Opnião

EDITORIAL: Racismo estrutural

Por definição, racismo estrutural é o racismo que não seria uma anormalidade ou "patologia", mas o resultado do funcionamento "normal" da sociedade. Esse talvez seja um de nossos maiores desafios no tocante à questão da diversidade.

Amanhã, 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra, data em homenagem a Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes negros do Brasil que lutou pela libertação do povo contra o sistema escravista e morreu em 1965.

A data é uma contraposição ao dia 13 de maio, data em que foi assinada a Lei Áurea pela Princesa Isabel, e tem por propósito ressaltar o protagonismo das pessoas negras na luta contra o racismo e a discriminação e propor a igualdade social, inclusão de negros na sociedade e a valorização da cultura afro-brasileira.

Em 2020 a questão racial ganhou o mundo após o episódio da morte de George Floyd, afro-americano de 40 anos, asfixiado por um policial, nos Estados Unidos. Tal violência desmedida gerou ira e furor naquela sociedade e o povo saiu às ruas, não apenas para protestar pela morte de mais um negro, mas para pedir um basta contra a violência policial, o preconceito e a discriminação racial.

O movimento “Vidas negras importam” tomou conta dos Estados Unidos e chegou ao Brasil, onde o racismo estrutural, que muitas vezes aparece através de uma piada, de um comentário na fila de um supermercado, de um xingamento na arquibancada de um campo de futebol, na desconfiança dentro de uma loja de departamentos ou ainda através de uma mensagem distribuída via mensagem de WhatsApp por um grupo de jovens.

Neste sentido, não precisamos nos deslocar para outro espaço geográfico dentro do globo terrestre para percebermos a presença do racismo estrutural.  Valinhos, que viveu há poucos dias um episódio de racismo praticado por alunos de uma tradicional escola do município, tem em sua estrutura social o racismo estrutural enraizado.

Historicamente, além do bárbaro período da escravidão aqui vivenciado nas fazendas de café que deram espaço ao território que hoje conhecemos como Valinhos, nós valinhenses negamos a presença do negro em nossa formação cultural. Nos orgulhamos de narrar nosso história a partir da chegada dos imigrantes italianos por volta de 1888, para substituir a mão dos negros libertos do sistema escravagista nas fazendas produtoras de café.

Talvez seja esse o mais gritante de nossos erros históricos. Erro esse que precisa ser reparado com urgência, pois colaborou e ainda colabora para que o racismo estrutural aqui fixasse ‘residência’. Assim, o episódio dos alunos do Colégio Porto Seguro, não deve ser aceito como um fato isolado, em que pese a convivência pacifica entre brancos e negros em nossa cidade. Mas nem sempre o pacifismo quer dizer tolerância, aceitação ou equidade, mas sim uma forma de manter uma equidistância entre nossas diferenças externas e corporais.

Quem não conhece a história, não entenderá nunca a dívida que o Brasil tem com os negros após mais de 300 anos de escravidão (período colonial entre 1500 e 1822 e Imperial 1822- 1889), período em que foram subjugados pelo olhar e ação do branco e tratados como animais, sem nenhum direito.

É preciso avançar, não apenas no reparo, mas na abolição em definitivo do chamado racismo estrutural de nossa sociedade que é cometido por preconceito, discriminação racial e racismo, três faces diferentes de um asqueroso fantasma que nos assombra.

Nesta luta, aqui cabe um destaque importante – embora não saibamos do seu avanço – mas foi o lançamento, em maio deste ano, do projeto “Protagonismo e Equidade na Escola”, que tem por objetivo desenvolver a temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, como preconiza a Lei Federal 10.639 que estabelece a obrigatoriedade da “inclusão da história e cultura afro-brasileira no currículo das escolas brasileiras”, aprovada em 2003.

Nessa batalha também merece reconhecimento o trabalho e a militância da professora e gestora educacional Solange Aparecida da Silva, que antes de seu falecimento em março deste ano, juntamente com a socióloga Claudia Garcia Costa, organizou e lançou a obra “Educação Antirracista: Infâncias, Resistência e Combate ao Racismo”. Nessa mesma trincheira destacamos também a Comissão de Igualdade Racial da OAB de Valinhos, do trabalho da Associação Cultural Afro Brasileira de Valinhos e do Coletivo da Marcha Zumbi dos Palmares de Valinhos.

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