Cardiologia

Saúde

Arritmia cardíaca: entenda condição que matou zagueiro uruguaio

© Reprodução Instagram / Jonathan Calleri

Jogador de futebol Juan Izquierdo morreu após desmaiar durante partida

Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Na última quinta-feira (22), durante partida contra o São Paulo no Morumbi, o zagueiro do time uruguaio Nacional Juan Izquierdo desmaiou em campo e foi levado ao Hospital Israelita Albert Einstein. O primeiro boletim médico informava que o jogador chegou ao local em parada cardíaca de início indeterminado e provocada por uma arritmia.

Por meio de manobras de ressuscitação, incluindo procedimento de desfibrilação, equipes médicas conseguiram recuperar os batimentos do atleta. Cinco dias após ser internado em unidade de terapia intensiva (UTI), onde precisou ser sedado e fez uso de ventilação mecânica, Izquierdo morreu na noite desta terça-feira (27).

Em seu último jogo, o zagueiro, de 27 anos, caiu inconsciente no chão aos 39 minutos do segundo tempo, sem que houvesse nenhum tipo de contato com outros jogadores. Nas imagens da partida, é possível ver Izquierdo cambalear por alguns segundos antes de desmaiar. Em seguida, ele é retirado de campo já em uma ambulância.

Vinte anos antes da morte do uruguaio, o jogador Serginho, do São Caetano, desmaiou durante uma partida no mesmo estádio. O brasileiro também recebeu atendimento médico em campo e foi transportado de ambulância para o hospital, onde acabou morrendo. Meses antes, Serginho havia sido diagnosticado com arritmia cardíaca.

Conceito

De forma geral, o coração bate mais lentamente durante o repouso e em ritmo mais acelerado em situações de maior esforço ou emoção. Em algumas pessoas, entretanto, os batimentos cardíacos podem sair do compasso. Dados da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) indicam que a condição pode acometer uma em cada quatro pessoas ao longo da vida e é responsável pela morte súbita de cerca de 300 mil brasileiros todos os anos.

Por definição, as arritmias cardíacas são alterações na geração ou na condução do estímulo elétrico do coração, modificando o ritmo dos batimentos cardíacos. Em seu estado normal, chamado de ritmo sinusal, o coração contrai ritmicamente, em consequência dos disparos elétricos feitos de forma regular.

“Quando não há essa regularidade, ocorre uma perturbação do ritmo cardíaco, conhecida como arritmia. Se for rápida e totalmente irregular, pode estar relacionada à fibrilação atrial”, destacou a entidade, ao citar o tipo mais comum da doença.

Tipos

As arritmias cardíacas, geralmente, se manifestam de três maneiras: quando o coração bate muito devagar (bradicardia), quando o coração bate rápido demais (taquicardia) ou quando o coração bate de forma irregular (fibrilação atrial, flutter atrial e extrassistoles ventriculares, entre outras condições).

A fibrilação atrial, tipo de arritmia sustentada mais frequente, tem maior incidência entre idosos e acontece quando os átrios (câmaras superiores do coração) tremem ou fibrilam desajustadamente, causando batimentos irregulares e, geralmente, rápidos. Além de poder causar insuficiência cardíaca, facilitam a formação de coágulos no interior dos átrios, que podem se desprender e causar acidentes vasculares cerebrais (AVCs).

Prevenção

Para prevenir arritmias cardíacas, assim como outras doenças do aparelho cardiovascular, a Sobrac recomenda a adoção de hábitos de vida saudáveis, incluindo:

– alimentação balanceada, rica em verduras, legumes, frutas e cereais;

– moderar e, se possível, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e energéticos;

– cuidar da saúde emocional;

– evitar o sedentarismo por meio da prática regular de atividades físicas, desde que seja feita avaliação cardiológica do indivíduo antes de iniciar uma rotina de exercícios físicos mais intensos;

– consultar periodicamente um cardiologista.

Diagnóstico

Ainda de acordo com a entidade, o diagnóstico inicial da arritmia cardíaca pode ser feito por meio de uma simples medição do pulso. “Coloque os dedos indicador e médio na parte interna do pulso, sobre o local onde se sente a pulsação que corresponde aos batimentos cardíacos. Conte o número de impulsos por 15 segundos e multiplique o valor por quatro”.

O resultado alcançado pela medição é a frequência cardíaca, ou seja, o número de batimentos por minuto (BPM). Em condições normais, incluindo o repouso e atividades leves habituais, a frequência cardíaca deve variar entre 50 e 100 BPM. Acima de 100 BPM, o quadro é classificado como taquicardia e abaixo de 50 BPM, como bradicardia. Na fibrilação atrial, os impulsos são irregulares.

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Saúde

Cirurgias cardíacas em idosos aumentam 14% no Hospital do Servidor Público Estadual

O Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), principal unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe) em São Paulo, vinculado à Secretaria de Gestão e Governo Digital, registrou um crescimento de 14% nas cirurgias cardiológicas em idosos acima de 60 anos em 2023, com 450 procedimentos em comparação ao ano anterior, que contou com 395.

O cardiologista Enoch Meira, responsável pelo setor de Cirurgias Cardíacas do Serviço de Cardiologia do HSPE, explica que as cirurgias para bloqueio atrioventricular, que é o implante de marca-passo, para as coronariopatias, valvulopatias e os aneurismas da aorta estão entre as mais realizadas e que são doenças mais comuns em pessoas mais velhas.

“Acredito que, além da demanda reprimida da pandemia, em que cirurgias eletivas foram suspensas devido à questão emergencial, nosso corpo clínico extremamente qualificado também é responsável por esse aumento”, afirma o médico.

Um dado interessante é que, além do aumento das cirurgias cardiológicas, houve um crescimento geral de 20% nas cirurgias em idosos acima de 60 anos no HSPE em 2023 em comparação a 2022, com 17.911 e 14.915 procedimentos, respectivamente.

