Cardiologia

Saúde

Estar satisfeito com a vida está associado a uma melhor saúde do coração, aponta pesquisa brasileira

 

Estudo da UFMG analisou dados de quase 13 mil pessoas; resultados apontam que somente 10,5% dos participantes estão com a saúde cardiovascular considerada ótima.

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Pessoas que estão satisfeitas com a vida têm mais chances de manter a saúde do coração em dia, enquanto ter um baixo nível de satisfação está associado ao maior risco de mortalidade precoce por qualquer causa. A conclusão é de uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisou dados de quase 13 mil participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), que monitora há 15 anos a incidência e a progressão de doenças crônicas não transmissíveis (como diabetes e hipertensão) em servidores públicos de instituições de ensino de seis capitais do Brasil.

Aline Eliane dos Santos, doutoranda em Saúde Pública na UFMG e autora da pesquisa, analisou os dados das visitas do ELSA realizadas entre 2012 e 2014. Na ocasião, pela primeira vez, foram coletadas informações sobre os níveis de satisfação com a vida, os quais foram analisados por meio da Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), que varia de 5 a 35 pontos. Dentro de todo o grupo, a pontuação média foi de 26,7.

A escala apresenta cinco afirmativas, para as quais as respostas variam de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”). Entre as afirmativas, estão: “As condições da minha vida são excelentes”; “Estou satisfeito com a minha vida”; e “Se pudesse viver a minha vida outra vez, não mudaria nada”.

Assim, o participante responde em uma escala de 1 a 7, e ao final, a pontuação total de satisfação com a vida varia de 5 a 35; quanto maior o número, maior a satisfação. “De todos os instrumentos que foram criados até hoje, essa é a escala mais utilizada. Está muito bem validada em vários estudos porque consegue captar essa satisfação com a vida”, disse a autora.

Segundo Santos, o conceito de satisfação com a vida é algo muito individual, uma vez que engloba uma avaliação global que o indivíduo faz de todos os domínios de sua própria vida, incluindo questões como família, trabalho, saúde, renda e outros fatores.

“É uma avaliação bastante subjetiva porque a pessoa analisa a vida com base em metas que ela mesma estabeleceu. Cada um tem a sua própria meta e é cada pessoa define se tudo aquilo que ela propôs como meta está sendo alcançado”, explica a pesquisadora.

E o coração?

A saúde cardiovascular dos participantes do ELSA foi avaliada pelo Índice de Saúde Cardiovascular Ideal, proposto pela American Heart Association (AHA) em 2010. Segundo Santos, esse índice é composto por sete itens divididos em dois subescores: fatores comportamentais e fatores biológicos. Os fatores biológicos levam em consideração medidas como glicemia de jejum, pressão sanguínea e colesterol total. Já os fatores comportamentais avaliam aspectos como prática de atividade física, alimentação saudável, ausência de tabagismo e índice de massa corporal (IMC).

O escore varia de 0 a 7 pontos e não avalia o risco, mas sim a saúde cardiovascular. De acordo com a autora da pesquisa, esse mecanismo foi pensado para ser utilizado como prevenção primordial, ou seja, analisar o indivíduo saudável e determinar como mantê-lo saudável: “por exemplo, o índice avalia se a pessoa possui glicemia normal sem o uso de medicamentos e busca estratégias para manter essa condição. Isso difere da prevenção primária, que ocorre quando o paciente já apresenta fatores de risco, e o objetivo é evitar que esses fatores evoluam para a doença”, explicou Santos.

A pesquisadora categorizou a pontuação em três níveis: baixa saúde cardiovascular (para pontuações de 0 a 2); intermediária (pontuações de 3 a 4) e ótima (pontuação de 5 a 7). O estudo apontou que somente 10,5% dos participantes alcançaram a pontuação que indica saúde cardiovascular ótima, enquanto 42% atingiram a pontuação intermediária e 47,5% dos participantes foram classificados como tendo baixa saúde cardiovascular.

“Avaliamos a associação entre a satisfação com a vida e a classificação da saúde cardiovascular e observamos que a cada aumento na pontuação da satisfação com a vida, aumentava a chance de o indivíduo ter uma saúde cardiovascular intermediária ou ótima”, afirmou.

