Adolescência

Saúde

Saiba como escolher a melhor atividade física para crianças e adolescentes

Os pequenos precisam ter contato com o máximo de opções possíveis para que possam escolher a modalidade de sua preferência e manter o hábito na idade adulta

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Não é novidade que a prática regular de atividade física contribui para a prevenção de uma série de doenças crônicas não transmissíveis, entre elas diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer, além de reduzir o risco de eventos cardiovasculares, como infarto. Movimentar-se também é essencial para a prevenção de sobrepeso e obesidade, um problema cada vez mais comum entre crianças e adolescentes no mundo todo.

Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o plano global Let’s be active (Vamos ser ativos) para estimular a prática de exercícios e reduzir a prevalência do sedentarismo entre adolescentes e adultos em 10% até 2025 e em 15% até 2030. Em relação à obesidade infantil, o Ministério da Saúde aponta que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos têm obesidade, assim como 7% dos adolescentes na faixa etária dos 12 aos 17 anos.

Mas escolher a melhor atividade física para os filhos nem sempre é uma tarefa simples. Muitos pais ficam em dúvida sobre qual exercício é o mais recomendado para a criança e, às vezes, acabam impondo a prática de esportes que eles gostam, sem levar em consideração o gosto dos pequenos. “A melhor atividade física para a criança é aquela de que ela gosta”, resume o ortopedista pediátrico Nei Botter Montenegro, da Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo. Para que isso aconteça, a criança precisa ter contato com o máximo de opções possíveis.

Em crianças e adolescentes, a prática de exercícios proporciona benefícios como melhora da aptidão física, além de vantagens em índices cardiometabólicos, ósseos e cognitivos. Contribui também para evitar a obesidade, melhorar o desempenho acadêmico e a função executiva e ainda aliviar sintomas de depressão. De acordo com Montenegro, quando a criança é exposta a uma atividade física ou a um esporte desde cedo, muito provavelmente ela vai gostar de fazer aquilo, introduzir a prática em sua vida e continuar como uma pessoa ativa na idade adulta.

“Se a obrigamos a fazer uma atividade que ela não tenha prazer, pode desanimar, desistir e deixar de fazer outras modalidades pela experiência frustrante naquele esporte que não agradou. Isso pode ter um impacto negativo, resultando no abandono da atividade e no desincentivo à atividade física, mesmo na idade adulta”, alerta o médico.

Para meninas, atividades terrestres

Segundo Montenegro, as meninas devem ser incentivadas desde pequenas a praticar atividades físicas terrestres para melhorar o ganho de massa óssea e, com isso, evitar osteoporose na idade adulta. Isso porque elas terão uma vida hormonal mais curta que a dos meninos. “Pode ser dança, algum esporte de quadra ou o que quiser. Isso é necessário porque existe um ganho de massa óssea proporcional à atividade que a criança fizer”, explica o ortopedista.

Montenegro cita um estudo realizado no Japão em que pesquisadores compararam as atividades físicas praticadas por crianças que viviam na cidade com as que habitavam zonas rurais no país. O grupo que mais ganhou massa óssea foi o da cidade, justamente porque caminhava mais.

“No Japão, eles têm o conceito walk to school [“andar para a escola”]. Essa era a única diferença entre os grupos. As crianças da cidade iam a pé para a escola, enquanto as da zona rural iam de ônibus por ser muito longe. Ao final do estudo, a massa óssea das crianças que caminhavam era 20% maior do que as do campo”, relata.

Alongamentos ajudam a evitar lesões

Outro fator importante para atividades físicas e esportivas em crianças e adolescentes é a prevenção de lesões. Estatisticamente, a ginástica artística, o atletismo e as lutas marciais são as modalidades com maior número de lesões, segundo Montenegro. Machucados também são frequentes em esportes com maior impacto ou contato físico, caso de futebol, boxe, handebol e basquete.

A principal recomendação para evitar lesões é fazer o aquecimento muscular por pelo menos 10 minutos antes do início das atividades esportivas, assim como o alongamento. “O alongamento é fundamental e muitas crianças e adolescentes não o fazem antes de começar uma atividade. Muitas vezes, os próprios educadores físicos não avaliam a necessidade isso”, alerta o ortopedista, ao frisar a importância de passar por uma avaliação com um profissional de saúde antes de começar qualquer tipo de modalidade.

