Opnião

Lava Jato abriu a torneira

A Operação Lava Jato chegou ao ponto mais contundente na sexta-feira, 4, com uma operação da Polícia Federal na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta fase investiga se empreiteiras e o pecuarista José Carlos Bumlai beneficiaram Lula por meio do sítio em Atibaia e o tríplex no Guarajá.
A diligência provocou novamente uma onda de manifestações articuladas pelos movimentos Vem Pra Rua e Brasil Livre. A cadeia de protestos deve atravessar mais de 300 cidades no Brasil neste domingo, 13. As reivindicações são as mesmas: impeachment da presidente Dilma Rousseff, apoio à Operação Lava Jato e ao juiz federal Sérgio Moro e o fim da corrupção.
Desde 2013, o sentimento de indignação ressurgiu nos brasileiros com o aumento da tarifa de transporte público, fazendo com que o Movimento Passe Livre, considerado apartidário, convocasse uma série de manifestações nas cidades em que o valor da passagem sofreu reajuste. A frase “não é só pelos 20 centavos” virou um mantra entre os manifestantes que questionavam os investimentos para a realização da Copa do Mundo no ano seguinte e o combate à corrupção. Os governantes recuaram e congelaram o reajuste naquele instante.
As manifestações atuais trazem o carimbo partidário liderado essencialmente por eleitores do candidato derrotado na eleição de 2014, Aécio Neves. O entrosamento é ratificado quando o senador aparece na televisão convocando a sociedade para as manifestações, o site e as páginas em redes sociais de seu partido dão voz grossa para os protestos.
O debate entre apoiadores de um governo indenfensável que dia após dia dá sinais de que o rumo foi perdido há muito tempo, seja na condução econômica ou política, contra aqueles que desde o resultado final da eleição exigem o impeachment de Dilma aflora um sentimento do povo do “nós x eles”. A divisão de ideologias e de quem votou em quem é colocada como prova de fogo na sequência de manifestações.
A Operação Lava Jato tem grande responsabilidade neste momento ao lado da cobertura midiática. Grandes empreiteiros viraram suspeitos e a possibiidade de sentarem no banco dos réus virou realidade. No entanto, o aparato de 200 policiais e a cobertura televisiva representaram um excesso que não fortalece a própria operação. A espetacularização da notícia vitimizou o investigado e diminuiu a legitimidade do ato judicial.

O país vive um momento de turbulência, mas também está tendo uma chance para que a assepsia política saia de um sonho

As manifestações programadas para este domingo precisam ter a consciência de uma unidade. Os protestos e cobranças precisam ser em cima de grupos políticos independentes de opções de voto e ideologias. O ex-presidente Lula precisa ser cobrado e investigado pela relação com empreiteiras. A presidente Dilma Rousseff precisa ser cobrada pelo caminho que o país está tomando econ0micamente e abrir as portas de seu gabinete para compadres políticos duvidosos. O governador Geraldo Alckmin precisa ser cobrado pelo superfaturamento de merenda escolar, do cartel do metrô, as viagens de helicóptero sem compromissos políticos e os sigilos de documentos. Aécio Neves precisa ser cobrado por direcionar verba para emissoras de rádio com seu nome, pelo aeroporto em sua propriedade até agora abafado.
A direção dos protestos deste domingo não podem seguir um único caminho. O pior mal que estes manifestantes e a imprensa podem causar é dar o juízo de valor antecipado antes do fim de todas as investigações e que todas as provas estejam concretas. O país vive um momento de turbulência, mas também está tendo uma chance para que a assepsia política saia de um sonho.

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