. Observamos no estudo que, se porventura algum tecido aumenta a sua capacidade de absorver alguns tipos de RNA do meio extracelular (de fora da célula), isso acaba tendo um impacto na longevidade do organismo”, diz.

Segundo Mori, foi possível demonstrar que a redução no tempo de vida ocorreu não apenas pela perturbação na comunicação via RNA entre tecidos de um mesmo organismo, mas também pelo aumento da capacidade de captação de RNAs oriundos do ambiente – provenientes de bactérias da microbiota, por exemplo. Os pesquisadores criaram a alcunha de InExS (sigla em inglês para desequilíbrio de RNA sistêmico intercelular/extracelular) para se referir à desregulação na transferência de RNAs entre tecidos e também com o meio exógeno.

Quebrando as regras
O pesquisador conta que a investigação sobre o mecanismo de transporte de RNA entre células foi inspirada pela descoberta do fenômeno de RNA de interferência (RNAi), que rendeu o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina aos cientistas norte-americanos Andrew Fire e Craig Mello em 2006. Em seus experimentos, eles conseguiram, usando o RNA de interferência, “desligar” genes de forma precisa.

Ao injetar um RNA dupla fita no C. elegans, os vencedores do Nobel conseguiam silenciar genes. “E observaram que o mecanismo de silenciamento afetava genes em outros tecidos, não apenas onde houve a aplicação, e era transmitido para gerações seguintes”, relata Mori.

Além de possibilitar a elucidação dos mecanismos pelos quais ocorre a transferência de RNAs entre células de um organismo e entre o organismo e o ambiente, a descoberta do RNAi relativizou um dogma central da biologia molecular. Até então, acreditava-se que o fluxo de informações do código genético seria uma via de mão única, partindo do DNA, passando pelo RNA e culminando em proteínas.

No estudo ganhador do Nobel, descobriu-se que moléculas de RNA dupla fita conseguem impedir esse processo que vai do DNA à proteína. O RNAi destrói o RNA mensageiro, silenciando genes específicos sem precisar alterar a sequência do DNA. Ficou claro então que o RNA também pode ter uma função regulatória sobre o genoma. Vale lembrar que o genoma humano consiste em aproximadamente 30 mil genes. No entanto, apenas uma pequena fração deles é usada em cada célula para sintetizar proteínas. Grande parte exerce papel regulatório (afetando a expressão de outros genes).

Equilíbrio é tudo
“Queríamos entender como esse processo poderia interferir nas funções fisiológicas importantes relacionadas ao envelhecimento. Em C. elegans, essa transferência de RNA entre células foi caracterizada por uma via que envolve proteínas denominadas SID (responsáveis por diferentes estágios de absorção e exportação de RNAs). Observamos que existia um padrão de expressão gênica dessa via em tecidos específicos, que mudava ao longo do envelhecimento. O RNA mensageiro que codifica a proteína SID-1 (fundamental para fazer a internalização do RNA para dentro das células), por exemplo, aumentava em alguns tecidos, enquanto diminuía em outros”, diz Mori.

Para entender melhor o papel dos RNAs como moléculas sinalizadoras intertecidos, os pesquisadores realizaram experimentos em que a função da proteína SID-1 foi modificada em tecidos específicos de C. elegans, como células neuronais, do intestino e musculares. Para isso, eles manipularam a expressão da proteína nesses tecidos.

“Observamos que os mutantes com perda de função da SID-1 eram tão saudáveis quanto os vermes do tipo selvagem. No entanto, a superexpressão de SID-1 no intestino, músculo ou neurônios tornava a vida dos vermes mais curta. A redução do tempo de vida também foi observada pela superexpressão de outras proteínas da via de transporte de RNAs, como SID-2 e SID-5″, diz.

O pesquisador explica que a desregulação pode estar justamente na distribuição do RNA para os tecidos. “Para desregular a distribuição de RNAs no corpo dos vermes, aumentamos a expressão de SID-1 em tecidos específicos (intestino, músculo ou neurônios). Com isso, observamos que a canalização para um órgão específico leva à redução da longevidade”, conta.

“Mostramos também que esse desbalanço na transferência de RNAs acarreta a perda de função da via de produção de microRNAs (pequenas moléculas de RNA com função regulatória). É como se o fato de um número maior de RNAs transportado para esses tecidos gerasse uma espécie de competição e a produção de microRNAs acabasse perdendo a disputa. Já havia sido demonstrado que a perda da função na produção de microRNAs leva a uma diminuição do tempo de vida”, completa.

O grupo da Unicamp também investigou a relação da transferência de RNAs exógenos, ou seja, entre o ambiente e o organismo. Como nos experimentos anteriores, a superexpressão de SID-2, que capta RNAs do ambiente pelo intestino, e o excesso de RNAs produzidos por bactérias que servem como fonte alimentar e microbiota para os vermes resultaram no encurtamento do tempo de vida.

“Acreditamos que os RNAs exógenos podem ser usados pelos vermes para monitorar os microrganismos do ambiente, mas, quando em excesso e sendo captados pelos tecidos, podem levar a um efeito deletério. Quando forçamos as bactérias, em laboratório, a expressar mais RNAs dupla fita, houve uma redução no tempo de vida dos vermes. Esse processo que envolve uma transferência excessiva de RNA interfere na homeostase e na produção de RNAs endógenos, acelerando o envelhecimento”, completa.

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