O médico também faz um alerta sobre os excessos, que podem levar ao aumento de lesões. De acordo Montenegro, se os esportes forem somente por lazer, sem competição, não existe limite de dias ou horas para a prática. Mas, se a criança ou o adolescente estiver treinando para ser um atleta, a recomendação é manter uma frequência de, no máximo, três treinos por semana, acrescidos por um dia de competição, com intervalo de um dia entre eles para a recuperação física. “Muitas crianças são incentivadas em excesso pela família, determinando um exagero no número de dias e de modalidades praticadas”, observa.

E a musculação?

Outra dúvida comum dos pais é sobre a prática de exercícios para ganhar força, popularmente chamados de musculação. Segundo Montenegro, adolescentes podem fazer esses exercícios, mas sempre com supervisão de um profissional de educação física, após a realização de alongamento e, preferencialmente, apenas com o peso do corpo.

“A criança e o adolescente estão em fase de crescimento. Eles possuem algumas porções dos ossos chamadas apófises, que são áreas de crescimento onde o osso está aumentando para receber músculos fortes. Nessas áreas, existe uma chance maior de haver uma lesão. Por isso é importante ser acompanhado por um profissional”, frisa.

O ideal para cada idade

Veja as atividades mais indicadas por faixa etária:

De zero a 2 anos: nessa fase, o bebê está em pleno desenvolvimento neuromotor. Ela começa a andar entre 9 e 18 meses (em média, aos 12 meses), mas ainda não fará atividade esportiva. A escolha da modalidade deve ser baseada priorizando o desenvolvimento individual, com caráter lúdico, como uma brincadeira. Um bom exemplo é colocar o bebê de barriga para baixo e estimulá-lo a rolar ou fazer aquela antiga brincadeira “serra, serra, serrador, serra o papo do vovô”.

A natação para bebês pode ser iniciada antes do primeiro ano de vida, mas não como esporte e sem a pretensão de que a criança nade. Importante: sempre com supervisão dos adultos. “A criança vai ter condição de aprender a nadar de verdade a partir dos 3 ou 4 anos”, pontua Montenegro. “A partir daí ela terá a capacidade eventual de sair de um afogamento, porque estará com uma melhor coordenação motora. Mas nem por isso vamos deixar uma criança sozinha dentro da água.”

Dos 2 aos 5 anos: nessa fase, as crianças começam a desenvolver pequenas habilidades: aprendem a correr, pular, brincar de pega-pega e esconde-esconde. Em geral, já frequentam a escola e começam a praticar aulas mais regulares, como judô e balé. Apesar de ainda terem a habilidade motora limitada (com reações de equilíbrio pouco definidas), o aprendizado acontece por erros e acertos.

“Por exemplo: a criança não entende as regras para jogar futebol, mas ela entende que precisa chutar e correr atrás da bola. Uma hora ela vai acertar o gol e vão comemorar. Nessa idade ela compreende instruções simples, mas sempre com aspecto de brincadeira”, explica Montenegro. Ele ressalta que o ideal é enfatizar as habilidades fundamentais da criança, evitando a competitividade e priorizando o desenvolvimento individual.

Crianças de 6 a 9 anos: ocorre a melhora do equilíbrio e das reações automáticas. Segundo Montenegro, os esportes praticados com regras flexíveis são mais bem aceitos, o que permite a prática no tempo livre das crianças, com poucas instruções e mínimo de competição.

Começam a ser indicadas escolinhas de futebol, esportes de quadra, judô e natação. “A criança começa a entender melhor as regras, como o que é uma falta, o que ela pode ou não fazer em campo. Elas têm o pulmão pequeno, então não têm capacidade aeróbica para correr um campo inteiro de futebol, por exemplo, mas com pequenas adaptações são capazes de aprender a jogar basquete, vôlei, handebol”, orienta o ortopedista.

Crianças de 10 a 12 anos e adolescentes: a habilidade motora melhora, e a criança desenvolve estratégias em grupo para praticamente todos os esportes coletivos de quadra, tênis, artes marciais e outras modalidades. É nessa fase que ela entende melhor as regras do jogo e a tática (como em que lugar deve ficar no campo para receber a bola e atingir o objetivo do jogo). “A criança passa a compreender a função dela num time. Como ela já foi exposta a várias atividades, nesse momento ela vai, talvez, escolher um esporte para se dedicar e se especializar, de acordo com seu gosto e seu desempenho”, afirma o médico.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

O uso recorrente de videogame pode elevar o risco de perda auditiva 

 

Os jogadores costumam se expor durante muito tempo ao som excessivo com o fone de ouvido; estudo dos EUA mostra que é preciso conscientizar os jovens sobre os riscos 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Jogar videogame pode aumentar o risco de perda auditiva ou desenvolver zumbido, já que as pessoas costumam passar muitas horas expostas a sons acima do que é recomendado, mostra uma nova revisão de estudos conduzida por cientistas da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A exposição sonora prolongada, ou mesmo única, a sons de alta intensidade pode causar lesões nas células ciliadas da orelha interna e danificar o sistema auditivo a longo prazo, causando zumbido, excesso de sensibilidade e até dificuldade de compreensão.