Quais as possíveis explicações?

Segundo a pesquisadora, existem duas possíveis explicações possíveis para esses achados. A primeira é biológica, em que a pessoa com maior nível de satisfação com a vida é uma pessoa que tem um amortecimento dos efeitos deletérios do estresse do dia a dia porque consegue lidar melhor com situações que vão levar a uma cascata de efeitos biológicos deletérios, como por exemplo, maior produção de cortisol e de fatores inflamatórios.

Uma outra explicação seria que uma pessoa que tem níveis maiores de satisfação com a vida tem uma motivação maior para aderir a comportamentos saudáveis – vai cuidar mais da alimentação, vai praticar mais atividade física, terá menores níveis de tabagismo, entre outros.

Mortalidade também sofre impacto

Quando a satisfação com a vida for muito baixa também há um risco aumentado de morte por todas as causas. “As pessoas insatisfeitas vão morrer mais precocemente”, disse Santos.

Na avaliação do cardiologista Marcelo Katz, do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador na área de ciência comportamental e engajamento do paciente, esse trabalho realizado pela UFMG é fundamental porque retrata a realidade brasileira e mostra como os pacientes realmente têm uma oportunidade de prevenção e não estão seguindo aquilo que é recomendado.

“O trabalho mostra que somente 10% dos participantes têm a saúde cardiovascular em nível ótimo. Isso demonstra que temos uma população enorme que precisa melhorar a saúde. Esse estudo também agrega conhecimento na área de saúde mental e saúde cardiovascular e na importância de entender esta relação. Uma parcela desses pacientes pode ter uma questão de saúde mental que reflete numa insatisfação com a vida e, muitas vezes, pode ter um diagnóstico psiquiátrico de base”, afirmou o cardiologista.

De acordo com Katz, já faz algum tempo que as evidências científicas têm demonstrado que além dos fatores de risco tradicionais para as doenças cardiovasculares, outros fatores (chamados psicossociais) começaram a demonstrar o seu impacto como associados a maior risco cardiovascular.

“Já se conheciam os clássicos ansiedade e depressão, mas depois vieram outros aspectos que permeiam essas questões. Hoje se sabe por exemplo que pessoas ansiosas, com depressão, com pensamentos negativos, pessimistas, que não têm propósito de vida, têm maior risco cardiovascular. Pessoas mais rancorosas, com mais dificuldade em perdoar, pessoas que não são satisfeitas, que não são felizes, também têm maior risco. Esse estudo brasileiro vai em linha com o que vem sendo demonstrado nos últimos anos em estudos internacionais”, afirmou.

Katz ressalta que é fundamental que as pessoas estejam satisfeitas com sua própria vida para galgarem uma melhor saúde cardiovascular. Ele explica que isso não é imposto, é uma busca constante em torno de mais cuidados com a saúde mental, com o estilo de vida, com o cumprimento de uma vida mais saudável. “Não dá para o médico prescrever para o paciente que ele precisa estar satisfeito com a vida. A gente tem que ajudá-lo a construir uma vida mais saudável e isso gerar, consequentemente, uma maior satisfação. Temos que entender por que esse paciente não está satisfeito e o que pode ser feito para construir esse caminho mais saudável”, disse.

Para isso, diz Katz, o paciente precisa “seguir a cartilha corretamente”. “Se todas as pessoas seguissem tudo o que é recomendado do ponto de vista de controle de fatores de risco, as pessoas reduziriam de 80% a 90% o risco de ter um evento cardiovascular. Seguir a cartilha requer um bom engajamento em saúde, um estilo de vida saudável. Isso dá um certo trabalho, mas é um trabalho que tem um resultado fantástico, que é a melhora do prognóstico desse paciente”, finalizou.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Doença genética que altera colesterol aumenta  em 20 vezes risco de problemas cardíacos

Estudo da UFMG mostra que a hipercolesterolemia familiar é pouco conhecida e subdiagnosticada, afetando cerca de 1% dos brasileiros; doença aumenta risco de AVC e infarto

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Pessoas que desde a infância têm colesterol muito alto – principalmente o LDL-C, mais conhecido como ‘colesterol ruim’ e de difícil controle – podem sofrer de uma doença genética que é subnotificada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): a hipercolesterolemia familiar (HF). Esses pacientes estão mais propensos a desenvolver enfermidades que atingem o coração e o cérebro, como infarto agudo do miocárdio e o Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de ter um risco 20 vezes maior de desenvolver doenças coronarianas do que a população em geral, segundo a Associação Americana do Coração (AHA).

