Opnião

Você pode me ouvir?

É melhor ser surdo, do que ouvir certas coisas! Quem nunca ouviu essa frase, em conversas com amigos e familiares? Porém existe uma parcela da população que preferiria ouvir, certas coisas a ser surda. Dado do IBGE de 2010 aponta para números de quase dez milhões de deficientes auditivos no país, números que relacionam a surdez severa em quase dois milhões de pessoas.
Vivemos nos dias atuais, num cenário, de garantia de direitos das pessoas, as minorias recebem um tratamento com um olhar mais inclusivo, que o vivido em anos passados por muitas pessoas, que foram segregadas do convívio social e familiar.
Quando o assunto é pessoa com deficiência, uma parcela dessa população vê os seus direitos violados, e o pior, observa o silêncio de uma sociedade, que não da ouvidos para aquelas que vivem no silêncio.
A começar pela referencia a quem nasceu ou perdeu a audição, essas pessoas são tratadas de forma pejorativa e sem informações corretas. E comum ouvirmos na grande mídia e nos bate papos, referencias como: O surdo – mudo, o surdinho ou o mudinho.
Na realidade, mudo é quem não consegue falar, e o surdo pode falar dependendo da sua percepção auditiva e do quanto ele aprendeu da língua portuguesa. O fato dessas pessoas não falarem é por que não ouvem os outros, nem sua própria voz por isso da confusão em rotular surdo de mudo.
Podemos observar isso com mais clareza, quando um surdo, chora, ri ou tosse, caso fosse mudo não emitiria esses sons. Assim podemos dizer que não existe surdo – mudo e sim surdo, ou uma pessoa com perda adutiva.
A realidade encontrada por essas pessoas, em nosso convívio diário, chega a ser uma afronta aos Direitos Humanos.  Para uma pessoa surda, ir ao banco, farmácia, posto de saúde, passar por um exame de rotina, ou apenas participar de uma reunião de pais na escola de seu filho, significa viver um grande martírio e ser incompreendida pelos ouvintes,
Nossa sociedade dita moderna, ainda não aceitou a inclusão da pessoa surda e vive de Leis que estão apenas no papel e bem guardadas para que não possam ser ouvidas.
A língua portuguesa, é a segunda língua do surdo, a primeira língua é a LIBRAS (Língua brasileira de sinais), o que muitos não sabem é que a LIBRAS, é uma língua brasileira de sinais, se um surdo for para a Argentina por exemplo, lá teremos a Língua argentina de sinais e isso vale para outros países.
Existem muitos surdos, que não aprenderam a Língua Portuguesa, apenas a LIBRAS, por isso é de suma importância, que se coloque interprete de LIBRAS, em programas de televisão, cinemas, recepção de órgãos públicos, hospitais, delegacias e lugares privados de uso comum como bancos e Shopping Center.
Há 14 anos a comunidade surda busca seus direitos baseados na Lei 10.436/02, que foi regulamentada pelo Decreto 5.626/05, que detalha a aplicação da Língua Brasileira de Sinais e há década houve a implantação do PROLIBRAS – Exame Nacional para certificação no uso e ensino de LIBRAS.
As escolas bilíngues para surdos precisam avançar pelo Brasil e fazer com que essa parcela da população tenha acesso digno à educação. Afinal só com uma educação de verdade, sem maquiagem, encontrarem pessoas surdas sendo protagonistas de suas vidas e não apenas coadjuvantes e vivendo na dependência de terceiros para manifestarem suas vontades e desejos.
Este ano entrou em vigor a Lei 13.146/15 Lei Brasileira da Inclusão, que em seus artigos garantem direitos a comunidades surda principalmente no tocando a LIBRAS em ser sua primeira língua e o Português de forma escrita sua segunda língua.
As tecnologia assistiva, os diversos aparelhos de audição super modernos, os implantes cocleares, que são realizados, tudo isso deu uma qualidade a vida para essas pessoas, que num passado recente, não existia, dando possibilidade de uma comunicação de mão dupla.
Porém o maior desafio de nossa sociedade é trabalharmos, nossas cidades para receber, essa parcela da população, com os ouvidos bem abertos e atentos, para ouvirmos os surdos, que estão em nosso cotidiano e espalhados por este Brasil, com os ouvidos do coração.

Os respeita – los, em primeiro lugar como seres humanos e pessoas dignas de uma vida saudável, em comunidade.

Vagner Alves, radialista, Consultor em Acessibilidade, formado em Administração pela Faculdade Anhanguera de Valinhos e pós-graduado em Gestão Pública pelo INPG

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