Opnião
Agosto Lilás: o lado invisível da violência contra a mulher
O Agosto Lilás marca a campanha de combate e conscientização da violência contra a mulher. Muitas pessoas acreditam que a violência acontece somente quando é fisicamente visível e deixa marcas, no entanto, alguns tipos são silenciosos e muitas vezes passam despercebidos pela vítima. Isso porque ela está inserida no ciclo de abusos, o famoso bate e assopra, que tem a finalidade de confundi-la: em alguns momentos se sente amada, em outros, rejeitada.
Uma das violências mais difíceis de identificar é a psicológica, pois acontece sem que a vítima perceba. Essas condutas abusivas costumam ocorrer, por exemplo, em datas comemorativas. Após ouvir sobre a violência psicológica em uma de minhas palestras, uma participante, que sempre gostou de celebrar seus aniversários, compreendeu a dinâmica que viveu por muitos anos com o marido. Lembrou que, ainda nos dias que antecediam a data, surgia um clima de tensão. De acordo com ela, o marido parecia incomodado, reclamava da falta de dinheiro e a conversa sempre acabava em desentendimento. Por fim, a comemoração do aniversário que ela tanto adorava, passava sob conflito e estresse.
Por se tratar de uma data importante, a violência psicológica será perpetuada e ficará registrada. Inconscientemente, fará a vítima se sentir mal em todos os outros aniversários. Essa violência é tão cruel que, mesmo invisível, deixa marcas para o resto da vida. O prazer do abusador é que o outro tenha uma vida infeliz.
No caso de uma amiga que se divorciou, a violência psicológica foi somada à violência patrimonial, atingindo duas filhas que recebem pensão do genitor. Após alguns anos separada, a mulher engatou um namoro que prosperou. O novo casal fazia juras de amor em redes sociais e se mostrava muito feliz. Foi quando o genitor, empresário, portador de um grande patrimônio e de uma vida extremamente luxuosa, resolveu parar de custear as necessidades das filhas.
Geralmente, a felicidade da ex-companheira dói aos olhos dos medíocres, que desejam mantê-las encarceradas, sozinhas e infelizes, mesmo após o divórcio em comum acordo. Essa conduta não costuma ser lembrada como violência, no entanto, não apenas é, como pode ser considerada grave. Imagine que, sem dinheiro suficiente para pagar escola, aluguel e outras atividades das filhas, a mulher vai ao supermercado e, já sabendo que seus recursos financeiros são inferiores aos custos, sentirá ansiedade e angústia. Essa aflição se reproduzirá todas as vezes em que precisar efetuar pagamentos.
A conduta do pai não apenas prejudica o desenvolvimento das crianças, como a saúde física e emocional da mulher, que tende a desenvolver doenças psicossomáticas desencadeadas pelo estresse. Como consequência, os comportamentos ansiosos e traumas são inseridos de alguma forma na sociedade, onde essa família disfuncional necessitará de cuidados médicos, psicólogos, medicamentos, etc. Por fim, um único genitor é capaz de promover graves problemas emocionais e financeiros à sociedade, que pagará a conta.
É momento de dar visibilidade às violências cotidianas que costumam ser aceitas e normalizadas. O Agosto Lilás é um chamado a todos para identificar, denunciar e combater abusos domésticos, onde “ninguém quer meter a colher”. A sociedade precisa entender que, quando uma mulher é maltratada pelo companheiro, tais atitudes refletem nos filhos e acabam sendo perpetuadas. Combater a violência contra a mulher é papel de todos nós.
Gab Saab é especialista em psicologia jurídica, graduanda em Direito, palestrante e autora do livro “Abuso Guia Prático: como identificar e se libertar de relacionamentos abusivos.”