Estima-se que cerca de 85% dos homens e 50% das mulheres com HF poderão ter um evento coronariano antes dos 65 anos se não forem tratados precocemente. Um estudo brasileiro realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado na revista Scientific Reports aponta que cerca de 1% da população brasileira tem a possibilidade de ter o problema, sendo que a maioria nem sabe que tem a doença. O percentual, de acordo com o estudo, é maior do que o estimado nos Estados Unidos (0,4%), na China (0,3%) e na França (0,85%).

“Esse resultado de 1% da população brasileira poder ter a hipercolesterolemia familiar nos chamou a atenção. Considerando que essa é uma doença genética, subdiagnosticada e que o Brasil tem uma extensão territorial imensa, acreditamos que esse número também pode ser subestimado”, explicou a enfermeira Ana Carolina Micheletti Gomide Nogueira de Sá, pós-doutoranda e autora da pesquisa. O estudo utilizou informações clínicas dos participantes como base, ou seja, se as questões genéticas também fossem avaliadas, talvez o número fosse ainda maior.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores usaram a base de dados de quase 9 mil adultos brasileiros que participaram da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), um inquérito populacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde. Entre 2014 e 2015, pela primeira vez, a PNS incluiu uma coleta laboratorial dos participantes. Na ocasião, entre outras análises, foi feito o perfil lipídico dos voluntários com avaliação dos níveis de colesterol total, LDL-C (o colesterol “ruim”) e HDL-C (colesterol “bom”).

No estudo foram analisados os casos de pessoas com LDL acima de 190 mg/dl, índice de acordo com a escala da Dutch Lipidic Clinic (ter colesterol acima de 130 mg/dl já é alto).  Os autores investigaram também questões sociodemográficas, estilo de vida, presença de comorbidades como diabetes e hipertensão e alteração nos exames laboratoriais.

O estudo apontou também que os possíveis casos de HF foram mais frequentes em mulheres entre 45 e 59 anos, com pele branca, menor escolaridade e outras comorbidades associadas (como diabetes e hipertensão). “Diante disso, entendemos que outros estudos precisam ser feitos para aprofundar melhor este achado. Temos uma população amplamente miscigenada e há uma escassez de estudos nessa área”, explica a pesquisadora.

O que é a hipercolesterolemia familiar?

Segundo a cardiologista Fabiana Rached, do Hospital Israelita Albert Einstein, a hipercolesterolemia familiar é uma doença silenciosa, hereditária e que faz com que menos da metade do colesterol circulante  seja removido do sangue. Por ser de origem genética, ela é transmissível de geração para geração.

“No caso da HF, o funcionamento dos receptores de LDL está prejudicado o que provoca a elevação dos níveis de LDL no sangue. Muito colesterol LDL estagna no sangue. Pessoas com HF geralmente apresentam níveis perigosamente elevados de colesterol LDL desde o nascimento. O risco de aterosclerose [acúmulo de placas de colesterol nas artérias] e, portanto, de infarto do miocárdio, AVC e doença arterial oclusiva periférica é muito elevado”, ressaltou.

Isso acontece porque os altos índices de colesterol vão se acumulando nas paredes dos vasos sanguíneos e formando placas de gordura que vão causar a aterosclerose,  doença crônica e um dos principais fatores de risco para infarto e AVC. Ela poderia ser evitada com a prescrição adequada de hipolipemiantes, como estatinas, ezetimiba e inibidores de PCSK-9. A estatina é a principal classe de medicamentos usada e amplamente disponível no Brasil e no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Pacientes que possuem colesterol LDL acima de 190 mg/dl possuem indicação de tratamento com as estatinas e com outros hipolipemiantes quando necessário. Os estudos apontam que o uso correto da medicação reduz em 76% o risco do desenvolvimento de doença cardiovascular prematura. Pessoas que possuem outros índices alterados, como colesterol total e triglicérides muito altos, além de pessoas com o HDL (colesterol bom) muito baixo, também poderiam se beneficiar com o tratamento”, sugere a pesquisadora.

