Opnião

Ferrovia: 150 anos

O dia 31 de março em Valinhos deveria ser uma data comemorativa das mais importantes, tal qual o dia 28 de maio, data em que celebramos o aniversário de Valinhos. Contudo, a data, não fosse por nós lembrada e também fruto de pesquisa da Associação de Preservação Histórica de Valinhos – APHV – já teria caído no esquecimento.

Há 150 anos, no dia 31 de março de 1872, dava-se início ao tráfego ferroviário entre a ‘Vila de Vallinhos’ e a cidade de Jundiaí e a inauguração da estação de trens da pequena vila, que passou a ter um importante meio de transporte meses antes de Campinas, ponto final da obra iniciada pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, dois anos antes, no dia 15 de março de 1870 e que contou com a mão-de-obra de 1500 homens.

Relatos históricos provam que Valinhos já existia antes mesmo da ferrovia, mas foi o seu advento que deu impulso ao desenvolvimento da pequena vila, impulsionada que foi pela pujança da economia cafeeira que dominava as terras onde hoje conhecemos como Valinhos. A estação de Valinhos no auge da produção cafeeira chegou a ser a quarta estação em embarque de sacas de café que tinham como destino o porto de Santos.

A ferrovia foi o principal meio de comunicação e transporte entre o século XIX e XX, as notícias da província chegavam pelos trens que paravam na primitiva estação, cuja o prédio existe até hoje ali mesmo na Rua 12 de outubro, ao lado do túnel que faz a conexão entre o centro da cidade e a Vila Santana. Foi o trem que trouxe para Valinhos as centenas de imigrantes italianos que, após passarem pela Hospedaria dos Imigrantes na capital, eram despachados para as fazendas de café do interior paulista.

Enquanto a primitiva estação de Samambaia, mais perto do centro de Campinas, não era entregue, os campineiros durante meses tinham que se dirigir a Valinhos para tomar o trem até Jundiaí. A inauguração de Samambaia só aconteceu no mês de agosto daquele longínquo 1872.

A ferrovia impulsiona o desenvolvimento da Vila que, no dia 28 de maio de 1896 é elevada à Categoria de Distrito de Paz. Importantes episódios marcam essa fase final do século XIX, como a reunião da Câmara Municipal de Campinas que teve que ter sido transferida às pressas para a primitiva estação em função do agravamento da epidemia de febre amarela naquela cidade no ano de 1891.

Mas porque não celebramos tão importante data em nossa cidade? Porque o dia 31 de março não consta de nosso calendário de comemorações apesar das confirmações dos registros históricos? Em que pese ser importante olharmos para o futuro, olhar o passado e enaltecer aqueles que contribuíram de uma forma ou de outra para nossa história é garantir às atuais gerações que a infraestrutura e os benefícios de que desfrutam hoje não são frutos do acaso, mas sim do esforço de homens e mulheres que desbravaram nossa região.

Importante destacar que todo nosso complexo ferroviário – incluindo a casa onde funcionou a primitiva estação – e onde hoje funciona o Museu Municipal ‘Fotógrafo Haroldo Pazinatto’  é patrimônio histórico tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – CONDEPHAAT – mas que carece de uma melhor atenção do poder público local, sobretudo em manter essa história sempre viva, uma vez que há projetos em andamento com o objetivo de reativação da malha ferroviária.

A iniciativa é louvável, vez que o modal ferroviário, que poderia ser a solução mais econômica, sustentável e segura acabou sendo tratado com descaso, não apenas em São Paulo, mas no Brasil de modo geral.

O novo sistema de trens de passageiros chamado de Trem Intercidades, ou TIC, como vem sendo chamado, irá novamente conectar o interior à capital paulista. O TIC prevê viagens expressas com paradas de 50km ou 200km. Os trens deverão ainda ter ar-condicionado, Wi-fi, serviço de bordo e velocidade acima de 120 km/h. A concessão terá prazo de 30 anos e deve investir cerca de R$ 7 bilhões que incluem melhorias na Linha 7-Rubi.

Esse é o futuro, que só está sendo possível porque há mais de 150 anos alguém sonhou e ousou a realizar o traçado da ferrovia e suas respectivas estações.

 

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