O Serviço de Cardiologia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), administrado pelo Iamspe, foi um dos primeiros a realizar a cirurgia de implante de marca-passo no país.

O Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (Iamspe) conta com uma rede de assistência própria e credenciada presente em mais de 160 municípios e oferece atendimento a 1,3 milhões de pessoas, entre funcionários públicos estaduais e seus dependentes. São mais de duas mil opções de atendimento no estado, incluindo hospitais, clínicas de fisioterapia, médicos e laboratórios de análises clínica e de imagem, além de postos de atendimentos próprios no interior, os Ceamas, e do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) na capital.

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Saúde

Internações por infarto aumentam no inverno, dizem especialistas

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma das causas é que o frio faz vasos sanguíneos se contraírem

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

De acordo com dados do Observatório de Saúde Cardiovascular do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), baseado em informações do Datasus, do Ministério da Saúde, que abrangem o período de 2008 a 2023, a estação do inverno propicia aumento de internações por infarto. Esse aumento alcança até 12%, no Brasil, em pessoas que apresentam fatores de risco, disse nesta sexta-feira (26) à Agência Brasil a diretora do INC, Aurora Issa. Em nível mundial, o índice chega a 30%.

Alguns aspectos fisiopatológicos colaboram para o aumento de infartos nessa época do ano, destacou a doutora Aurora.

“Uma das situações é que o frio faz os vasos sanguíneos se contraírem em resposta ao frio. Com isso, em alguns casos, pode ter aumento da pressão arterial e isso acaba criando uma resistência ao bombeamento de sangue do coração, o que pode sobrecarregar um pouco o coração. É um dos mecanismos”.

Outra fator é o número de internações por infecções respiratórias que ocorrem no inverno.

“A infecção respiratória tem potencial de, nos pacientes que têm placa de gordura nas artérias coronárias, principal substrato para a ocorrência de infarto, instabilizar as placas e formar trombos”. O trombo impede a passagem do sangue no vaso e isso acontece com frequência significativa em pacientes com infecção respiratória no inverno, diz a especialista.

Sintomas

Alguns sintomas podem alertar que a pessoa está tendo um infarto. “O sintoma clássico é a dor no peito prolongada, em geral uma dor a que o paciente não está acostumado e que não passa com medicações usuais”.

Também podem ocorrer apresentações atípicas. Algumas vezes, o paciente pode ter apenas um desconforto, falta de ar, cansaço. “Se tiver sintomas diferentes do habitual, a pessoa deve procurar auxílio para. Sem dúvida, o mais frequente é a dor no peito prolongada, que pode irradiar para o braço esquerdo.

Arecomendação é procurar imediatamente o serviço médico. “Quanto mais tempo a pessoa que está infartando demora para receber assistência, mais vai perdendo músculo cardíaco e o dano pode chegar à necrose, que é a morte celular.” O atendimento tem que ser rápido para a desobstrução da artéria, o que pode ser feito por meio de medicação ou do procedimento de angioplastia”, explicou.

Prevenção

O cardiologista Flavio Cure, responsável pelo serviço de Cardio-oncologia da Rede D’Or, afirmou que as pessoas com maior propensão a doenças cardiovasculares, como cardiopatas, idosos e portadores de outras doenças crônicas devem adotar medidas preventivas ao infarto no inverno.

“Quando está frio, para manter a temperatura, o organismo diminui o calibre dos vasos e libera adrenalina, então o coração trabalha mais”. Ele recomenda que as pessoas controlem a pressão, o peso, a glicose e o colesterol. “Devem tentar manter os fatores de risco sob controle.”

Outra coisa é que no frio, costuma-se beber menos água, o que faz o sangue ficar mais espesso. Daí, recomendou que se beba uma maior quantidade de líquidos nessa época do ano. O médico deixa claro que qualquer pessoa pode ter infarto, embora para quem tiver alteração na circulação do coração, a chance seja maior. “Muitas vezes, a pessoa nem sabe. Então, todo mundo deve se proteger do frio.”

O infarto é mais frequente nos homens do que nas mulheres. segundo a diretora do INC, Aurora Issa.

Segundo o cardiologista Flavio Cure nos homens, a ocorrência de infarto aumenta mais a partir dos 50 anos de idade e, na mulher, acima de 60 anos. Pode acontecer com jovens, mas é mais raro, porque a circulação do jovem é maior, desde que ele não tenha nenhuma doença de base.

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Saúde

Diabetes não controlado pode causar problemas cardiovasculares

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Especialista recomenda que as pessoas façam check-ups periódicos

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

No Dia Nacional do Diabetes, comemorado nesta quarta-feira (26), o cardiologista Flávio Cure, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Europeia de Cardiologia, chamou a atenção para complicações cardiovasculares que o diabetes não controlado com medicamentos, atividade física e alimentação saudável pode causar. Entre elas, citou hipertensão, infarto do miocárdio, angina de peito, acidente vascular cerebral e aneurisma vascular.

O Diabetes Mellitus é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina no organismo ou de sua incapacidade de exercer adequadamente seus efeitos, causando altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia) de forma permanente. Muitas pessoas desconhecem que têm diabetes porque os sintomas dessa doença muitas vezes passam despercebidos.

Por isso, Cure, também coordenador do Centro de Estudos do Hospital CopaStar da Rede D’Or, recomendou que as pessoas façam check-ups periódicos com clínico geral, que fará a triagem do paciente. “Todo mundo deve fazer. Um sintoma do diabetes que é muito frequente e que, às vezes, passa despercebido, é que a pessoa começa a ficar com mais sede e urinar mais. Na maioria das vezes, em sua fase inicial, o diabetes tipo 2 é assintomático”, disse o cardiologista à Agência Brasil.

Além de sede frequente e vontade de urinar diversas vezes, os sintomas do diabetes incluem cansaço crônico e falta de energia para atividades corriqueiras, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). “Em homens e mulheres diabéticos, a incidência de infarto agudo do miocárdio e AVC é semelhante, mas representa o dobro quando comparada a pessoas sem diabetes. Em mulheres, o quadro tende a ser mais grave, com maior mortalidade”, alertou Cure.

