Opnião

Experimento n°3

Pause. Leia com atenção. Preste atenção naquilo que realmente faz. Anda de ônibus e mexe no celular, mas qual atividade é a mais importante? Andar de ônibus ou mexer no celular?

Respire. Está de máscara? Respire. Quanta eternidade há em um segundo sem digitar nada no Instagram. Poste aquilo que faz, escreva aquilo que pensa. Meme, risada, próximo vídeo: agora é um cachorro correndo na neve. Ele derruba um americano que de tão branco é rosa, empacotado em roupas como uma linguiça suína.

Muito fofo, mas não gerou risada. Arrasta o dedo.

Mudança de cenário. Preste atenção naquilo que ouve e vê. Olhe, pois ainda é tempo, e ainda há árvores no mundo. Carros, poluição sonora: eis o som do progresso. Para, atravessa a rua, para e atravessa a avenida. No fone ainda toca alguma música. Anda numa calçada abandonada, irregular. O peso do passo de um indivíduo medíocre é o mesmo peso de toda a humanidade. Mexe uma perna, mexe a outra, pois é assim que se anda em direção a alguma coisa. A vida é sobre transitar? Parece-me que a vida moderna é sobre trânsito, esse da buzina e da fechada, do xingo de janela semiaberta num dia de chuva fina num carro que não tem ar-condicionado.

Leia, mas leia com atenção. Livro com palavrão na capa vale a pena? A pena, não sei se vale, mas vale muito dinheiro ao autor. As redes sociais permitiram que o discurso raso e mediano tomasse conta da realidade total. A realidade é só mediana. Há aqueles que lutam contra isso e dão uma profundidade ao todo, há aqueles que só são medíocres. Olha-me nos olhos com olhar iluminado e parece que abrirá a boca para dizer uma análise interessantíssima. Não: mais mediocridade. Uma opinião rasteira e vazia sobre o momento político. Parece que regurgita a opinião de alguma celebridade qualquer do Instagram, sequer procurando imitar a fala de alguém que,pelo menos, saiba do assunto.

Pause, leia. Não entendeu nada? Nem o título, nem o texto? Não importa. A coluna é sobre mostrar as brincadeiras possíveis da linguagem. A vida não é só tbm, obg e vc. Há um universo vasto de palavras que não terminam com três letras, nem estão numa tela de celular. Moral da história? Nenhuma. Não sou guru de ninguém.

 

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