“As células da orelha interna que sofrem com o ruído elevado são neurônios. Elas podem ter um tempo de recuperação, mas, quando se estimula o ouvido com sons muito intensos, uma parte deles pode morrer e, aos poucos, o indivíduo vai perdendo aquela população de neurônios, que é finita”, explica Pedro Magliarelli, otorrinolaringologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “Aqueles que morrem não se regeneram e, por isso, a lesão auditiva é irreversível.”

Os jovens têm maior reserva de neurônios e, por isso, levam mais tempo para perceber os efeitos lesivos do ruído. Segundo Magliarelli, o problema é que, quando submetemos o ouvido a um som intenso, no início sentimos desconforto, mas aos poucos vamos nos acostumando e perdemos o parâmetro, dando a impressão de que o som não está tão elevado assim. “Os efeitos são cumulativos e serão notados muitos anos depois”, explica o médico. 

Segundo os autores do estudo, há pouca informação sobre o impacto dos games na saúde auditiva. Para isso, eles fizeram uma grande revisão de estudos, reunindo artigos que totalizaram mais de 55 mil pessoas. Os dados mostraram que os usuários costumam jogar, em média, três horas semanais com o volume quase no limite ou excedendo a exposição segura.

“O resultado é altamente relevante e o foco desse trabalho traz uma nova perspectiva de exposição prejudicial, que é pouco explorada e conhecida e, por isso, subestimada”, diz o especialista.

O uso do videogame durante longos períodos com um volume elevado pode ser um fator de risco modificável para prevenir a perda auditiva e, segundo os autores, é preciso priorizar as iniciativas de educação e conscientização nesse sentido.

Além disso, conforme o estudo, pode haver muitos casos de perda auditiva oculta, ou seja, que pode não ser detectada na audiometria (o exame que faz a avaliação da capacidade de audição).

“É difícil pensar que seu filho adolescente, em silêncio no quarto, pode estar ouvindo o som de um jogo em níveis elevados. Se considerarmos que uma pessoa joga pelo menos uma hora ou mais por dia usando fones de ouvido, é de esperar que o som esteja lesionando as células. Com o tempo, os sintomas podem aparecer”, explica o médico.

 

Qual o volume seguro? 

Segundo a OMS, sons acima de 75 decibéis podem provocar danos se houver uma exposição prolongada e rotineira. Para níveis de 85 dB, o limite são oito horas diárias. Esse valor equivale a entre 60 e 70% da capacidade dos fones de ouvido em geral – o volume máximo da maioria desses equipamentos fica em torno de 105 a 110 dB. Muitos aparelhos permitem ajustar para níveis seguros.

Para cada aumento de 3 dB, o limite cai pela metade. Assim, o tempo máximo diário de exposição a 100 dB é de apenas 15 minutos.

Ao usar uma fonte aberta, como alto-falante, o som se dissipa pelo ambiente e a intensidade nem sempre é a mesma, dependendo das condições e da distância.

Sons acima de 120 dB, como a turbina de um avião, causam dor no ouvido e são altamente lesivos.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Atividade física na adolescência reduz colesterol na idade adulta 

 

Estudo europeu mostra benefício de exercícios moderados e leves, incluindo caminhada e bicicleta; sedentarismo na adolescência aumenta os níveis de colesterol em 67% na faixa dos 20 anos. 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A atividade física praticada na adolescência, tanto leve quanto moderada, está associada a níveis mais baixos de colesterol em adultos jovens, sugere um novo estudo feito por pesquisadores das universidades de Exeter e Bristol, na Inglaterra, e Eastern Finland, na Finlândia.

Para a pesquisa, foram selecionados 792 participantes do Avon Longitudinal Study of Parents and Children, uma base de dados que acompanha crianças nascidas nos anos 1990 na cidade de Avon, na Inglaterra. Eles foram monitorados por um período de 13 anos e o objetivo dos autores era observar o impacto da atividade física e do sedentarismo nos níveis de colesterol ao longo do tempo.