Segundo o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF, do nome em inglês), o Brasil é o quinto país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos entre 20 e 79 anos, perdendo apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. A estimativa da incidência da doença em 2030 chega a 21,5 milhões.

Dados da Federação Internacional de Diabetes mostram que até 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 morrem por causas relacionadas a problemas cardíacos. Em nível global, os índices superam os óbitos decorrentes de HIV, tuberculose e câncer de mama. Flávio Cure insistiu que pacientes com diabetes podem evitar o risco de infarto controlando os fatores de risco, “tentando normalizar o nível de glicose, controlando o nível de colesterol, fazendo exercícios”. Isso sem falar em eliminar o hábito de fumar. “Cigarro faz mal para todo mundo. Não tem sentido fumar hoje em dia”, afirmou.

Nas pessoas diabéticas, a neuropatia autonômica, disfunção que afeta o sistema nervoso simpático e parassimpático, pode causar síncopes, ou seja, desmaios. Outro problema importante é o acidente vascular cerebral (AVC) que, no diabético, pode ser confundido com uma hipoglicemia. “A pessoa fica confusa, com mal estar. Mas a hipoglicemia responde rapidamente à reposição de açúcar e a pessoa volta ao normal”. Cure advertiu ainda para a insuficiência vascular periférica, quando artérias que nutrem os membros inferiores são obstruídas, levando à gangrena e a amputações dos membros inferiores. “Dá problema vascular, os vasos ficam ruins, o sangue não circula, dá gangrena e tem que tirar (o membro). Mas, hoje em dia, se a pessoa se cuidar, não chega a isso.”

O cardiologista lembrou a importância do paciente com diabetes controlar o peso, diminuir o ingesto de carboidratos, exercitar o máximo possível e procurar o médico periodicamente.

Saúde renal

O presidente da Sociedade de Nefrologia do Rio de Janeiro (Sonerj), Pedro Tulio Rocha, nefrologista do Hospital São Lucas Copacabana, destaca que o aumento dos níveis de açúcar no sangue afeta o organismo de uma forma sistêmica, sobrecarregando, principalmente, os rins. Tanto que é uma das principais causas de doença renal crônica e, por consequência, de transplante desse órgão. Segundo o último Censo Brasileiro de Diálise, de 2023, publicado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, 32% dos pacientes em diálise têm diabetes.

O doutor Pedro Tulio Rocha explicou à Agência Brasil que o diabetes afeta o rim por uma série de fatores. “A glicose em excesso é filtrada pelos rins e é lesiva às células dos túbulos renais e glomérulo (principal unidade de filtração do rim). O diabetes aumenta a deposição de colesterol nas paredes dos vasos. Esse processo é chamado de aterosclerose e o rim, por ser um órgão muito vascularizado, sofre com isto”. Ressaltou que existem também efeitos do diabetes em outros órgãos, como o coração e o fígado, que podem levar a consequências danosas para os rins.

A longo prazo, pode ocorrer doença renal pelo diabetes, levando à doença renal crônica. O presidente da Sonerj observou ainda que o diabetes, junto com a hipertensão, são as principais doenças que levam à necessidade de diálise. Comentou ainda que pode ocorrer lesão renal no pré- diabetes, porém a progressão para doença renal mais avançada se dá com a presença do diabetes já estabelecido.

Estudo

Estudo publicado recentemente no British Journal of Sports Medicine revela que pessoas que praticam mais exercícios, de intensidade moderada a vigorosa, têm menor probabilidade de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, principalmente aquelas com alto risco genético.

Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a doutora Rosita Fontes afirma que a prática de atividades físicas previne e controla os níveis de açúcar quando os músculos estão trabalhando, ou seja, usando a glicose do sangue para produzir energia. Em consequência, a insulina que o corpo fabrica age melhor e as taxas de glicemia diminuem.

A especialista lembra que o exercício físico é sempre saudável, mesmo para quem não pode praticá-lo por períodos mais longos e para quem não emprega tanta intensidade durante a atividade, pois existe o benefício da prevenção do diabetes. Ela recomenda que, para sair do sedentarismo, o indicado é começar com exercícios leves e breves, como pequenas caminhadas, e ir aumentando gradativamente tanto a duração do exercício como sua intensidade.

Segundo a endocrinologista, o exercício físico também é essencial para quem já tem diabetes (do tipo 2 ou do tipo 1), porque ajuda a controlar a doença, potencializando o tratamento medicamentoso. A médica recomendou que antes de iniciar a prática de exercícios físicos, é importante que a pessoa consulte o médico pois este poderá avaliar, em função das condições físicas do paciente, do peso e de doenças existentes, como poderá se beneficiar das atividades, em que grau elas podem ser praticadas e durante quanto tempo por dia.

Rosita Fontes informou que o diabetes tipo 2 é aquele no qual o pâncreas produz insulina, às vezes até em quantidades aumentadas, mas ela não é adequadamente aproveitada pelo corpo. É o tipo mais frequente, que corresponde a 90% dos casos, com maior incidência em adultos. Já o diabetes tipo 1 costuma ocorrer em pessoas mais jovens; o organismo não consegue produzir a insulina necessária para funcionar adequadamente.

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Saúde

Brasileiros desconhecem e não controlam doenças cardiovasculares, revelam estudos

A conclusão é de dois trabalhos apresentados no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, realizado em maio na capital paulista

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo – no Brasil, elas respondem por quase um terço dos óbitos, sendo o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) os mais predominantes. Todos os anos, mais de R$ 1 bilhão são gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com procedimentos cardiovasculares, segundo dados da Estatística Cardiovascular 2023, levantamento conduzido por pesquisadores de diversas instituições brasileiras.

