Alternativa

70 Anos da Colônia Japonesa em Valinhos: Um legado de tradição e inovação na agricultura

Desde 1954, a Colônia Japonesa em Valinhos transformou a região da Fazenda Macuco em um polo agrícola e cultural. Foi pelas mãos dos japoneses que Valinhos se tornou a maior produtora de goiaba “in natura” do Brasil e impactou na criação da Expogoiaba. As famílias japonesas impactaram profundamente a economia e as tradições locais, mantendo vivas suas raízes e promovendo a integração da comunidade.

Há 70 anos, Valinhos recebeu as primeiras famílias de agricultores japoneses que se instalaram na região da antiga Fazenda Macuco e ali criaram a Colônia Japonesa, transformando-a em um grande celeiro de produção de frutas. Os japoneses tiveram grande importância na formação da matriz cultural de Valinhos e influenciaram a economia local e a agricultura, com grande impacto no maior evento turístico da cidade, a Festa do Figo, que a partir de 1996 passou a dividir espaço com uma fruta que eles introduziram na fruticultura de Valinhos: a goiaba, que ganhou sua própria exposição dentro do evento, a ExpoGoiaba.

A Folha de Valinhos destaca em sua edição desta semana a história de um grupo de japoneses que migrou para Valinhos na década de 1950 e criou uma das colônias japonesas mais ativas e atuantes no interior de São Paulo. Na mesma época, preocupados com a manutenção das tradições da cultura japonesa e a difusão de seus valores, fundaram a Associação Nipo-Brasileira do Macuco e, através dela, passaram a promover festas, encontros, bailes, jantares e torneios esportivos para integrar as famílias e compartilhar suas vivências.

“O pessoal era engajado e determinado”, disse Hélio Yonemura, atual presidente da Associação Nipo-Brasileira do Macuco, cujos pais foram uns dos primeiros a chegar à região. A Associação foi fundada pelas 31 famílias pioneiras, e sua sede social, o Kaikan, foi inaugurada em 1959, tendo Izumi Sasaki como seu primeiro presidente. Segundo Yonemura, hoje a Associação Cultural Nipo-Brasileira do Bairro Macuco conta com a participação de 32 famílias, responsáveis por manter as tradições através de eventos e reuniões como Ano Novo, Dia das Mães e Dia dos Pais.

A Associação Nipo-Brasileira ganhou força desde sua criação e cresceu na região, sendo uma das preocupações das famílias a educação dos filhos, dado que a região era carente de escolas, com a mais próxima a mais de oito quilômetros de distância. “Por iniciativa da Associação, foi doado à Prefeitura um terreno de 200 metros quadrados para a construção da sala emergencial da Escola do Macuco e, posteriormente, a doação de mais 658,5 metros quadrados para a ampliação da escola, inaugurada em 1970 e que recebeu o nome de Tomoharu Kimbara”, afirmou Yonemura.

Yonemura lembra que sua família veio da região de Borborema, sendo seu pai de Araraquara, passando pela Fazenda Santa Luzia, Campinas, Fazenda Rio das Pedras, Barão Geraldo, e arrendou terras da Família Torrezin em Valinhos até adquirir o próprio sítio.

Breve História

Segundo relatos históricos e documentos, a colônia começou a ser formada em 9 de janeiro de 1954, quando as famílias Hirayama e Yonemura se estabeleceram na então criada Fazenda Macuco. Durante aquele ano, outras famílias, em busca do sonho de uma terra fértil para cultivar e manter suas tradições, chegaram à região: Miyoshi Wada, Izumi Sassaki, Shigueo e Moryo Yamashita, Motoyuki Sugahara, Ryoiti Kawakami, Minoru Tanaka, Uti Yamada e Nakamura.

A primeira iniciativa agrícola foi com o cultivo de tomates, devido ao retorno financeiro imediato. Foi um período de experimentação e descobertas, pois a produção de tomates na região foi tão forte que influenciou os preços no Mercado da Cantareira, em São Paulo. No entanto, essa cultura desgastou rapidamente o solo, levando os japoneses a diversificar suas plantações.

A goiaba logo se destacou como uma opção, pois na cidade de Mogi das Cruzes, a colônia japonesa já obtinha sucesso com seu cultivo, apesar da fruta não ter grande valor comercial na época. A família Kusakariba então trouxe as primeiras mudas para Valinhos, uma decisão acertada, pois a partir dos anos 1980, com melhoramentos contínuos e o esforço das famílias japonesas, a produção começou a se destacar, e a região do Macuco ganhou o título de maior produtora de goiaba “in natura” do Brasil.

Durante esses 70 anos, os japoneses deixaram um impacto significativo na agricultura de Valinhos, mudando a forma de cultivo da terra, inicialmente com leguminosas e hortaliças, e introduzindo não apenas a goiaba, mas também outras variedades de frutas como siriguela, atemoia, dekopon, pêssego, pitaia e figo, tornando Valinhos um dos principais celeiros da fruticultura em São Paulo.

Com a criação da Expogoiaba em 1996, essas frutas ganharam maior visibilidade no mercado e entre os visitantes da Festa do Figo. A valorização comercial da goiaba na década de 1980 transformou Valinhos na maior produtora de goiaba “in-natura” de mesa do Brasil.

Hélio Yonemura, presidente da Associação Nipo-Brasileira do Macuco

De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, Valinhos conta atualmente com 155 propriedades rurais (317 hectares) cultivando goiaba, com uma produção de 2.609 toneladas por safra, movimentando anualmente R$ 4,5 milhões.

O presidente da Associação Nipo-Brasileira destaca uma das principais dificuldades enfrentadas pelos japoneses tradicionais da colônia: a escassez de mão de obra, já que muitos filhos de produtores abandonaram a agricultura para ingressar no mercado de trabalho. “Este é um problema enfrentado por todos os agricultores da região. Com as atuais políticas que desestimulam a iniciativa privada e a educação precária, tudo se torna ainda mais difícil. Tenho amigos que têm empresas e estão vivenciando essa mesma questão”, desabafa.

Associação Nipo-Brasileira do Bairro Macuco

A Associação foi fundada em 1954, tendo Izumi Sasaki como primeiro presidente. Participaram de sua fundação as seguintes famílias: Shigueo Yamashita, Yasutaro Kawakami, Noboru Hirayama, Chiga Ishiga, Kaniti Itami, Kiyoshi Nakajima, Riichi Tanaka, Tomoharu Kimbara, Mário Kimpara, Shoshichi Hanaoka, Masaichi Hayashi, Takeo Nakamura, Yoshito Matsutani, Sadao Utiyamada, Toshiaki Xilaiama, Shigueru Kusakariba, Tajashi Kusakariba, Satoji Yussa, Tatsukichi Yamasaki, Toshio Yotsuyanagui, Tarumitsu Yamamoto, Kikunosuke Tada, Shunzu Sakuma, Katoci Yonemura, Ryoichi Kawakami, Masao Hatayama, Miyoichi Wada, Minoru Tanaka, Kuraichi Kusse e Shinkiti Hashimoto.

Os presidentes da Associação incluem Renato Yoshida, Atsushi Toryi, Yoshinobu Kusse, Jorge Kusse, Teruo Kusakariba, Sérgio Matsutani e Enrique Yamazaki.

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