Opnião

As criancinhas do Brasil. Mas não só

Caro leitor, cara leitora, a origem do futebol moderno encontra-se na Inglaterra. De início, era um passatempo, uma diversão nas escolas e as classes tinham 10 alunos e 1 bedel, daí o número de 11 jogadores. De atividade recreativa, para modalidade esportiva, para arte e por fim, tal como conhecemos hoje, o futebol tornou-se um negócio.
Ainda quando era futebol arte, o seu rei, em seu discurso improvisado após o chute que selou seu milésimo gol, proferiu em tom emocionado sábias palavras. Ele pediu para que não se esquecessem das criancinhas necessitadas. No livro “Pelé: Minha vida em imagens”, ele aponta que falara das criancinhas porque em Santos, alguns meses antes do milésimo gol, ele viu alguns garotos tentando roubar um carro. Essa era a preocupação que estava por trás do seu discurso, mesmo sendo aquele 19 de novembro de 1969 o aniversário de sua mãe. Chamado por alguns de demagogo, a verdade é que todos viram o milésimo gol, mas poucos ouviram sua mensagem. Ah se o tivessem ouvido! Ah se o tivéssemos ouvido. Ah se o ouvíssemos agora.
Estudos recentes comprovam que a desigualdade social começa já ainda no período da gravidez, aumentando no berço. Na vida adulta, o que teve uma infância pobre concorre em luta desigual contra aquele que teve infância rica – pais ou escolas que estimularam o seu desenvolvimento, a sua maturação, etc. Nos primeiros anos de vida, a atividade cerebral é intensa e, bem estimulado, o cérebro forma de 700 a 1000 novas conexões neurais por segundo. Se dentro desse período não se recebe o estímulo ideal, o futuro adulto já não terá uma capacidade executiva tão grande quanto o outro. E a consequência é uma desigualdade irreparável. As criancinhas viraram adultos. Os adultos viraram pais das criancinhas. Mas o poeta já cantou que seus pais são crianças como você.
Em tempo: ainda falando em futebol, uma homenagem ao “Capita”, Carlos Alberto Torres, autor do gol mais bonito já visto e filmado no futebol. Não pelo gol em si, mas por toda a jogada que culminou no gol da seleção do tri, a maior que o planeta já viu. Mas o Capita hoje descansa em paz, pois já estava desgostoso com o futebol-negócio mesmo. Para quem vivenciara o futebol-arte, ser comentarista do futebol-negócio não era prazeroso. Fará falta. Pessoas sinceras e comprometidas com a sua própria verdade fazem falta nos comentários. O que vemos proliferar são miríades de “oba-oba”, de frases prontas e medo de magoar um calouro ou um profissional por dizer a verdade.

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