Ainda assim, mesmo sendo um problema tão comum, a maioria da população desconhece quais são os fatores de risco cardíaco mais básicos — e pior: mesmo com acesso a diagnósticos e medicamentos, muitos não controlam adequadamente a doença. A constatação é de dois trabalhos apresentados no 44º Congresso da Sociedade Paulista de Cardiologia (Socesp), que aconteceu no final de maio, em São Paulo.

Um deles é uma pesquisa feita pela Socesp com 2.764 pessoas, que demonstrou a falta de conhecimento sobre condições básicas que prejudicam o coração. Ao serem questionados sobre os fatores de risco cardíaco, somente 8% dos entrevistados mencionaram diabetes, 11% associaram ao colesterol elevado, 11% responderam obesidade, 11% relacionaram à hipertensão, 12% apontaram a falta de atividade física e 13%, a alimentação não saudável.

Os resultados preocupam os especialistas, que atribuem parte do problema à falta de informação de qualidade. “Esse resultado é preocupante, embora não tão surpreendente. Não existe uma única explicação de por que isso acontece, mas a conscientização da população vai além do acesso à informação. A informação, de uma maneira geral, está disponível para a maioria das pessoas, mas falta um programa de fato que tenha esse objetivo”, avalia o cardiologista Pedro Gabriel Melo de Barros e Silva, diretor-científico do congresso. “As iniciativas que fazemos são pontuais. Deveria existir um programa que incluísse toda a população, em diferentes meios, de maneira consistente, não apenas em ondas. Isso porque estamos falando da doença que responde por cerca de um terço das mortes, que é a doença cardiovascular.”

Estima-se que 50% dos ataques cardíacos e AVCs seriam evitados caso o colesterol se mantivesse dentro dos parâmetros normais: abaixo de 130 miligramas por decilitro (mg/dl). A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), utilizou o diagnóstico autorreferido de colesterol alto e, entre os 88.531 adultos avaliados, identificou-se uma prevalência de 14,6% da condição. Mas, segundo a investigação da Socesp, somente 11% dos entrevistados entendem o colesterol elevado como risco cardíaco.

Para o cardiologista Humberto Graner, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia, isso reflete a falta de educação em saúde, uma vez que diabetes, colesterol elevado, obesidade, hipertensão, falta de atividade física e alimentação não saudável são fatores de risco muito bem estabelecidos como determinantes para doenças cardiovasculares.

“As pessoas não entendem o papel do colesterol no risco cardiovascular e há uma grande desinformação espalhada em mídias e redes sociais de que ‘colesterol não faz mal’ quando, na verdade, faz! Para melhorar esse quadro, é essencial intensificar programas de educação em saúde, melhorar o acesso a médicos especialistas e a exames regulares”, comenta Graner. Vale ressaltar que colesterol alto é um problema silencioso, que não dá manifestações clínicas e, quando surge um sintoma, muitas vezes já é o evento cardiovascular, como infarto e derrame.

Apesar do conhecimento crescente em relação aos benefícios cardiovasculares da atividade física, quase metade da população brasileira não se exercita o suficiente. Os números mais preocupantes são os de mulheres, idosos e aqueles com menor nível de escolaridade. Segundo a Estatística Cardiovascular 2023, no ano de 2019, 7,6% do total de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil foram atribuídas ao sedentarismo.

O exame mais simples para identificar risco cardiovascular é a aferição da pressão arterial – que deveria fazer parte das consultas de rotina pelo menos uma vez ao ano e pode ser feita, inclusive, em crianças. Exames laboratoriais dos principais marcadores (para colesterol e diabetes) também devem ser realizados com frequência, especialmente a partir dos 40 anos.

“Era comum recomendar o início da avaliação preventiva regular, o check-up, a partir dos 40 anos. No entanto, temos visto cada vez mais indivíduos entre 30 e 40 anos manifestarem doença cardiovascular de forma precoce. Por isso, a ideia é que uma primeira avaliação seja feita aos 35 anos, ou mesmo antes, se houver histórico familiar de doenças cardíacas ou outros fatores de risco significativos”, alerta o cardiologista do Einstein.

Doença sem controle

Outro trabalho, também apresentado no congresso da Socesp, mostrou que 99,7% dos indivíduos com doenças cardiovasculares diagnosticadas não controlam adequadamente os fatores de risco para evitar infarto e AVC. Os dados são do Registro Brasileiro de Doença Aterotrombótica (NEAT), uma pesquisa feita com mais de 2 mil portadores de doença arterial coronariana ou periférica.

De acordo com o registro, apenas 8,6% dos pacientes estavam com o controle do colesterol ideal e somente 12,5% cumpriam a prática recomendada de 150 minutos de exercícios físicos por semana. O levantamento mostra também que um em cada cinco (20,7%) monitorava o diabetes regularmente e que 31,5% dos consultados apresentavam Índice de Massa Corporal (IMC) adequado. Para completar, menos da metade (40,7%) estava com a pressão arterial dentro da meta. Apesar da doença cardiovascular estabelecida, 15,7% mantinham o hábito de fumar.

“Esse dado é preocupante, porque não estamos falando de prevenção primordial ou de prevenção primária para pessoas que não têm a doença. Estamos falando de indivíduos que já tiveram um infarto, já fizeram uma cirurgia, já colocaram um stent [tubo inserido na artéria para evitar que ela entupa novamente] , já fizeram angioplastia. Se a gente considerar todas as ações que deveriam ser feitas para prevenção de um novo evento cardiovascular, quase 60% delas não foram feitas. Se olharmos o paciente individualmente, 99,7% não conseguiam cumprir todos os itens e só 0,3% estava com o tratamento perfeito”, destaca Barros e Silva.

De acordo com ele, essa é uma questão que envolve tanto a ação médica quanto o engajamento do paciente. Da parte do profissional de saúde, muitas medicações mais modernas e melhores para o tratamento não são prescritas como deveriam, provocando uma lacuna  entre a prática clínica e o que tem de mais novo nos achados científicos.