Se não for descoberta e tratada, a hipercolesterolemia está associada à doença coronariana precoce e também à redução da expectativa de vida. As doenças do coração ainda são a principal causa de morte de homens e mulheres no Brasil e no mundo.

Diagnóstico precoce salva vidas

Segundo a Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar, atualizada em 2021, cerca de 200 mil pessoas no mundo morrem todos os anos por ataques cardíacos precoces devido à hipercolesterolemia, os quais poderiam ser evitados com tratamentos apropriados. O documento ressalta que o diagnóstico precoce é fundamental, pois torna possível o início antecipado do uso de medicamentos que podem mudar a história natural da doença, minimizando o impacto da HF na doença cardiovascular.

A médica do Einstein diz que cerca de 90% dos pacientes com hipercolesterolemia não são diagnosticados e, por isso, não são tratados de forma apropriada. “O diagnóstico ainda é um desafio para a maioria dos países por não termos acesso aos dados populacionais referentes ao colesterol e perfil lipídico [exame que detecta a quantidade de LDL, ao histórico individual e familiar de doença cardiovascular por não termos acesso ao teste genético para todos”, explicou a cardiologista.

A autora do estudo da UFMG ressalta ainda que, em 2018, a OMS lançou um chamamento internacional pedindo que os países conhecessem a dimensão do problema da hipercolesterolemia familiar em seus territórios. “Mesmo sendo uma doença com prevalência baixa, ela traz consequências muito sérias. O diagnóstico precoce com o tratamento adequado evitaria muitas complicações e mortes por doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares”. A enfermeira espera que os resultados, que trazem dados exclusivamente brasileiros, possam ajudar a subsidiar decisões e políticas de saúde pública na prevenção da doença.

“A HF desencadeia até 20 vezes mais distúrbios cardíacos e ocorre de 15 a 20 anos mais cedo do que na população em geral. Trata-se de uma doença frequente, que afeta um em cada dois indivíduos nas famílias portadoras, e o maior desafio está em realizar precocemente o diagnóstico. A falta de diagnóstico no Brasil e no mundo cria uma barreira para a prevenção eficaz de doença aterosclerótica prematura, afetando a qualidade de vida dessas pessoas”, completou a pesquisadora.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Regiões mais ricas do Brasil têm menos mortes por doenças cardiovasculares, aponta estudo

Estados com melhores indicadores sociais tiveram maior redução nas mortes por infarto e derrame em 20 anos, diz levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares caiu nos últimos 20 anos de forma diferente entre ricos e pobres no Brasil, segundo um estudo da  Universidade Federal do Rio de Janeiro. Regiões com maior nível de desenvolvimento humano registraram uma queda mais acentuada de mortes por derrame e infarto do que aquelas com piores índices.

Para avaliar a taxa de mortalidade, os autores cruzaram o número de mortes com o índice sociodemográfico (ISD), que avalia o nível de desenvolvimento, e o de vulnerabilidade social (IVS) – que mostra como a riqueza está distribuída. As informações sobre o ISD foram obtidas no site do Global Health Data Exchange e o IVS do Atlas da Vulnerabilidade Social, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Nas últimas duas décadas, o Brasil melhorou os indicadores de vulnerabilidade social e a mortalidade por infarto reduziu, em média, 21%. Já a mortalidade por Acidente Vascular Cerebral (AVC) caiu aproximadamente 37%, segundo o levantamento.

No entanto, os dados gerais sobre doenças cardiovasculares revelam que, enquanto o Distrito Federal e a região Sul – que ostentam os melhores indicadores sociais – tiveram uma redução de cerca de 50% nas mortes, na Bahia e em Sergipe, por exemplo, a queda foi de apenas 7%. Já o Acre, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão chegaram a apresentar uma piora no número de óbitos.

