Opnião
A folga do Rei Momo
Se Estivéssemos em temos normais, o samba e as marchinhas estariam a todo vapor nas publicidades de TV, Redes Sociais e no rádio. Os sambódromos de São Paulo e do Rio com os ingressos esgotados, e toda uma expectativa para o desfile das Escolas de Samba. Já a praça Castro Alves e o Pelourinho em Salvador na Bahia preparados para o desfiles dos blocos e dos Trios Elétricos, pelas ruas de São Paulo e do Rio blocos dos mais diversos segmentos e uma multidão decidida a brincar o carnaval.
Aqui em Valinhos, que há alguns anos não realiza seu carnaval com as famosas escolas de samba, a festa de momo acabou sofrendo adaptações e o carnaval de pequenos blocos já estava caindo no gosto dos valinhenses.
Mas, quis o destino que o ano de 2021 fosse – assim como foi 2020 – marcado pela pandemia do novo coronavirus que, em sua segunda onda vai fazendo milhares de vítimas fatais mundo afora. E, assim como aconteceu com o Réveillon de São Paulo e Rio, com a Prova de São Silvestre e a Festa do Figo em Valinhos, eventos que reúnem milhares de pessoas, o carnaval também foi cancelado.
Lembrando que em 2020 o carnaval em Veneza, na Itália, foi um grandes facilitadores da proliferação do coronavirus por grande parte da Europa e devastador para muitas cidades italianas, justamente num momento em que o mundo sabia muito pouco sobre a pandemia e a Covi-19 (doença causada pelo coronavirus) bem como também tentava descobrir meios de conter sua disseminação e proliferação.
Tudo era novo e, há quem sustente que no Brasil o vírus, detectado oficialmente em 26 de fevereiro de 2020, já circulava por aqui desde dezembro de 2019, mesmo assim o carnaval correu solto de norte a sul.
Sabemos que o setor de eventos e turismo, e todas as suas cadeias produtivas, que geram milhões de reais em renda e empregos, sofrem ainda mais com a sua não realização. Mas, uma economia sem humanos saudáveis também vai ao colapso e, neste momento a vida e a saúde da população precisam estar acima de todos os demais interesses, dentre eles o econômico.
O carnaval está para o Brasil como o Vaticano está para a Itália, a Torre Eiffel para a França e o basquete e o Super Bowl para os Estados Unidos e para se ter uma ideia do tamanho e a importância dessa cultura, basta lembrar que os desfiles das Escolas de Samba do Rio e São Paulo aconteciam ininterruptamente desde 1932, ou seja há 89 anos.
Provavelmente o ‘break’ de Momo neste 2021 vai trazer no seu bojo muitos benefícios também, dentre eles o repensar a forma do fazer o carnaval em todas as suas diferenças; vai nos permitir entender que estética e a criatividade, elementos fundamentais em qualquer carnaval, também podem ganhar outra utilização nestes quatro dias de ‘retiro da humanidade’, sobretudo o repensar nossa conexão com o essencial do mundo e da humanidade.
Fato é que, entre os dias 13 e 16 de fevereiro de 2021, pela primeira vez na história o carnaval deixa de acontecer no Brasil por motivo de força maior. Também é fato, por tudo que vemos, lemos e ouvimos sobre a pandemia, vacinação, protocolos de segurança, ainda não nos transformou em humanos melhores.
Basta ver o que está acontecendo com a vacinação – neste momento de escassez – quando os que de fato deveriam ter prioridade na imunização são “deixados para traz”. Cenas lamentáveis de enfermeiros que enfiam agulhas mas não injetam a vacina nos idosos; servidores públicos dando carteirada e profissionais que não estão expostos ao vírus durante suas atividades laborais, comemorarem o fato de terem sido vacinados nas redes sociais, muitos deles furando a fila sem dó e nem piedade, pois dentro da casa deles os pais trancafiados com mais de 70 anos também aguardam, ordeiramente sua vez chegar.
Não, não teremos um novo normal. O brasileiro, como vemos em muitos ‘memes’ que rodam pelas redes sociais é um povo que precisa de fato ser estudado, sobretudo no seu nefasto egoísmo. A folga de momo talvez alivie a presença de muitos foliões pelas ruas das cidades Brasil afora, mas como todo mundo já sabe, desde o mês passado, muitos pensaram em formas, mecanismos e no famoso jeitinho de burlar a regra, nem que para isso precisem colocar em risco a vida de seus amigos, familiares e vizinhos.