Isso inclui estatinas de alta intensidade e bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), que regulam a pressão arterial. “Apesar do uso da estatina ser muito frequente, esse estudo mostrou que a maioria dos médicos não prescreve estatinas de alta potência, que deveriam ser rotineiras para esses pacientes que já tiveram um evento [cardíaco] anterior”, explica Barros e Silva.

Muitos profissionais acham que o paciente não tem indicação formal para aquela terapia, por isso não prescrevem a medicação. “Isso mostra que precisamos trabalhar na conscientização dos médicos. As metas para o bom controle cardiovascular ficam só nos livros, nos guidelines. Mas, na prática, quase 100% dos pacientes estão fora da meta”, afirma o cardiologista.

Segundo Graner, esse problema é chamado de “inércia terapêutica”, caracterizada pela falta de ajustes ou de intensificação do tratamento quando indicado, podendo levar a um “subtratamento” ou até a piora do quadro dos pacientes. “A inércia terapêutica é um viés muitas vezes inconsciente, que tem sido muito estudado. Envolve a tendência de procurar e interpretar informações que confirmem as crenças e práticas preexistentes, ignorando ou minimizando as novas evidências. Existe a tendência de preferir a inação (omissão) por medo de causar dano ao paciente, mesmo quando a ação (mudança ou intensificação terapêutica) é justificada”, analisa.

Apesar da “parcela de culpa” que cabe ao médico, a falta de comprometimento do paciente com o próprio tratamento também é um desafio que pode ser influenciado por vários fatores. Entre eles, a falta de compreensão sobre a gravidade da doença e os benefícios do tratamento, ou sobre efeitos colaterais dos medicamentos, a complexidade do regime terapêutico e barreiras financeiras.

Além disso, a falta de suporte social e psicológico também podem influenciar na adesão terapêutica. “Estratégias para melhorar esse comprometimento são alvos de vários estudos e pesquisas clínicas recentes, mas ainda estamos longe de uma consciência coletiva que possa mudar essa realidade sobre as doenças cardiovasculares”, completa Humberto Graner.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Estudo sugere aumento da incidência de casos de fibrilação atrial 

O envelhecimento populacional e o crescimento dos fatores de risco podem levar ao aumento de casos desse tipo de arritmia cardíaca, que é o mais comum na população 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Um novo estudo dinamarquês, publicado no The British Medical Journal (BMJ), observou o aumento nos últimos 20 anos dos casos de fibrilação atrial, o tipo de arritmia cardíaca mais comum. Dados brasileiros também sugerem um ligeiro crescimento.

A fibrilação atrial ocorre quando há a ativação desorganizada dos átrios (as câmaras superiores do coração), que não batem de maneira coordenada. Isso leva a uma deterioração da função mecânica do órgão. Ela também provoca a má circulação sanguínea, o que aumenta o risco de formação de coágulos, que podem viajar pela corrente sanguínea e causar derrames.

Para investigar a doença ao longo do tempo, os autores acompanharam mais de 3,5 milhões de adultos entre os anos de 2000 e 2022, divididos em dois momentos, de cerca de uma década, cada um. Os dados foram obtidos no Registro Nacional de Pacientes da Dinamarca.

Nesse período, o risco de uma pessoa desenvolver a fibrilação atrial subiu de 24,2%, entre 2000 e 2010, para 30,9%, no segundo intervalo avaliado, entre 2011 e 2022. Os mais afetados foram aqueles que tinham insuficiência cardíaca, histórico de infarto, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes ou doença renal crônica. As complicações mais frequentes após o diagnóstico foram insuficiência cardíaca, seguida de AVC.

No Brasil, as taxas de prevalência de fibrilação atrial também tiveram um ligeiro aumento entre 1990 e 2019, passando de 519 por 100 mil habitantes, em 1990, para 537 a cada 100 mil habitantes 29 anos depois, de acordo com a Estatística Cardiovascular Brasil 2021.

Segundo o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, várias hipóteses explicam esse aumento. “O envelhecimento populacional, a melhora no diagnóstico e, principalmente, melhores práticas e tratamentos, que proporcionam maior sobrevida mesmo em pacientes com cardiopatias graves, que são os principais fatores para o desenvolvimento dessa arritmia”, explica Segalla.

Quais as causas da fibrilação atrial? 

A fibrilação atrial pode ser decorrente de várias causas. Quem tem doenças cardiovasculares – como hipertensão, doença reumática com o comprometimento das válvulas e insuficiência coronária – tem o risco de três a cinco vezes maior de desenvolver o problema. Isso porque esses quadros levam a alterações no músculo do coração, que provocam uma sobrecarga nas câmaras e mudam a velocidade do ritmo cardíaco, o que favorece o aparecimento da arritmia.

Além disso, problemas como infarto e insuficiência cardíaca podem deixar uma fibrose (cicatriz), prejudicando a capacidade de dilatação do músculo. Já o diabetes e a síndrome metabólica podem levar a uma inflamação no miócito, a célula do músculo cardíaco, com a alteração estrutural do miocárdio, o que também compromete seu funcionamento.

Como a incidência da fibrilação atrial aumenta com a idade, o incremento na longevidade tende a elevar o número de casos. Para ter uma ideia, enquanto na faixa dos 25 aos 35 anos ela atinge de 0,2 a 0,5% da população, a fibrilação pode chegar a 9% entre aqueles com idades entre 62 e 90 anos.

Por outro lado, ela também pode ocorrer em pessoas com o coração saudável – por exemplo, em decorrência do uso de drogas, como a cocaína, e do abuso de energéticos, café e álcool. “É possível prevenir essa arritmia com um estilo de vida saudável, incluindo alimentação apropriada, atividade física, controle do peso e sono adequado, bem como com o acompanhamento e o tratamento das doenças que podem comprometer a estrutura do coração, se for o caso”, diz o especialista do Einstein.

Já o tratamento depende da fase do diagnóstico.