Os voluntários foram avaliados dos 11 aos 24 anos, com exames em quatro momentos: logo no início, aos 15 anos, aos 17 e ao final do estudo. Em cada ocasião, os jovens foram orientados a usar um dispositivo na cintura, que mede a intensidade da atividade física, por sete dias. Também foram feitos exames e testes para avaliar os índices de colesterol e triglicérides, a pressão arterial e a composição corporal.

O estudo mostrou que o sedentarismo a partir dos 11 anos estava associado a níveis de colesterol 67% mais altos aos 24 anos. A atividade física, mesmo a leve – que inclui longas caminhadas, andar de bicicleta, dançar – foi inversamente associada às taxas de LDL (conhecido como colesterol “ruim”). No entanto, esse efeito não foi observado em jovens com sobrepeso ou obesidade.

“Um estilo de vida ativo está associado a baixos níveis de colesterol, mas os dados que mostram a relação da atividade física leve com índices lipídicos em crianças e adolescentes são escassos”, diz a cardiologista Fabiana Rached, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Além disso, um estilo de vida sedentário pode diminuir o nível do chamado colesterol bom, o HDL, que ajuda a remover o colesterol ruim e os triglicérides (gorduras) das artérias. “O sedentarismo [também] está associado a uma alimentação não saudável, ao sobrepeso e à obesidade, o que aumenta os níveis de LDL e triglicérides”, completa a especialista.

“Costumamos focar principalmente em atividade física moderada a intensa, mas precisamos promover todo tipo de atividade física reduzindo ao máximo o tempo ‘sedentário’, o que nos ajudaria a atenuar o risco de níveis lipídicos elevados e suas sequelas na população pediátrica”, avalia Rached.

Para os autores, a atividade física leve – como caminhar ou pedalar -, é uma forma de promover a saúde cardiovascular a longo prazo que pode ser facilmente inserida na rotina diária e não requer habilidades específicas.

Fonte: Agência Einstein 

 

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Saúde

Meninos de até 14 anos são os que menos se vacinam contra o HPV

Dados do Ministério da Saúde mostram queda na cobertura vacinal contra o vírus em meninos e meninas entre 9 e 14 anos, que têm direito a duas doses pelo SUS; imunização é essencial na prevenção da doença que pode evoluir para câncer. 

 

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

Há 10 anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece para crianças e adolescentes o imunizante contra o HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), a principal forma de prevenir contra a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) mais comum no mundo, associada ao desenvolvimento da maioria dos cânceres de colo de útero, entre outros tumores. Apesar da importância da vacinação para o combate à doença, dados no Ministério da Saúde mostram uma diminuição na cobertura vacinal em geral, especialmente entre os meninos.

Entre 2014 e 2023, 70,9% das meninas brasileiras receberam a primeira dose, enquanto apenas 54,3% delas foram imunizadas com a segunda dose. No caso dos meninos, o índice é ainda pior: 45,3% receberam a primeira dose, e apenas 27,7% a segunda. É importante ressaltar que a cobertura vacinal contra HPV não é calculada anualmente, como acontece com os demais imunizantes, pois a vacinação é feita em duas doses, sendo que a segunda pode ser aplicada no ano seguinte ou em outro momento. Por isso, os números do Ministério da Saúde são calculados pela soma das doses aplicadas desde a introdução da vacina até o ano vigente.

A vacina disponível no SUS previne contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus, os mais frequentes na população entre os mais de 200 tipos capazes de infectar a mucosa oral, genital e anal de homens e mulheres.

“A vacina quadrivalente está disponível gratuitamente nos mais de 38 mil postos de vacinação para meninas e meninos de 9 a 14 anos, pessoas com imunossupressão, o que inclui as que estão vivendo com AIDS, transplantadas e pacientes oncológicos de 9 a 45 anos também podem ser imunizados. No ano passado, a vacina foi incluída também para as vítimas de abuso sexual de 9 a 45 anos, homens e mulheres”, diz Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde. 

A vacina é produzida com proteínas que fazem parte da cápsula viral, ou seja, apenas com uma parte do vírus que age estimulando a imunidade e a produção de anticorpos para cada tipo de HPV. Assim, ela é uma vacina inativa e que, por isso, não é capaz de produzir doenças.

“Ela comprovadamente tem impacto na prevenção dos principais subtipos de alto risco de infecção, especialmente o 16 e o 18, que podem resultar em cânceres, especialmente o de colo de útero”, afirma Barreira, que também explica que a  vacinação contra o HPV deve acontecer durante a infância, porque é importante que o jovem esteja imunizado antes de iniciar a vida sexual.