Para os autores, a melhora na taxa de mortalidade ocorre em função de maior acesso a serviços de saúde e estratégias de prevenção e enfrentamento de doenças crônicas não transmissíveis. “Essas doenças podem ser prevenidas com medidas efetivas e de baixo custo”, diz o cardiologista José Lucas Bichara, um dos autores do estudo.

“A educação também tem um impacto muito grande, pois ela envolve desde o acesso ao sistema de saúde até conseguir interpretar receitas e recomendações médicas para, por exemplo, cuidar de doenças como hipertensão e diabetes”, avalia o cardiologista.

“Nas regiões com índices socioeconômicos mais elevados, há maior disponibilidade e acesso a serviços de saúde e tratamento das doenças, propiciando melhor manejo de condições crônicas de saúde”, diz a cardiologista Juliana Aparecida Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Já os piores indicadores se associam a menor acesso à saúde em geral, o que acarreta, inclusive, maior vulnerabilidade emocional devido às dificuldades para acessar o tratamento, desde a distância, as condições de transporte e a disponibilidade de recursos como medicamentos e terapias de suporte”, completa a especialista.

Mais informação e educação em saúde

Além disso, maiores níveis de escolaridade estão relacionados a mais informação e educação em saúde, diz Soares. “Isso se associa a melhor autocuidado, incluindo melhor qualidade de alimentação, conscientização sobre benefícios da atividade física regular e acesso a locais para prática, melhor discernimento sobre sintomas e mais acesso a serviços para controle dos fatores de risco e manejos de condições graves, além de maior aderência ao tratamento”, enumera ela.

Um estudo recente, feito nos Estados Unidos, evidencia como a renda pode estar associada a fatores de risco cardiovascular, já que a precariedade dificulta até o acesso à alimentação saudável e possibilidades de mudanças no estilo de vida. Ao comparar mais de 20 mil adultos nos últimos 20 anos, os autores constataram que a prevalência de doenças como hipertensão e diabetes, além de tabagismo, era maior entre os mais pobres.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e as taxas de mortalidade entre os países variam em função do grau de desenvolvimento. Nações ricas costumam apresentar maior nível de incidência de doenças crônicas, provavelmente por maior exposição a fatores de risco e maior disponibilidade de métodos diagnósticos.

Mas a probabilidade de morte é maior em zonas com menor grau de desenvolvimento. “A desigualdade social impacta fortemente o panorama da saúde das populações e associa-se à discrepância no acesso à saúde e implementação e adoção de medidas de promoção e prevenção de saúde, bem como iniquidades em relação ao diagnóstico precoce, fundamental para diminuição da mortalidade cardiovascular”, finaliza Soares.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Autoexame do pulso pode ajudar a identificar arritmias cardíacas; saiba como fazer

Coração costuma bater entre 60 e 90 vezes por minuto; avaliação simples permite identificar sinais de arritmias cardíacas e prevenir problemas mais graves. 

Por Úrsula Neves, da Agência Einstein 

Você sabia que a frequência e o ritmo da pulsação podem fornecer pistas importantes sobre a saúde do seu coração? Como nem todas as pessoas que possuem algum problema cardíaco apresentam sintomas, uma ferramenta acessível a todos é realizar o autoexame de pulso. Se identificar alguma alteração, é importante procurar uma unidade de saúde para uma avaliação mais detalhada, já que a técnica não substitui uma avaliação médica profissional.

“O autoexame do pulso é uma prática simples e eficiente de monitorar a saúde cardíaca. Desta maneira, é possível buscar uma avaliação clínica adequada, uma vez que a detecção de irregularidades, como batimentos sem um ritmo normal, que variam bruscamente de frequência, pode ser um alerta para condições como fibrilação atrial ou extrassístoles [batimentos cardíacos extra] frequentes”, afirma o cardiologista Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC) e professor do curso de medicina da Universidade do Estado da Bahia.