Além do controle da frequência cardíaca, que pode ser feito com medicamentos e, em alguns casos, com a ablação (o procedimento que elimina o foco da arritmia), é essencial o uso de anticoagulantes para reduzir o risco de AVC. Um especialista deve fazer o acompanhamento para avaliar as causas do problema.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Novo estudo realizado pela Quanta aponta benefícios no uso de medicamentos para tratar a angina crônica, dor no peito em pacientes cardíacos

Uma equipe médica da Quanta Diagnóstico por Imagem realizou, por meio do Inova – Departamento de Pesquisa e Inovação da clínica, um estudo inédito sobre tratamentos cardíacos, publicado pela revista Cardiology and Therapy da Springer Nature, a maior editora de artigos científicos do mundo. A pesquisa recebe o nome “Efeitos da Ivabradina na Perfusão Miocárdica na Angina Crônica: um estudo prospectivo, aberto, de braço único” e foi realizada pelos médicos Dr. Olímpio França Neto (coordenador do estudo), Dr. Miguel Morita F. Silva, Dr. Rodrigo Cerci, Dr. Carlos Cunha Pereira, Dra. Margaret Masukawa e Dr. João Vicente Vítola.

O estudo foi apresentado em vários eventos científicos internacionais, comprovando sua importância para a comunidade médica e aponta os benefícios no uso de determinado medicamento para o tratamento de angina crônica, uma dor no peito causada pela isquemia (diminuição do fluxo de sangue no coração). O medicamento em questão é a Ivabradina, que tem a capacidade de reduzir a frequência cardíaca e os episódios de dor.

A pesquisa utilizou a técnica nuclear para estudar a fisiologia do coração e seu funcionamento, em especial o exame de imagem Cintilografia de Perfusão Miocárdica, para avaliar o quanto de sangue chega à musculatura cardíaca. “Há muitos anos, este exame é aceito na imagem cardiovascular para o diagnóstico de isquemia miocárdica, para nos auxiliar a confirmar que o paciente tem angina de peito por uma falta de irrigação para o coração, mesmo em uso dos betabloqueadores”, relata Dr. Olímpio França Neto.

A equipe, liderada pelo Dr. Olímpio demonstrou que após alguns meses de tratamento, o uso do medicamento foi associado à diminuição da isquemia miocárdica detectável pela cintilografia,  o que trouxe aos pacientes melhora da capacidade de exercício, diminuição da frequência de angina e aumento da qualidade de vida.

O uso da técnica nuclear possibilitou monitorar o tratamento do paciente para observar o grau de eficácia da medicação e seus benefícios de forma inédita. Atualmente não há estudos publicados utilizando a Cintilografia de Perfusão para avaliar o impacto da Ivabradina na perfusão do músculo cardíaco. Ou seja, avaliar quanto de sangue o corpo fornece a este órgão, sob o efeito desta medicação. “Tecnicamente falando, o objetivo deste estudo foi avaliar alterações na porcentagem de isquemia miocárdica após adição de ivabradina à terapia betabloqueadora estabelecida em pacientes isquêmicos com angina crônica, utilizando cintilografia de perfusão miocárdica”, explica Dr. Olímpio.

O estudo, que recebeu financiamento do laboratório francês Servier, corrobora para as utilizações de medicações, que vão se tornar cada vez mais frequentes no tratamento atual da doença. “Existem novas medicações para controlar esse tipo de problema cardíaco. Antigamente, se fazia muito mais cirurgias e colocações de stents, um dispositivo coronário, em algumas situações específicas. Hoje o acompanhamento do tratamento clínico, com medicações, é visto como uma excelente opção. Temos condições de fazer o acompanhamento deste tratamento com a técnica nuclear”, comenta Dr. João Vicente Vítola.

O artigo “Efeitos da Ivabradina na Perfusão Miocárdica na Angina Crônica: um estudo prospectivo, aberto, de braço único” pode ser acessado no link https://tinyurl.com/yyyu4w25

Medicina nuclear no diagnóstico do câncer e doenças cardíacas

Com o Inova – Departamento de Pesquisa e Inovação, a Quanta participa de projetos de pesquisas e estudos nacionais e internacionais, cooperando e contribuindo para o desenvolvimento científico na área da saúde. “Nosso trabalho científico tem colaborado para o aprimoramento de protocolos de medicina diagnóstica em vários países”, afirma Dr. João Vicente Vítola, um dos fundadores da Quanta. “Desde 2007, temos um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU para o desenvolvimento da medicina nuclear no diagnóstico do câncer e doenças cardíacas”, completa.

Sobre a Quanta Diagnóstico por Imagem

Fundada em 2003, a Quanta Diagnóstico por Imagem chega aos 20 anos com o compromisso de oferecer tecnologia de ponta e médicos altamente especializados – garantindo laudos de extrema precisão e confiabilidade. “A Quanta é reconhecida não só por oferecer exames complexos, realizados dentro dos padrões mais rigorosos, mas também por dispor de todos os exames mais habituais e frequentes no diagnóstico por imagem, com alta qualidade, com um leque de opções nas áreas de Ressonância Magnética, Ultrassonografia, Radiologia e Medicina Nuclear”, afirma Danilo Gregio, CEO da Quanta. “Temos um corpo clínico experiente e uma gestão moderna, voltada para a qualidade dos serviços e o bem-estar dos pacientes”, completa.

A clínica, reconhecida como referência em diagnóstico por imagem e também pela comunidade científica, no Brasil e no exterior, tem sua sede localizada na Rua Almirante Tamandaré, 1000, no Alto da XV, em Curitiba (PR). Realiza agendamentos pelo telefone e WhatsApp através do mesmo número: +55 41 3362-9778.

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Saúde

Exames ergométricos: saiba quais são e a indicação de cada um deles 

Testes ajudam a diagnosticar doenças cardíacas e podem orientar o tratamento  em caso de problemas sistêmicos, como Covid longa e diabetes; a Sociedade Brasileira de Cardiologia acaba de divulgar uma nova diretriz sobre o tema 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Embora seja um exame simples e usado há décadas, o ergométrico – o popular teste da esteira – ainda é muito atual e serve como a primeira opção para diagnosticar problemas diante de sintomas cardíacos, como a falta de ar e a dor no peito. Mas ele também é importante para avaliar quem tem doenças sistêmicas, caso da Covid longa, e precisa praticar atividade física como parte do tratamento.

