Opnião
Berço de refugiados de uma guerra
Valinhos é berço de imigrantes. A construção da história dos 120 anos, que serão comemorados no próximo dia 18, passa por uma linha do tempo que atravessa italianos e japoneses. Cada povo trouxe de suas origens a cultura e o sobrenome dos membros familiares que ficaram na terra natal e adotou Valinhos como um segundo lugar para se viver.
Italianos e japoneses ajudaram a projetar Valinhos na agricultura com a plantação de figo e goiaba, na indústria com o surgimento da Gessy Lever, que começou com o italiano José Milani até se tornar uma multinacional. A cidade também abriga uma grande quantidade de migrantes. Sotaques e costumes de várias regiões do Brasil se confundem no territóiro valinhenses. De paranaenses e piauienses.
Agora, a cidade está recebendo refugiados de uma guerra. A família de Yehya Mousa já é refugiado desde 1948 com a criação do Estado de Israel. Palestinos que estavam na Síria foram obrigados a sair por causa da guerra civil que o país atravessa contra o governo de Bashar al-Assad.
Antes de conhecer Valinhos, Mousa chegou a São Paulo, morou em Brasília e retornou para São Paulo para morar em um prédio abandonado e ocupado por sem tetos. Lá, teve contato com o médico da Santa Casa e também palestino Dr. Abdel Latif Hassan, que realiza atendimento voluntário no mesmo local para os refugiados instalados no edifício.
Depois de passar por uma cirurgia na Santa Casa de Valinhos, Mousa começou a amadurecer a ideia de morar em Valinhos. O resumo: já está na cidade há três meses e com ele trouxe mais cinco familiares que encontraram na cidade uma chance de reconstruir as suas vidas arruinadas pela guerra. Este é o tema de reportagem especial que se inicia nesta semana na Folha de Valinhos contanto a história desta família e de seus membros na guerra civil da Síria.
Dados divulgados na segunda-feira, 9, pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare) do Ministério da Justiça apontam que o Brasil abriga 8.863 refugiados de 79 nacionalidades. O maior número de reconhecimentos envolve sírios, angolanos, colombianos, congolenses, libaneses, iraquianos, liberianos, paquistaneses e de pessoas provenientes de Serra Leoa. O número representa um aumento de 127% entre 2010 e 2016.
Além do aumento no contingente de reconhecidos, o Conare registrou forte expansão nas solicitações de refúgio. Nos últimos cinco anos, esses pedidos subiram 2.868%, passando de 966, em 2010, para 28.670, no ano passado.
A maior parte dos refugiados que buscam abrigo no País possui idade entre 18 e 59 anos, em várias situações formadas por famílias compostas também por crianças e adolescentes.
O Brasil adota uma política de auxílio aos refugiados diferente da que é praticada na França, Alemanha, Grécia, Turquia. A imagem de Aylan Kurdi, de 3 anos, morto em uma praia na Turquia após o naufrágio de duas embarcações mostrou o tamanho da crueldade da crise migratória.
Segundo organizações, como a Anistia Internacional e a Comissão Europeia, o mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro a setembro de 2015, e 2.643 pessoas morreram no mar, aponta dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).
Valinhos novamente abre as suas portas para ser berço de imigrantes, mas desta vez daqueles que estão em busca de uma chance de retomar e reconstruir a vida.