Na literatura médica, é consenso adotar como referência o intervalo entre 60 e 100 batimentos por minutos (bpm), que é considerado normal para adultos em repouso ou realizando simples tarefas do dia a dia. Esses valores são relevantes para avaliar alterações na frequência cardíaca, chamadas de arritmias. A orientação dos especialistas é fazer o autoexame uma vez por dia.

“As arritmias que comprometem o funcionamento normal do coração reduzem drasticamente a frequência cardíaca. Existem também as taquicardias, que podem ser de diversas origens, com ou sem doença cardíaca prévia. E, em especial, os batimentos irregulares, que podem sinalizar a presença da fibrilação atrial, que é uma arritmia que pode ser silenciosa, mas requer tratamento preventivo para evitar complicações importantes, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou insuficiência cardíaca”, alerta o presidente da SOBRAC.

A pulsação, medida facilmente na região do punho logo abaixo do polegar, reflete a frequência cardíaca. É possível verificar o número de batimentos por minuto através da contagem do pulso radial. Dessa forma, a frequência elevada no repouso, chamada de taquicardia (acima de 100 batimentos por minuto), frequência cardíaca baixa ou bradicardia (batimentos abaixo de 50 por minuto) ou ainda a percepção de batimentos irregulares, que podem sinalizar a presença de algum distúrbio do ritmo que necessite de uma avaliação clínica.

“O autoexame do pulso pode ser complementado por diversos tipos de monitor de frequência cardíaca, como medidores de pressão arterial e, especialmente, relógios de pulso ou telefones celulares. Muitos desses dispositivos vestíveis são capazes de registrar eletrocardiograma, auxiliando o diagnóstico de diversas arritmias cardíacas”, sugere o cardiologista Guilherme Fenelon, coordenador do Centro de Arritmia do Hospital Israelita Albert Einstein e professor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Frequência cardíaca muda em diferentes situações

O coração de uma pessoa jovem e saudável, com idade entre 18 e 21 anos, geralmente bate entre 60 e 90 vezes por minuto. Entretanto, é importante destacar que se a frequência cardíaca ultrapassar ou ficar abaixo dessa faixa, não necessariamente indica a presença de algum problema cardíaco.

Quando alguém está fazendo exercícios físicos, por exemplo, a frequência cardíaca pode chegar a 150 ou 160 bpm sem que isso seja um risco para a saúde. Da mesma forma, em situações de estresse físico ou emocional, é esperado um aumento da frequência. No outro extremo, durante o sono existe uma diminuição natural da pulsação cardíaca. Essas variações acontecem conforme o corpo reconhece as diversas situações e ajusta o ritmo do coração para a resposta mais adequada a cada cenário.

Cuidados com o calor intenso

O consumo de substâncias estimulantes, como o café, guaraná em pó e energéticos também tendem a elevar a frequência cardíaca, assim como o calor intenso. “Nesses casos, o pulso acelera para que aumente o fluxo de sangue para a pele, permitindo assim resfriamento do corpo. Por isso, nos dias mais quentes, é importante manter uma boa hidratação, usar roupas leves e evitar exposição excessiva ao sol”, aponta o cardiologista Fenelon.

Outras recomendações incluem evitar o consumo de cigarro e de bebidas alcoólicas, o excesso de peso, o controle de glicemia e do colesterol. “Essas medidas, junto ao reconhecimento de alterações ao autoexame, contribuem para a redução do risco de morte súbita”, frisa o cardiologista Fagundes, presidente da SOBRAC.

Passo a passo do autoexame de pulso:

1- A pulsação pode ser aferida com os dedos indicador e médio no punho, próximo à base do polegar com a palma da mão virada para cima, ou no pescoço abaixo da mandíbula;

2- No punho, a mão oposta deve ser usada (pulso direito, mão esquerda), já o pulso do pescoço deve ser medido com a mão do mesmo lado (mão direita, lado direito do pescoço);

3- Pressione suavemente até sentir a pulsação. Se não conseguir, faça um pouco mais de pressão na região, mudando um pouco a posição dos dedos ou tentando no outro punho;

4 – Para obter a frequência cardíaca, conte o número de batimentos durante 15 segundos e multiplique por 4. Por exemplo, se contar 20 batimentos em 15 segundos, a frequência cardíaca é de 80 batimentos por minuto. Essa medida pode ser repetida algumas vezes para aumentar a precisão do autoexame;

5 – Verifique se existe alguma variação estranha entre os batimentos, com pausas ou acelerações.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Um a cada três brasileiros não sabe que é hipertenso

Falta de controle adequado da pressão aumenta o risco de infartos, derrame e morte, entre outras complicações; exames periódicos evitariam o problema.