Essas informações fazem parte de uma nova diretriz, recém-divulgada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que reúne uma revisão de mais de mil estudos sobre o tema. “Esses exames são orientados por sintomas cardiológicos e são essenciais como parte de um check-up”, diz o cardiologista Augusto Uchida, chefe da Ergometria do Hospital Israelita Albert Einstein.

Embora o da esteira seja o mais comum, o médico explica que há vários tipos de testes ergométricos. Em comum, todos avaliam como o coração trabalha enquanto faz esforço, permitindo detectar doenças que podem não dar sinais com o órgão em repouso. Eles são usados para diagnosticar obstruções, hipertensão e insuficiência cardíaca, além de acompanhar a resposta a tratamentos, o ajuste do uso de remédios e a recuperação pós-cirúrgica. Em casos de pacientes com falta de ar, por exemplo, é possível saber se a origem é cardiovascular ou pulmonar, ou ambos – e ainda se a pessoa apenas está “fora de forma.”

“A atividade física é parte do tratamento de diversas doenças, incluindo as metabólicas, como a diabetes e a obesidade, e até câncer. Algumas, como a Covid longa, causam o comprometimento pulmonar e também podem agredir o sistema cardiovascular. Os testes ergométricos contribuem para definir melhor suas consequências, além de proporcionar informações para a prescrição individualizada da atividade física, que é parte da reabilitação e do tratamento”, explica o cardiologista Tales de Carvalho, coordenador da diretriz da SBC.

No entanto, esses exames devem ser feitos por médicos especializados e aptos a lidar com intercorrências, pois problemas graves podem surgir justamente no momento do teste. O local precisa ter equipamentos como desfibriladores, drogas para controlar arritmias e pessoal treinado para atuar no caso de uma ressuscitação cardiopulmonar.

A Agência Einstein ouviu os especialistas para explicar os exames. Confira a indicação de cada um deles a seguir.

Teste ergométrico 

É o mais básico e a primeira opção para fazer um diagnóstico de arritmias, obstruções e hipertensão, entre outros. Nele, o paciente é monitorado por meio de eletrodos, que fazem um eletrocardiograma enquanto ele caminha na esteira ou pedala numa bicicleta. Um aparelho mede a pressão arterial. O teste é interrompido quando a pessoa chega à exaustão física ou ao esforço físico máximo, ou quando aparecem sintomas desconfortáveis ou alguma anomalia no monitoramento.

“Com o surgimento de novos exames mais sofisticados, acreditava-se que o velho teste ergométrico estava ficando ultrapassado. Queremos ressaltar que ele ainda é extremamente útil, com grande custo-efetividade, e oferece muitas informações para diagnóstico, prognóstico e tratamento”, diz Carvalho.

Teste cardiopulmonar de exercício 

Similar ao teste da esteira, a principal diferença é que o paciente faz o exercício usando uma máscara, que cobre o nariz e a boca e serve para avaliar a capacidade pulmonar. Com informações sobre a troca de gases, ele permite analisar o consumo de oxigênio, a produção de gás carbônico e a ventilação pulmonar e mostra como está o condicionamento físico. Essencial para atletas, também é recomendado para quem pratica atividade física regularmente, pois indica a melhor frequência cardíaca para uma atividade segura, ajudando a elaborar esquemas de treino.

“O teste aprimora a prescrição de exercício nos programas de reabilitação cardiovascular também para pacientes, inclusive os muito debilitados, com insuficiência cardíaca, doença pulmonar crônica ou doença coronária grave, entre outros”, diz Carvalho.

Com imagens 

Quando os testes anteriores geram dúvidas, explica o cardiologista, podem ser feitos exames de esforço que associam imagem. São eles:

  • Ecoestresse

Trata-se do ecocardiograma, que é uma espécie de ultrassom do coração, em que o médico visualiza imagens do órgão enquanto a pessoa faz o exercício, normalmente pedalando. Pode ser solicitado quando há dúvidas sobre obstruções.

  • Cintilografia do miocárdio 

É um exame de medicina nuclear, que utiliza o contraste (uma substância radioativa) e ajuda a visualizar o funcionamento e a irrigação do coração, apontando isquemias, entre outros problemas. É feito em pacientes de maior risco ou que já tenham doenças das coronárias, por exemplo.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Principal causa de morte súbita ganha a primeira diretriz brasileira para facilitar diagnóstico e tratamento 

A cardiomiopatia hipertrófica é uma doença silenciosa e atinge cerca de 500 mil  brasileiros; novo documento ressalta a importância de avaliação detalhada em atletas 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A cardiomiopatia hipertrófica, que atinge cerca de 500 mil brasileiros, é a principal causa de morte súbita no mundo e é uma doença subdiagnosticada no Brasil. Por causa da falta de dados específicos para diagnosticar e tratar esses pacientes, a Sociedade Brasileira de Cardiologia acaba de lançar a primeira diretriz brasileira para ser usada pelos médicos, que até então usavam somente as diretrizes europeia e norte-americana.

“É uma doença mais frequente do que a gente imagina e muito subdiagnosticada”, diz o cardiologista Fabio Fernandes, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, um dos autores da nova diretriz. A doença é a mesma que vitimou em 2022 o empresário e atleta João Paulo Diniz, filho de Abilio Diniz, aos 58 anos. O documento, elaborado por mais de 70 pesquisadores, estabelece as recomendações mais atuais para diagnóstico, estadiamento, tratamento e algoritmos que ajudam nas abordagens terapêuticas e na prevenção de morte súbita.