As infecções provocadas pelos tipos 16 e 18 representam cerca de 70% dos casos de câncer de colo de útero no mundo. Pesquisas feitas no Reino Unido e na Suécia mostraram ainda que a vacina quadrivalente foi capaz de reduzir esse tipo da doença em mais de 80%. O Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV (POP-Brasil), realizado pelo Hospital Moinhos de Ventos, no Rio Grande do Sul, e financiado pelo Ministério da Saúde, revelou que o subtipo 16 é de alto risco e é o mais prevalente no Brasil.

Campanha de multivacinação

Para tentar aumentar a cobertura vacinal, o governo federal lançou a campanha de multivacinação que inclui o imunizante contra o HPV. Desde o início de 2022, uma série de esforços está sendo colocada em prática para a recuperação das altas coberturas e da cultura da vacinação no país. O intuito do Ministério da Saúde é resgatar na população a confiança nos imunizantes, evitar o retorno de doenças erradicadas e que o Brasil possa voltar a ser referência mundial no tema.

“A prioridade do Ministério da Saúde atualmente é aumentar as coberturas da vacina quadrivalente. A queda da cobertura vacinal contra o HPV nos últimos anos representa uma ameaça concreta à saúde de milhões de jovens brasileiros e pode levar a um aumento dos casos de infecção e cânceres evitáveis no futuro”, diz Barreira.

Quando se trata da rede privada de saúde, a vacina está disponível para todos os públicos de 9 a 45 anos de idade. “Em alguns casos, como uma mulher de 50 anos que acabou de se separar e vai começar a se relacionar com outras pessoas, o imunizante também pode ser recomendado”, diz a ginecologista, obstetra e sexóloga do Hospital Israelita Albert Einstein, Renata Bonaccorso Lamego.

O serviço particular de saúde também oferece a versão nonavalente. “Ela foi aprovada em 2018 pelo FDA (agência reguladora ligada ao departamento de saúde dos Estados Unidos), mas só chegou ao Brasil em março de 2023 por causa da pandemia. Ela é indicada para o mesmo público e tem o acréscimo da proteção de mais cinco tipos do vírus, o que elevou a proteção contra o câncer de colo de útero de 70% para 90%”, explica a médica.

Maioria das mulheres sexualmente ativas tem HPV

O HPV é um grupo de vírus que infecta a pele e as mucosas, principalmente, através de contato sexual, seja pelo contato da pele com pele ou pele com mucosa. Por isso, o contágio pode acontecer mesmo com o uso do preservativo, o que faz com que mudanças comportamentais no que diz respeito às relações sexuais e a vacinação sejam muito importantes.

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. A maioria delas costuma ser transitória e é eliminada naturalmente pelo sistema imune, com regressão entre seis meses e dois anos, após a exposição, sem causar maiores problemas. Em alguns casos, no entanto, surgem verrugas na região genital e na boca.

Se a doença não for tratada adequadamente, pode desencadear lesões que são precursoras de câncer, principalmente o de colo de útero. Ao contrário do que muita gente imagina, o HPV também pode afetar homens.

“Nesse caso estima-se que a prevalência seja de 30% e o contágio está associado a câncer de pênis, ânus, boca e orofaringe”, conta a ginecologista do Einstein. Nas mulheres, além do câncer de colo de útero, ele pode estar por trás de câncer de vulva, vagina, boca e orofaringe. Além da vacinação, as mulheres devem fazer o papanicolau, exame ginecológico preventivo, para identificar as lesões precursoras do câncer do colo do útero. Inicialmente, o exame deve ser feito anualmente. Após dois exames seguidos (com um intervalo de um ano) apresentando resultado normal, o preventivo pode ser feito a cada três anos.


Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Quase 4 em cada 10 adolescentes brasileiros pulam o café da manhã

Refeição é considerada a mais importante do dia; estudo aponta que as meninas são as que mais deixam de se alimentar nesse período.

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Quase quatro em cada dez adolescentes (de 11 a 19 anos) brasileiros não tomam o café da manhã, segundo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O levantamento aponta que as meninas nessa faixa etária são as que mais “pulam” a refeição. Ainda de acordo com a pesquisa, a irregularidade no consumo de alimentos pode ter um impacto negativo, uma vez que os hábitos formados na juventude tendem a ser mantidos na fase adulta.