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Um em cada três hipertensos não sabe da sua condição no Brasil: a doença afeta 50 milhões de pessoas, ou cerca de 45% dos adultos na faixa entre 30 e 79 anos, podendo atingir até 65% dos idosos com mais de 60 anos. Apenas um terço dos pacientes se trata corretamente, segundo dados de um relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A hipertensão é uma condição caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial, em que a pressão sistólica (máxima) é maior do que 140 mmHg e a pressão diastólica (mínima) fica acima de 90 mmHg. Seu desenvolvimento é influenciado por fatores genéticos, ambientais e sociais.

“O subdiagnóstico está relacionado principalmente ao fato de se tratar de uma doença assintomática e ao pouco conhecimento da população dos riscos da falta de controle adequado, como lesões em órgão-alvo e, consequentemente, maior risco de infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e morte”, diz o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein. 

“Por ser uma doença silenciosa, as pessoas não se preocupam”, completa a cardiologista Lucélia Magalhães, presidente do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “Nosso estilo de vida, com uma cultura que leva à obesidade e ao sedentarismo, por exemplo, favorece que genes da doença se expressem. É uma verdadeira epidemia, que só piorou após a pandemia”, observa a médica.

Fatores socioeconômicos, como baixa escolaridade e renda, juntamente com o consumo excessivo de sal e abuso de álcool, também desempenham um papel fundamental nesse problema. A hipertensão, quando não tratada, provoca alterações funcionais e estruturais em órgãos como o coração, o cérebro e os rins, aumentando o risco de infartos, derrames, insuficiência cardíaca e morte. De fato, ela é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares e doença renal crônica.

Controle da pressão

A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda que a pressão seja medida de rotina nas consultas de qualquer especialidade médica. Se o valor encontrado for menor do que os famosos 14×9, o paciente pode ser avaliado anualmente. O diagnóstico é estabelecido quando há alteração em duas avaliações feitas com a técnica correta em pelo menos duas ocasiões diferentes. Também é aconselhável, se possível, complementar com exames fora do consultório como o MAPA, que monitora os valores ao longo de 24 horas.

Uma vez diagnosticada, são necessários outros exames para rastrear lesões em órgãos-alvo, como coração, cérebro e rins. As metas e o tratamento, incluindo o uso de remédios, vão depender da idade e dos fatores de risco de cada paciente. Em muitos casos, pode ser controlada apenas com mudanças de hábito.

“O controle da pressão exige alto grau de compromisso com a mudança de estilo de vida e adesão aos medicamentos”, diz Segalla. “Muita gente não consegue aderir ao tratamento, pois é preciso emagrecer, reduzir o sal, adotar uma atividade física e às vezes tomar remédios”, complementa Magalhães. “Então, acabam procurando o médico apenas quando aparece alguma complicação”. 

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, hospitalização e atendimentos em consultório em todo o mundo. No Brasil, respondem por 27% de todos os óbitos, segundo dados do Datasus (Sistema de Informática do Sistema Único de Saúde) de 2017. A hipertensão está associada a quase metade deles (45%).

Os médicos alertam que fazer check-ups rotineiros permitem identificar problemas de saúde em estágios iniciais, bem como avaliar o risco em pessoas assintomáticas e adotar medidas de prevenção. A avaliação em consultório, com exames de laboratório e de imagem, ajuda a avaliar também a saúde dos órgãos-alvo. A conduta para cada pessoa é planejada a partir do chamado score de risco, estabelecido por meio de um sistema de pontos baseado em fatores como idade, sexo, antecedentes familiares, além da presença de condições como hipertensão e colesterol alto.

Fonte: Agência Einstein

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