“Ela [a cardiomiopatia hipertrófica] é muito prevalente, atinge em torno de uma em 200, ou uma em 500 pessoas, e costuma ser diagnosticada em fase avançada”, completa o cardiologista Marcelo Vieira, do Hospital Israelita Albert Einstein. Entre as recomendações, o documento ressalta a importância de avaliação detalhada em atletas, além de indicar alguns exames para investigar e confirmar o diagnóstico.

A doença foi descrita pela primeira vez em 1958 pelo patologista britânico Robert Teare,  que avaliou o coração de jovens atletas que haviam morrido subitamente. Ela se caracteriza por um aumento da espessura do músculo cardíaco – a hipertrofia – ao longo do tempo. Na maior parte das vezes, isso ocorre por um defeito genético, que faz com que o coração tenha um estado de hipercontratilidade e um hiper-relaxamento, o que acaba levando à hipertrofia do miocárdio. Isso provoca sintomas de insuficiência cardíaca: dor no peito, arritmias e, em alguns casos, obstruções no fluxo sanguíneo. A morte súbita ocorre por um ritmo cardíaco anormal, principalmente em um momento de grande esforço, como durante a atividade física.

A maioria dos casos é assintomática 

A doença apresenta sintomas que podem ser comumente confundidos com outras cardiopatias, aumentando o risco de falsos diagnósticos e morte súbita. Mas em 90% dos casos ela não dá nenhum sinal, ou seja, os pacientes são assintomáticos.

No entanto, ela pode ser diagnosticada facilmente a partir de alterações suspeitas no eletrocardiograma e no exame clínico, pois causa um sopro (som) característico. Outros exames ajudam a fechar o diagnóstico, como o ecocardiograma e a ressonância magnética do coração.

Uma vez feito o diagnóstico, é preciso avaliar o risco de morte súbita dessa pessoa, especialmente se ela tiver menos de 40 anos, a fase de maior probabilidade. Com base em dados como características da doença, sintomas e resposta aos medicamentos, um algoritmo elaborado pelos especialistas ajuda a nortear a conduta e permite saber quem pode se beneficiar dos diversos tratamentos, desde medicamentos e cirurgia até a colocação de desfibrilador implantável.

Os médicos explicam que também é possível fazer testes genéticos, que ajudam na identificação de familiares com a doença. “É uma doença crônica e o objetivo é controlar sintomas e reduzir risco de morte súbita”, ressalta Fernandes.

Por isso é essencial passar por uma avaliação médica antes de fazer qualquer atividade física, seja de alta intensidade ou não. “Também é fundamental fazer o rastreamento familiar para saber se há casos de morte súbita na família e em que fase da vida da pessoa ela ocorreu”, orienta Marcelo Vieira, do Einstein.

 

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Infarto aumenta o risco de desenvolver complicações de saúde a longo prazo 

Problemas como insuficiências cardíaca e renal, fibrilação atrial e até depressão são mais frequentes em quem sofreu um ataque cardíaco. 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Pessoas que sofreram um infarto têm mais risco de desenvolver outros problemas de saúde a longo prazo, como insuficiências cardíaca e renal, arritmias e até depressão, reforça um estudo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, publicado no Plos One. O trabalho analisou dados de 34 milhões de adultos, somando 145 milhões de admissões em hospital no período de nove anos, entre 2008 e 2017.

Entre os pacientes que tinham histórico de ataque cardíaco, quase um terço desenvolveu a insuficiência renal e a cardíaca, 22% tinham fibrilação atrial – uma arritmia grave – e 38% morreram no período avaliado. Além disso, problemas como Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença arterial periférica, hemorragia e depressão foram mais frequentes nessas pessoas.

“Isso não surpreende porque, após o evento agudo de infarto, há o comprometimento do músculo cardíaco, que, dependendo da extensão, pode ser grave o suficiente para causar sequelas”, diz o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein.  

O infarto ocorre quando um coágulo interrompe o fluxo sanguíneo dentro de uma artéria, provocando a morte de células do miocárdio, o músculo do coração. Sem o tratamento correto, ele pode comprometer o funcionamento da bomba cardíaca, levando à insuficiência no bombeamento. Também pode haver a dilatação das câmaras cardíacas, o que favorece o aparecimento de arritmias, como a fibrilação atrial.

A longo prazo, os danos podem prejudicar o funcionamento dos rins pelo baixo fluxo de sangue. “Por isso, falamos que ‘tempo é músculo’”, diz Segalla. “Quanto mais precoce a desobstrução da artéria, melhor a preservação do músculo cardíaco.”

Segundo os autores, os estudos existentes costumam se focar mais nos riscos a curto prazo – como a possibilidade de um segundo infarto. Para eles, os dados obtidos de vários desfechos em um longo período, em uma amostra representativa da população, reforçam a necessidade de monitoramento desses pacientes para controlar os impactos na saúde física e mental.

“Os medicamentos e o acompanhamento da reabilitação cardiovascular são pilares que diminuem as taxas de mortalidade”, diz o médico do Einstein. As medicações visam manter o colesterol, a glicemia e a pressão arterial sob controle. Também são receitados antiagregantes plaquetários para evitar a formação de novos coágulos. Mas, explica o especialista, é essencial adotar mudanças no estilo de vida, incluindo prática de atividade física, alimentação saudável, controle do peso e do estresse, sono de qualidade e abandono de vícios, como o cigarro.  

Tratamentos são variados 

Os tratamentos para o infarto evoluíram muito, mas, quanto antes for diagnosticado, melhor o resultado. Na fase aguda, costuma-se fazer a angioplastia, em que o vaso é desobstruído com um stent – uma espécie de tubo que mantém a abertura –, inserido por cateterismo.

Quando há várias lesões, pode-se optar pela cirurgia de revascularização ou angioplastia levando em conta fatores como idade, tipo e local das lesões, além da presença de comorbidades. “Independentemente da estratégia, o tratamento medicamentoso e a mudança do estilo de vida são cruciais para a sustentabilidade da intervenção realizada”, reforça Segalla.

Fonte: Agência Einstein

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