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Entrevista Wilson Lazaretti

A animação ‘História Antes de uma História’ é o primeiro longa-metragem do valinhense Wilson Lazaretti, que há mais de 40 anos se dedica a essa arte. A obra levou 13 anos para ser concluída. A animação apresenta a trajetória de Dr. K, um senhor que gosta muito de caminhar. No decorrer de uma de suas andanças, acaba encontrando vários objetos que o ajudarão a desvendar os grandes mistérios da técnica da animação. Como um desenho animado aprende a ‘andar’? O que acontece quando uma personagem é criada sem um coração? O que animar primeiro: um ovo ou uma galinha?
Em pouco mais de uma hora, o personagem principal do longa-metragem mergulha no mágico mundo da animação, ao lado do menino Matias, da menina Laurinha e da galinha Melodia, que vão conhecer e experimentar na prática as diversas etapas e instrumentos necessários para dar vida a uma história. Em entrevista à Folha de Valinhos, Lazaretti falou sobre a obra, os desafios da animação e reflexões sobre a profissão.
Folha de Valinhos: Folha de Valinhos: Wilson, como surgiu a ideia dessa animação?
Wilson Lazaretti: Dedico-me à animação há mais de 40 anos e é o desejo de todo animador se jogar numa grande obra para que a vida artística tenha sentido, e, assim como na vida biológica, só vai ter graça se chegarmos ao fim dela.
Quais foram as dificuldades de produzir essa obra, já que demorou 13 anos para ser concluída?
Se não houver problemas não adianta fazer filmes. Os problemas só surgem antes de resolvê-los. Depois que passam, você nem os percebe e parece que tudo foi um mar de rosas. De fato, foi um tempo muito longo, mas temos de admitir que cada um anda a seu tempo.
Como incentivar alguém a seguir profissionalmente na área da animação?
É uma obrigação de todos nós transmitirmos o que aprendemos, não só dos professores. O preparo dos profissionais para o setor é o que vimos fazendo ao longo destes anos, mas esta preparação é para que a nova juventude deste tempo sinta e exerça a arte da animação de forma independente, como verdadeiros artistas, com compromissos com seu tempo e sua obra. A animação “industrial” ou de “linha de produção” não tem nada a ver com a nossa produção. Disney pode ser grandioso, mas não é nosso objetivo.
É possível dizer que o Brasil está pronto para novas gerações de profissionais da animação? Se sim, por qual motivo? Se não, o que falta para isso acontecer?
A resposta é sim e não. Tem muita gente talentosa trabalhando a todo vapor na área de animação em todos os setores, seja ele industrial ou independente, e todos têm capacidade de sobreviver de sua arte. Isso é o mais importante. Todo mundo sabe que precisamos de uma melhora substancial em nossa economia para que o dinheiro seja melhor distribuído. Precisamos atingir um patamar razoável para que todos possamos gozar dos benefícios culturais à altura de nosso merecimento.
Como você seguiu por esse caminho profissionalmente? Qual sua fonte de inspiração?
Na verdade, nunca quis ser animador. A coisa foi acontecendo em minha vida. Nunca tive um “sonho” (my dream); minha vida teceu-se sempre de realidade. O que passo para os alunos: este sonho é um objetivo que talvez a gente não alcance. É muito mais perigoso um sonho frustrado do que a dura realidade. Isso não lhes tira a sensibilidade, pelo contrário, acentua-a. Fonte de inspiração? Não existe. Passo o tempo todo me contextualizando com o meu trabalho e talvez posso dizer que a “fonte de inspiração” seja a minha prancheta de trabalho.
Quais estilos de animação você prefere? O que te chama atenção em uma animação?
Quando assisto a um filme de animação é como se fosse um pacote que abro em casa (pode ser em qualquer outro lugar). Desembrulhando-o, passo a ver e sentir os detalhes do autor e, logicamente, há uma identificação, a razão de gostar ou não. Gosto de todos os estilos de animação; por outro lado acho melhor dizer sobre o que não gosto. Por exemplo, não gosto de filmes estereotipados, que induzem ao consumo de qualquer coisa que seja.
Poderia deixar uma mensagem para o público de “História Antes de uma História”? E para aqueles que desejam trilhar um caminho parecido com o seu?
História Antes de uma História poderia ser uma grande obra que futuramente seria lembrada por algumas pessoas como sendo uma das obras mais sinceras que a animação jamais produziu, não fossem os defeitos que a obra contém, a falta de linearidade na condução da história e, sobretudo, folga na direção. Estes são apenas os conflitos pelos quais passam todos os autores sinceros.
Para quem quer seguir à frente: é um caminho difícil, sempre o será. Entretanto este legado é para que a vida tenha o sentido que queremos subtrair dela. Vejo meus alunos seguindo livre, traçando seus próprios caminhos, realizando suas obras. Agora pergunto: pode haver um professor mais feliz do que eu?
RAIO-X
Nascimento: Valinhos
Nome: Wilson Antonio Lazaretti
Idade: 64 anos
Profissão: Artista
História Antes de uma História, 78 minutos
Indicação: livre
Co-distribuição: Spcine e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Distribuição: Polifilmes
Luiz Felipe Leite
Repórter


