Opnião

Não aceitar a intolerância

Amanhã, 20 de novembro, comemoramos o Dia da Consciência Negra. A data em Valinhos é celebrada oficialmente desde 2001, sendo que é feriado municipal. Mas é a partir de 2011, com a promulgação da Lei 12.519, pela então presidente Dilma Rousself, que o Brasil oficializa em todo o território o Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra. 
A data faz referência à morte de Zumbi dos Palmares em 1695, o primeiro homem negro a fazer resistência ao regime escravagista. O Brasil foi o último país no mundo a abolir a escravidão e isso só em 1889.  Essa dolorosa fatura de quase 400 anos ainda persegue a sociedade brasileira em pleno século 21 e a data foi criada para que os brasileiros possam refletir sobre os efeitos colaterais desse período e o quanto de preconceito ele acabou por se enraizar em nossa cultura.
O Dia da Consciência Negra deve também servir para o combate à intolerância de qualquer natureza, seja ela, religiosa, étnica, política ou social. Neste mundo dominado pela alta tecnologia que nos torna seres humanos menos prudentes com nossos atos, palavras e ações, especialmente através das redes sociais, os atos de  intolerância estão sendo disseminados numa velocidade jamais vista.
A eleição presidencial de 2014 acabou por descortinar um Brasil dividido, assim como agora acontece com os Estados Unidos pós eleição de Donald Trump. Brasileiros se “estapearam” pelas redes sociais, destilando todo tipo de ódio, preconceito e intolerância, especialmente contra os nordestinos.
As eleições municipais deste ano trouxeram para as cidades a mesma matriz de intolerância, com a diferença que no local a distância física e geográfica entre as pessoas muitas vezes se dá ao simples fato de atravessar uma rua, onde de dentro de uma casa o cidadão inventa mentiras, compartilha, comenta o que não sabe e comete as maiores aberrações verbais contra seu semelhante que se encontra na casa ao lado ou de frente para a sua e, pior, muitas vezes, covarde como é comum em seres humanos desta natureza, fazem isso utilizando perfis falsos, especialmente no Facebook e, ao raiar do dia, na maior cara de pau e com a aura do homem ou mulher mais santo do mundo encontra esse vizinho que acabou de detonar nas redes sociais e lhe endereça um bom dia, acompanhado do mais tosco sorriso. 
Vivemos num mundo estranho, que está se derretendo moralmente. A tecnologia que é nossa aliada em muitos avanços e conquistas, especialmente na ciência e na medicina, acabou por se tornar, para uma grande parcela da humanidade, um instrumento de sadismo. 
Os smartphones, sim esse pequeno e aparentemente inofensivo equipamento, está destruindo famílias e levando pessoas a cometer suicídio. Isso porque alguns seres humanos estão vendo nele a oportunidade de revelar seu lado mais perverso. A intolerância racial muitas vezes escondida no âmago de muitas pessoas encontra no smartphone o meio ideal para destilar,  de fato, o que pensa e o que acha daquele semelhante, que na verdade não se assemelha a ele em função da sua cor de pele.
Em Valinhos, terra colonizada por italianos no final do século 19, a história da escravidão nunca foi pesquisada ou contada. Mas, sim, tivemos aqui, quando ainda éramos uma parte do território de Campinas, grandes fazendas – Candinho, Espírito Santo, Tapera – que se utilizavam da mão de obra escrava. Foi a Abolição da escravidão que possibilitou aos italianos ocuparem o lugar dos escravos  nas fazendas de café e, mais tarde, com a crise de 1929, adquirirem partes dessas propriedades e aqui dar inicio à produção do Figo Roxo. Valinhos, por mais que tenha tido influência da colonização italiana, também tem matizes desse período em suas terras e que direta ou indiretamente influenciaram em nossa cultura e isso não podemos negar.
Mais que celebrarmos nossas semelhanças e repudiarmos todo o tipo de intolerância, amanhã será um dia para cultivarmos em nós o espírito da tolerância e da paz. 

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