O café da manhã compõe o grupo das três principais refeições diárias (que inclui também almoço e jantar), sendo considerada a mais importante do dia: “é uma refeição fundamental porque quebra o jejum noturno e fornece ao corpo a energia necessária para iniciar o dia. Isso é importante para manter os níveis de glicose no sangue estáveis, evitando a fadiga e a irritabilidade. Além do mais, o café da manhã é uma oportunidade para ingerir nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e fibras, que desempenham um papel vital na saúde geral”, alerta a nutricionista Serena del Favero, do Hospital Israelita Albert Einstein.

O estudo constatou que a exclusão do café da manhã da rotina é maior em estudantes de escolas particulares. Os autores sugerem que isso pode ocorrer pois algumas prefeituras oferecem o café da manhã como parte da oferta de alimentação em escolas públicas por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Segundo eles, essa pode ser uma possível justificativa para essa diferença e apontam que o programa é uma importante estratégia para melhoria da alimentação dos estudantes.

O fato de as meninas serem as que mais pulam a primeira refeição do dia preocupou os autores, que relatam que entre as possíveis explicações está a maior preocupação em relação à autoimagem corporal, muitas vezes ligada à prática de dietas restritivas e, consequentemente, à omissão de refeições.

A nutricionista concorda que o dado apresentado pela pesquisa é um sinal de alerta: “é bastante preocupante, pois o hábito de pular o café da manhã entre as adolescentes meninas pode estar relacionado a uma preocupação com a aparência física. Alguns adolescentes, influenciados por padrões de beleza percebidos ou pressões sociais relacionadas à imagem corporal, pulam o café da manhã na tentativa de controlar ou perder peso e isso é um problema”, alertou.

Como foi feita a pesquisa

Para chegar aos resultados, os pesquisadores usaram a base de dados de estudantes do 9º ano do ensino fundamental, que participaram da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) dos anos de 2012 e 2015. A PeNSE é uma pesquisa populacional realizada por meio de uma parceria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com o Ministério da Saúde para conhecer a situação de saúde de estudantes de escolas públicas e privadas. Ao todo, foram avaliadas informações de 109.104 estudantes em 2012 e, em 2015, 102.301. A pesquisa constatou a omissão do café em 38,1% dos alunos em 2012 e 35,6% em 2015.

Para avaliar a alimentação dos jovens, foi feito um questionário em que eles tinham que responder à seguinte pergunta: “Você costuma tomar o café da manhã?”. Entre as opções de respostas, estavam: “Sim, todos os dias”; “Sim, 5 a 6 dias por semana”; “Sim, 3 a 4 dias por semana”; “Sim, 1 a 2 dias por semana”; “Raramente”; “Não”. Os pesquisadores consideraram a omissão do café da manhã quando o aluno afirmou consumir a refeição menos de cinco dias por semana.

Além disso, os autores apontam que os comportamentos alimentares inadequados, com alimentos menos saudáveis, têm sido cada vez mais constantes entre os adolescentes brasileiros – o impacto disso é a relação direta com o aumento dos casos de sobrepeso e obesidade e da presença de fatores de risco cardiometabólicos, entre eles, o desenvolvimento de doenças crônicas como o diabetes.

Má alimentação impacta no desempenho escolar

Segundo a nutricionista do Einstein, a alimentação inadequada tem um impacto no desempenho cognitivo. “O café da manhã para os adolescentes é tão importante quanto para os adultos. O consumo regular dessa refeição está relacionado a um melhor desempenho acadêmico em adolescentes. A falta de nutrientes essenciais pode afetar a concentração, a memória e a capacidade de aprendizado”, afirmou.

A especialista diz que os resultados do estudo refletem a experiência observada na prática clínica, com adolescentes relatando não tomar o café da manhã com justificativas diversas. “Normalmente, alegam falta de tempo, rotinas matinais agitadas, com compromissos escolares e atividades extracurriculares”, disse.

Outro problema observado é que os adolescentes têm hábitos alimentares irregulares, ou seja, simplesmente não têm o costume de comer pela manhã. “Isso pode ser influenciado por padrões alimentares familiares, falta de incentivo para a importância do café da manhã, ou até mesmo questões individuais relacionadas às preferências alimentares”, disse Serena del Favero.

Os resultados do estudo são importantes para criar uma base sólida para desenvolver estratégias de educação em saúde. “Alguns adolescentes podem não estar cientes dos benefícios à saúde associados ao consumo regular do café da manhã. Assim, identificar lacunas no conhecimento sobre a importância do café da manhã permite direcionar campanhas educativas específicas para abordar essas questões”, completou.

Fonte: Agência Einstein

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